17

277 17 4
                                    

A vida depois do sonho... part 2

Pov Milla

Algumas pessoas demoram para superar certos amores, outras no dia seguinte já estão com pessoas novas e mostrando a sua felicidade aos quarto ventos. Eu sou a primeira pessoa, Laura é a segunda.
Quando chegamos da viagem, cada uma foi pro seu lado, as aulas voltaram e cada uma estava com seu grupo, e era nítido que ela estava bem, sorria pra todo lado, gargalhava, ia para festas, o namoro dela com o Erick nem sequer esfriou, ficavam aos beijos pelos corredores. E eu não estava aguentando ver aquilo, sofria calada, sabia que se dissesse pra alguem seria julgada, talvez ate tentassem me empurrar pra alguem, e eu nao queria ninguem, eu queria ela, apesar de tudo e de saber que era impossivel, eu queria ficar com Laura.
Me acertei com Helena, conversamos e concordamos que romance entre nós era algo que não daria certo. No começo, eu até conseguia esconder a dor, cheguei a ir a algumas festas, até tentei ficar com outras pessoas, não deu certo, nada me fazia tirar ela da cabeça e pra piorar, parecia que em todo lugar que eu estava ela estava também.
Desde o início evitei conversar muito, tentei ficar mais na minha, só observando, mas chegou a um ponto em que eu já não aguentava mais ir a escola e ver ela nos braços daquele idiota, ele não é bem um idiota, mas pra mim ele é, sei que ele não merece ela, sei que ela estaria melhor comigo, só ela nao vê isso.
Me encontrava em um estado depressivo, e conversando com Edna, decidimos que eu deveria começar uma terapia, eu precisava de ajuda, parece ridículo e exagerado, mas algumas pessoas não são tão fortes, e eu não era forte.
Comecei a faltar as aulas, comecei a ignorar a ligação dos meus amigos, eles são tão fofos, mas eu preciso ficar sozinha agora. Até vieram aqui tentar me ver, mas eu não podia ver ninguém.
Não consigo dormir, comer, sorrir, não tenho paciência nem pra ler. Minha vida passou a se resumir a terapia, hidroginastica e meu quarto. Meu pai estava preocupado, mas ele sabia que só o tempo me faria ficar bem, e sobre a escola, eu tava um ano adiantada mesmo, não faria mal repetir um ano.

Em uma bela noite de segunda, escutei meu pai e Edna  chegando da noite de casal deles, a relação deles era linda, era algo que eu admirava muito. Mas eles não estavam sozinhos, vi de longe, escondidinha, é errado, mas eu queria saber o que Laura fazia aqui. Não consegui escutar a conversa direito, e só vi ela em pé, parecia meio indecisa, vi Laura começar a chorar e ir embora. Esperava que ela fosse tentar falar comigo, mas não, voltei pro meu quarto e pela primeira vez consegui dormir.

Pov Laura

Eu estava me sentindo uma covarde, mas não podia arriscar tudo por uma garota, podia?
Eu não teria coragem, talvez eu fosse mais feliz com ela, mas tudo o que a gente precisaria passar pra ficar junta, todos os olhares, julgamentos e talvez até agressões de homofóbicos, eu não sei se valeria a pena.
Estava em casa, deitada no colo de Erick, aquilo estava tão errado, eu estava tão mal, mas ninguém percebia, eu não estava aguentando mais. Celular de Erick toca
- Preciso ir amor, treino jaja - ele fala, levanta e me beija
- Até mais tarde
- Erick, hoje eu tava afim de ficar sozinha, tudo bem se você não vinher pra cá? - eu não queria ficar com ele mais
- Aa.. tá bom, até amanhã então?
- Até amanhã!

