09. Finalmente entendo o que o Scar queria dizer em "estou cercado de idiotas"

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“Desde que eu passei no seu hotel da última vez
Cê me falou que ia para a cidade que tem nome de mês
Eu falei: Só não vou junto senão nós dois vira três
Se é que cê me entende, acho que não”

Embrasa, Vitão, Luccas Carlos

[ᚠ]

— Então é verdade. — Eu disse quando alcancei o dragão de bronze, os braços cruzados. — Você tem mesmo um dragão. 

— Não sei de onde tirou essa ideia. — O Valdez tinha um sorriso imbecil nos lábios, que estava me fazendo segurar o ímpeto de socar a cara dele. O dragão o empurrou de leve com o rosto do tamanho de uma geladeira. — É só brincadeira, cara. — Ele falou, se justificando. — Eu hein, você anda muito sensível ultimamente.

Outros campistas tinham saído de seus chalés, mas pareceram não dar muita bola para Festus. Aparentemente, quando se sabe que é semideus há um tempo, alguém precisa de mais do que um quadrúpede gigante alado de metal para te impressionar.

Apenas eu me aproximei mais, curiosa até o último fio de cabelo.

[Eu não sabia como agir, quer dizer, qual era o protocolo a seguir quando você conhece o dragão de alguém?]

— Tudo bem, tudo bem. — Ele disse, ainda falando com o dragão, e depois se virou para mim. — Lis, esse é o Festus. Festus, Lis. Vocês já se encontraram, mas como você estava inconsciente, acho que não conta. 

— É. — Concordei. — Não, de fato, não conta. — Olhei para os olhos de rubi da fera e acabei sorrindo mais do que eu queria. — Oi, Festus. Você é incrível.

Estendi a mão, o dragão passou o focinho na minha palma como se fosse um cachorrinho e eu quase me derreti.

— Ai, que bonitinho. — Fiz um bico, passando a mão pelas placas de metal que formavam o rosto dele. Eu poderia estar ficando louca, mas juro que senti as engrenagens da cabeça se mexendo e notei um som bem específico. — Ele tá ronronando? — Olhei Leo, em busca de uma resposta.

Mesmo eu tentando não sorrir tanto quanto tinha vontade naquele momento, tenho certeza que Leo percebera meus olhos brilhando enquanto admirava o dragão. Ele tinha me impressionado para valer, sabia disso e parecia muito satisfeito com seu ato.

— Ele gostou de você. — Deu dois tapinhas carinhosos no pescoço do bicho, sorrindo. Festus respondeu com um estalido feliz. — Isso é bom. Mas agora, vamos de volta ao Bunker, só o trouxe aqui para um voo breve, para aquecer as juntas e estarmos prontos para partir amanhã.

Assenti em concordância, eu queria muito dizer que não estava ansiosa para voar em Festus, mas seria mentira.

[Você não pode me julgar, qual é? Quantas vezes você já viajou num dragão de bronze? Eu só uma, mas eu estava quase morrendo, então perdi a diversão toda.]

— Você vai tomar café com essa roupitcha? — Ele perguntou, me encarando de cima abaixo, com a cara mais cínica do mundo. — Não que eu esteja reclamando…

— Cala a boca, idiota. — Cruzei os braços, não sabendo se estava com raiva, vergonha ou sentindo uma pontinha de satisfação por aquele comentário do outro. Provavelmente os três. 

Eu geralmente usava aqueles conjuntinhos de uma blusa de alcinhas e shorts curtos de pijama, e, graças a um estalo de dedos de Apolo, eu tinha todas as minhas roupas ali no Acampamento ao meu dispor. E, naquela manhã, era aquilo que eu estava vestindo: um par de peças azul claro, combinando.

Diário de Uma Semideusa em Crise [ᚠ] Conheça suas origensWhere stories live. Discover now