capítulo 7

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Uma lágrima escorre por meu rosto quando noto que aquela era a última tentativa de respiração vinda do homem que estava repousada sobre o chão. Aqueles olhos que antes implorava por socorro desesperadamente, agora estavam estáticos, mortos, paralisados. Prendo a respiração, quando Jung me fita seriamente. Aquele sorriso havia sumido, e ele me encara por alguns segundos, como se estivesse esperando eu dizer algo.

— Eu te implorei! — choramingava, encarando os olhos verdes mortos do cadáver em minha frente. — Por que o matou, Jung? Eu implorei pra não fazer isso! Você é tão sensível a ponto de querer matar uma pessoa que apenas te socou pelo calor do momento?

— Não o matei por ter me socado. Eu te disse, amor... Eu não gosto que toquem no que é meu. Eu realmente estava com raiva dele. Fez a minha arte parecer chula. Estava no lugar errado... na hora errada. — Ele diz, se ajoelhando e pondo a mão sobre os olhos do homem,  fechando eles em seguida. — Eu acho que você não gostava dele tanto assim... Você sabia que eu ia aparecer a qualquer momento, também sabia as coisas que eu sou capaz de fazer. E mesmo assim  você preferiu envolver ele no meio disso tudo mesmo sabendo dos riscos. O desespero a transformou em uma egoísta, ou apenas não se importava com o que poderia acontecer a ele?

Questionou-me. Levo meus olhos até minhas mãos, que tremiam exorbitantemente. E engulo em seco, ao notar que as coisas que Jung proferia não passavam de verdades. Eu havia o envolvido nisso tudo, mesmo sabendo dos riscos. Eu estava tão desesperada para me livrar da situação em que vivia que usei a pessoa que me amou desde o primeiro minuto que me viu, mesmo sabendo que isso poderia causar o fim dele... e foi exatamente isso que aconteceu.

— Eu estou certo, não é? Eu te disse, não somos tão diferentes assim. — resmungava, levantando-se lentamente.

 
— O que vamos fazer agora? Estamos em uma pensão. Não podemos deixar o corpo apodrecendo aqui! — Digo, me levantando da cama desesperada.

— Vamos nos livrar dele, de forma que não achem o cadáver. Agora você é cúmplice de um homicídio, querida.

Suspiro fundo, fitando seriamente a face amarelada do homem, que passa a mão pelos cabelos e sorri. Aquele maldito sorriso.

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Olho para cima, enquanto vejo o corpo enrolado em um lençol ser jogado com toda brutalidade pela janela. Olho para o cadáver emaranhado, e suspiro fundo. Pedindo perdão para Paulo internamente.

Eu havia descido as escadas, e notara que a senhora da recepção não estava mais ali. E com respiração acelerada eu corri ate o terreno baldio que se encontrava do lado do prédio, tal esse que era a vista da janela do quarto onde eu ficava.

 
— Agora vamos nos livrar dele! — A voz do homem me faz pular de susto. E com a mão sobre o peito eu respiro fundo.

 
— Não acredito que estou fazendo parte disso — murmuro, fitando o homem de baixo.

— É uma pena que você vai ter que fazer a parte mais chata do processo sem experimentar a mais divertida. Eu deveria ter deixado você o matar?

 Diz, sem me olhar. Enquanto arrastava o corpo até seu carro preto, que estava estacionado ali perto. Já se passavam das 00:00 e a rua se encontrava vazia, fúnebre. Não sei se pelo fato de eu estar ajudando um maníaco a esconder o cadáver de um amigo da época da escola que sempre foi apaixonado por mim, ou pelo fato do céu estar nublado, tornando a rua escura, dando lugar a neblinas que se espalhavam por todos os cantos. Talvez os dois.

Após dirigir por mais alguns minutos, Jung  estacionou o carro em frente a um barranco. Com um velho rio sujo abaixo. E me olha sorridente.

— Essa é  a forma mais prática de se livrar de um corpo… — Diz, saindo do carro, indo até o porta malas. Saio também em seguida, pondo as mãos na cintura.

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⏰ Última atualização: Jul 09, 2022 ⏰

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