Assim que ele saiu, eu me troquei, peguei o carro e sim, eu fui atrás dela, eu realmente precisava ver se ela estava pelo menos viva!
Cheguei e tia Edna estava de saída para trabalhar, ela me mandou entrar e falou que Milla não estava em casa, mas chegaria logo
Fui pra cozinha, tentei preparar um jantar gostoso pra ela, algo que talvez fosse quebrar o gelo, o cheiro da comida estava maravilhosa, fiz uma lasanha de frango, assei umas batatas, parecia estar gostoso. Milla chegou de cabeça baixa, com fones de ouvido, ela não me viu, mas sentiu o cheiro da comida e, droga, eu não sabia que ela estava tão mal, Milla estava magra, pálida, eu nunca tinha visto ela daquele jeito, achei que ela iria vir pra cozinha com o cheiro, estava bom, mas ela correu para o banheiro, fui atrás e Milla estava vomitando, segurei seu cabelo, tentei segurar seu corpo, mas assim que ela percebeu que era eu, ela começou a chorar e porra, aquilo me destruiu, eu era um monstro e eu nem tinha coragem de lutar por aquilo que eu queria, não tinha coragem de lutar por ela. Alguns segundos de abraço e ela me empurrou, me colocou pra fora do banheiro sem olhar pra mim e sem me dirigir uma palavra, fechou a porta ficou lá dentro, eu não sabia o que fazer, decidi só ficar la, esperando por ela, sentei no chão depois de um tempo e fiquei...
Parecia que tinham se passado horas, mas ela não saia do banheiro
- Milla - bati na porta - Por favor abre, não precisa falar comigo, nem olhar pra mim, mas sai daí por favor
A porta se abriu de uma vez, até me assustei, ela tinha um olhar triste, mas ainda não falou comigo, foi para o quarto e se trancou la.
Como não sabia o que fazer, fui pra cozinha, sentei e comecei a chorar, eu estava destruída por inteiro e não tinha me permitido sofre por tudo o que aconteceu, eu não tinha me dado a chance de chorar e aquela pareceu a hora certo, simplesmente porque meu corpo não aguentava mais guardar aquilo pra mim, depois de alguns minutos eu senti a presença de uma pessoa, levantei o olhar e Milla estava lá. Ela me abraçou e aquilo foi muito tranquilizador, sentir ela comigo, sentir seu corpo no meu, sentir seu cheiro, era tudo o que eu queria, era o que eu precisava, encostei minha cabeça na dela, nossos narizes encostando, nossas bocas tão próximas, um selinho eu só queria um selinho, e ela me deu mais que isso, um beijo calmo, tranquilo, um beijo cheio de saudade, porra, como era bom. Nos afastamos e nos olhamos por um tempo, ambas sem saber o que dizer.
- Você fez comida - ela estava mais calma, seu rosto e olhar pareciam mais serenos
Limpei o rosto e tentei sorrir
- Fiz um jantar pra gente - falei um pouco mais animada
- E o que você fez?
- Lasanha de frango, e umas batatas fritas
- Então vamos comer?
- Claro
Me apressei em pegar os pratos, ela pegou os talheres, e sentamos na mesa, servi meu prato e o dela. Comemos em silêncio, lavamos a louça e fomos pra sala. Eu sabia que a bomba estava por vir, não seria fácil, nunca é
- O que você veio fazer aqui? - Milla quebrou o gelo
- Eu precisava te ver, saber se você estava bem - respondi com sinceridade
- Eu não estou bem, mas você está! - ela respondeu com a voz amarga
- Eu...
- Você está bem! Você sequer sofre, nada mudou pra você, continua com sua vidinha, com seu namoradinho perfeito, você sequer se perguntou se toda aquela exposição com teu namorado iria me afetar, você sequer lembrou de mim
- Milla
Ela estava chorando, e ela tem razão, foi exatamente isso que eu deixei aparentar, deixei todo mundo pensar que eu estava bem, que nada tinha acontecido, e realmente não parei pra pensar em como isso iria afetar ela
- O que você está fazendo aqui? - ela perguntou, dessa vez, ela estava demonstrando toda sua dor
- Eu sofri, mais do que você possa imaginar, eu pensei em você cada minuto de cada dia, eu nem conseguia te olhar, porque sabia que só iria poder fazer isso, olhar, e isso não bastava. Eu só não demonstrei pra ninguém o quanto estava destruída, eu segui minha vida, exatamente como eu falei que iria fazer - respondi o mais sincera que pude ser - E eu vim aqui, porque eu não aguento mais ficar longe de você!
- Eu não quero começar tudo de novo - ela falou triste
- Eu também não quero - respondi
- Então por favor vai embora
- Milla
- Vai embora Laura, você não vai ter coragem pra assumir um relacionamento comigo, você não tem coragem de assumir quem realmente é, e eu não vou ficar na sombra do seu namoro perfeito sendo a amante sórdida
- Milla, eu...
- Você o que Laura?
- Me desculpa - falei aquilo e fui em direção a porta
- Eu não vou te esperar pra sempre Laura, ou você cria coragem, ou me deixa em paz de vez e por favor, decida logo, eu não aguento mais sofrer
Eu não tinha o que dizer naquele momento, eu só consegui ir embora. Ela tinha razão, eu não tinha coragem, mas também não queria abrir mão dela, era muito egoísmo eu sei!!!! Mas eu amava ela e em algum momento teria que criar coragem, ou eu iria passar o resto da minha vida em um relacionamento com um homem que eu não amava e pensando na mulher que eu amava e tinha perdido...

Pov autora
(Por hoje é só, até a próxima vez 😘)

lésbica por acasoWhere stories live. Discover now