Capítulo 1

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As imagens em minha frente passavam rapidamente, enquanto  minha mente viajava para outro mundo, sem ao menos ouvir os sons que saiam da TV em minha frente. Eu só conseguia pensar no ocorrido de ontem, o assassinato do meu feche havia saído em todos os jornais e maquetes da minha cidade. Um assassinato brutal e mistérios.

Levanto minha cabeça que estava apoiada no braço do sofá, me sentando desleixadamente no mesmo. E mais uma vez aquela sensação tomava conta do meu consciente. Um frio na espinha que arrepia todos os pelos do meu corpo, e a quase certeza de que eu estava, de alguma maneira, sendo atentamente observada por algo ou alguém. Olho ao redor, de uma forma sutil, e então pulo de susto com batidas fortes vindas da porta de entrada. Suspiro fundo, colocando a mão sobre o peito, e me levantando lentamente indo em direção a porta.

Ao abrir, minha surpresa é maior que minhas expectativas. Olho os homens fardados em minha frente, um deles segurava um papel, enquanto o ergue me mostrando o que estava escrito “mandado de prisão" leio nos meus pensamentos, e arregalo os olhos ao notar o que estava acontecendo ali

— Você está sendo detida como a maior suspeita pelo assassinato de Simon Duarte — O outro  homem diz, enquanto estendia uma algema em minha direção

— Pera... o quê? — Indago revoltada- eu não matei ninguém, vocês têm alguma prova disso?- falo ainda mais alterada

— Você  tem o direito de permanecer calada, tudo que disser poderá ser usado contra você no tribunal — O homem murmura desleixado, enquanto me vira, contendo meu corpo, e prendendo meus pulsos  a uma algema.

— Isso é um absurdo!  — Retruco novamente, dessa vez em alto e bom  som. Vejo a porta ao lado se abrindo, e o vizinho ao lado assistir tudo cautelosamente, seus olhos estavam vidrados no policial que me algemava, um olhar de ódio, eu podia sentir a pele do homem queimando com tamanha profundidade e rancor que saiam daqueles olhos puxados. Então ele me olha e sorri, não o sorriso macabro de sempre e muito menos um sorriso de deboche. Foi um sorriso de conforto, como se ele estivesse dizendo “Vai ficar tudo bem"

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— Isso não tem cabimento!  — Eu protestava, com as mãos algemadas enquanto sentada em uma cadeira confortável de frente para o detetive do outro dia.

— Segundo as câmeras de segurança, você foi a última a sair do prédio ontem, antes de as câmeras serem desligadas...

— Sim, mas foi porque ele mandou!

— Exatamente, segundo seus colegas de trabalho, você  era a pessoa de quem ele mais pegava no pé, além de também ser a que menos recebia... Digamos que vocês não tinham uma relação muito boa

— Isso é verdade, mas o que isso liga ao assassinato dele? — Pergunto chorosa, já imaginando o desastre que aquilo se transformaria. Minha vida já estava perfeita, e agora eu vou ser acusada por um crime que eu não cometi?

— Você está mesmo querendo afirmar que uma moça de 21 anos e de baixa estatura conseguiria matar um homem duas vezes maior que ela?- Uma voz desconhecida soa, vindo das minhas costas. Viro-me para ver um homem elegante, olhos azuis, cabelos negros e alta estatura

— E você seria? — O detetive indaga, tão confuso quanto eu

—Dr. Manson, advogado de Maxine Weber

— Então você tem um advogado? — O detetive me questiona, ergo a cabeça, deixando as costas eretas e tomando uma posição dominante.

— Obviamente, pensou que seria tão fácil me acusar por algo que não  cometi, apenas por estar com preguiça de investigar o caso verdadeiramente? —  Minto, eu não fazia a menor ideia de quem era aquele homem, mas essa poderia ser minha salvação.

— Você  não tem prova que minha cliente tenha cometido tal ato, entretanto só pode manter a mesma presa por 24 horas. Detetive, se em 24 horas não achar nenhuma evidência que acuse a sr. Weber, eu entrarei em um caso jurídico contra você e contra essa delegacia. E acredita em mim quando eu digo que nunca perdi um caso sequer...

O silêncio se estabeleceu no ambiente, o homem em minha frente engole em seco. Uma carranca amarga nasce na face dele, e então ele balança a cabeça lentamente.

— Está liberada até segunda ordem... —  Balbucia o perdedor, e um sorriso enorme  se cria em meus lábios. Estendo rapidamente as mãos para que o homem tirasse aquelas algemas de mim, e suspirando ele faz.

— estaremos de olho em você!

Na saída da delegacia, eu havia questionado o advogado sobre quem poderia ter o mandado lá, mas a boca do homem era um túmulo. O que me fez ficar frustrada, pois, eu queria agradecer de joelhos a alma caridosa que havia me libertado das garras do detetive maligno. Já no meu prédio, ao subir exausta todos aqueles andares de escada, noto uma silhueta parada em frente a minha porta. Era ele, segurando algo em suas mãos, e sorri quando me vê.

— Como foi na delegacia? — indaga, estão algo começa a martelar em minha cabeça. Aquele sorriso de mais cedo, o advogado misterioso.

— Foi você que o mandou lá?— Sou direta, e seu sorriso se abre mais

— Ninguém deveria ser julgada por algo que não  cometeu.

— Ele deve ter sido bem caro — retruco ligeiramente

— Não para mim! — Ele me encarava, um olhar tão profundo que eu juraria que ele poderia ver minha alma

— Exatamente, se tem tanto dinheiro, por que mora em um prédio caindo aos pedaços como esse?

— Gosto de coisas simples... E a vista daqui é ótima! — Lá estava ele, aquele maldito sorriso que me arrepiava a espinha

— De qualquer forma, obrigada por isso!

— Eu não te ajudei por ter certeza que não matou aquele homem, te ajudei por admirar você por não ter matado ele. Eu não conseguiria...

— O quê?- indago confusa

— Nada... Amor, estou ansioso para o que vem a seguir! —  Ele diz me entregando uma marmita — Deve estar faminta e cansada. Apenas relaxe

Então o homem se vira, e anda em passos lentos até  seu apartamento. Fico ali parada, estática, tentando compreender suas palavras. E principalmente, por que diabos ele me chamara de amor?

O vizinho do ladoWhere stories live. Discover now