Capítulo 2

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Abro os olhos lentamente, enquanto os barulhos das batidas repetidas martelavam meus ouvidos. Suspiro, me sentando na cama, o notando que o barulho vinda da minha porta, coço os olhos, me espreguiçando. Enquanto lentamente me levantava e me dirigia a porta de entrada.

— Que demora, já estava quase indo embora — A loira protesta, adentrando sem autorização em minha casa

— Se eu soubesse que era você, teria deixado isso acontecer — provoco, fechando com toda a força que eu podia a porta, suspirando, e me virando para a mulher que com cara de nojo, analisava cada detalhe da minha sala

— São nessas condições que você vive? Não esperava muito... Mas isso aqui está caindo aos pedaços

Suspiro mais uma vez, e me jogo no sofá, a olhando pelo canto dos olhos e logo me pronuncio

— Diz logo o que você  veio fazer aqui e vaza! — Sou rasa e direta. A vejo virando-se pra mim, e jogando sua bolsa de grife no sofá

— Você ainda pergunta? Sua cara está estampada em todos os jornais como a maior suspeita do caso. Não faz ideia do quanto deixou a mamãe decepcionada. Nós nunca esperamos muito de você mesmo, mas envolvimento em um crime brutal é um pouco demais irmãzinha...

— Jura? Ainda tinham decepções para gastar? Ah, por favor Rose, se eu fosse culpada estaria na prisão. Eu não matei ninguém! — Digo, já com a paciência se esgotando

— Não é isso que os jornais estão dizendo! — Retruca, e suspiro

— Os jornais nunca disseram que você é uma baranga, e isso não deixa de ser verdade -Brinco com um sorriso no rosto — Nem sempre eles falam o que deveriam falar

— Eu prefiro ser uma baranga do que ser uma vadia fracassada como você. Olha sua vida, um lixo! Não é boa em nada que faz, não tem um trabalho descente, não tem um diploma, nem marido ou filhos você tem. Um fracasso total que vive trancada em um apartamento imundo a base de medicamentos controlados pra não se matar! — Ela jogava sem nenhuma piedade as palavras para mim

— Você aprendeu direitinho com a mamãe — Brinco mais uma vez, e a loira fica ainda mais irritada por não conseguir alcançar seu objetivo: Me ofender e humilhar — Já deu seu recado, agora cai fora!

Ao terminar a frase ouço mais batidas na porta, suspiro profundo ao perceber que não teria paz no meu fim de tarde. Me levanto preguiçosamente, e abro a porta. Franzir o cenho, foi tudo que eu consegui fazer ao ver Jung, o vizinho do lado parado com uma caixa de pizza nas mãos.

— Desculpe o atraso, amor. O trânsito estava horrível! — Ele diz, já entrando sem pedir autorização. Olho para o homem confusa, enquanto lentamente fechava a porta. O que diabos era dessa vez? Ele está tentando me ajudar?

— Tudo bem amor, eu sabia que demoraria um pouco! — Entro na onda, jamais perderia a oportunidade de sair por cima da minha irmã, nem que seja uma vez.

— E você  deve ser Rose, estou certo?

Ele diz estendendo a mão para minha irmã, que estava tão confusa quanto eu. Como ele sabia o nome dela?

— Você é... namorado dela? — Diz cumprimentando o mesmo 

— Não está óbvio? — Afirmo, me sentando no sofá, o homem se senta do meu lado em seguida.

— E o que você faz? Vende bugiganga no centro?

— Soou meio racista, eu deveria matar ela? — O homem resmunga para mim, arregalo os olhos para ele, que apenas sorri — Eu só estou brincando

— Não brinca com essas coisas quando eu estou sendo acusada de homicídio — Resmungo ainda mais baixo, esboçando um falso sorriso para minha irmã

— Na verdade, eu sou pediatra, e eu não sou chinês, minha condescendência é coreana.

— Pediatra? — Ela olha de cima e franzi o cenho — E por que namora a minha irmã? Você conhece a história dela?

— Tanto quanto conheço a sua. Como está aquela moça... Como era mesmo o nome dela? Ah, Madeline — Ele diz, e eu coloco a mão sobre a boca para impedir que uma gargalhada soasse alto na sala. — Vocês viraram um trisal, ou você apenas aceitou que seu marido te traia com a secretária? Quantas vezes foram mesmo, amor?  — ele indaga me olhando — Cinco ou nove vezes?

— Quem é você, como ousa falar dessa forma comigo? — A moça esbraveja furiosa

— Você realmente acredita que ele mudou? Ou só finge não saber das traições? Você tá sabendo que não  é mais só com a secretaria né? É também com a babá, com as empregadas. Mas o dinheiro dele deve falar bem mais alto que esses detalhes idiotas não é? — Aquele sorriso estava lá novamente, e dessa vez eu não estava segurando a risada. Eu estava séria, e uma pergunta insistia em martelar em minha cabeça: como ele sabia de tudo aquilo? E com os mínimos detalhes, tais que nem mesmo eu sabia.

— Se ousar falar dessa forma mais uma vez, você não tem ideia do que pode lhe acontecer! — o sorriso do homem cresce, e ele levanta-se lentamente

— Não... se VOCÊ ousar tentar rebaixar, humilhar ou falar de uma forma tão hostil com a minha namorada de novo, não tem ideia do que pode lhe acontecer. Você não sabe mesmo o que eu sou capaz de fazer pra proteger aqueles que zelo...

Um silêncio ensurdecedor tomou conta do ambiente. Enquanto eu não sabia o que estava acontecendo ali, minha irmã se encontrava extremamente ofendida, e o vizinho, totalmente dominante de toda a situação.

— Eu vou embora dessa espelunca... Parabéns, irmãzinha, conseguiu arrumar alguém tão podre quanto você! — Se exalta, pegando sua bolsa que estava do meu lado e saindo pela porta, a batendo rapidamente a seguir

— Como você sabia? — indago, e o homem vira-se pra mim, me olhando como se nada estivesse acontecendo.

— O mínimo que eu esperava era um “obrigada”

— Ah! é claro... Obrigada por invadir a minha casa e dar informações da vida íntima da minha irmã nos mínimos detalhes que nem eu mesmo sabia, sendo um completo desconhecido.

— Sim, eu sou um desconhecido pra você... porém você não é uma desconhecida pra mim. Eu te conheço bem, amor. Sei o quanto é diferente deles, sei do seu potencial

— Potencial para o quê exatamente?

— Para a arte mais bela que existe no mundo!  — Retruca sem nem mesmo esperar eu terminar a frase. — Mas não me pergunte que arte seria essa, pois você ainda não está preparada pra resposta.... Ah, e a pizza, comprei seu preferido. Agora eu tenho que ir

Diz, saindo também lentamente pela porta. Me deixando com uma cara de paisagem, e mil questionamentos na mente

O vizinho do ladoOnde histórias criam vida. Descubra agora