Capítulo Nove: Um sentimento ruim

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| Gables, Califórnia |

Será que ele ainda está parado lá...? Questiona a si mesma, olhando para as gotas de chuva que escorriam pela janela da sala. Antes, fitava o Audi do bilionário atentamente por um pequeno ponto cego da janela da sala, mas desistira ao ver que tudo continuava imóvel. Por que o Stark veio até aqui...? Nem mesmo nos conhecemos. Ele é estranho, parece se importar demais com uma pessoa que nunca viu na vida... E aquela pergunta... Eu realmente não lembro... Por qual motivo aceitei entrar?

Antes de ser dominada completamente por seus devaneios, tirou um tablete de comprimidos da sacola que carregava e pegou duas pílulas, logo foi na cozinha para engoli-las junto à água da pia. 

Repentinamente, uma tontura tomou conta de si. Sua visão estava embaçada, não via nada além de objetos desconhecidos e distorcidos ao seu redor, não tardou para precisar se apoiar no balcão da cozinha. Aquilo não fazia sentido, se fosse para sentir algo do tipo precisaria de algum tempo para o remédio conseguir agir, não aconteceria instan...

Que grande ideia. — embora todas as janelas da casa estivessem fechadas e a temperatura estivesse normal, seu sangue gelou ao mesmo tempo que sentiu um arrepio subir por sua espinha. — Não seja tola, criança. Acha mesmo que isso será suficiente?

Olhou ao redor atentamente, esperando que Raymond ou Charlie a tivessem flagrado e carregassem um semblante nada bom, mas não havia ninguém. De quem é essa voz...? A pergunta pairou pelo ar tempo o suficiente para constatar ser apenas a sua mente brincando consigo, no entanto, ao tentar dar um passo rumo à escada, a dor em seu abdômen, que mal havia passado, voltara mais intensa. 

A Hale apoiou-se nos próprios joelhos tentando se manter de pé. A dor parecia insatisfeita em conter-se apenas àquela região, portanto, em questão de segundos, todo o seu corpo latejava, principalmente o seu peito, parecia ter algo o esmagando e, lentamente, dificultando sua respiração. Isso é um pesadelo... 

Pesadelo? — as mechas de cabelo perto de seu ouvido balançaram suavemente junto a uma brisa leve e quente. Como se alguém risse próximo à sua nuca. Acorda... acorda... acorda... — Por acaso lembra de ter adormecido?

Sentira dedos em seu queixo erguerem e virarem sua cabeça lentamente para cima, e então, fitara os olhos do homem à sua frente. Suas íris queimavam em vermelho-vivo, cintilantes como pequenos cristais. O formato humanoide permanecia o mesmo dos outros pesadelos, sua pele de coloração vinho-escarlate parecia se despedaçar em meio a raízes negras que fragmentavam todo o corpo.

— Eu... — teve a boca tampada antes de sequer terminar a frase.

Shh... — começara a ser empurrada para trás e, sem qualquer chance de resistência contra a força exorbitante do ser, fora prensada contra a parede. — Não é o que quero ouvir. 

Numa tentativa aflita de se soltar, acertou o rosto da figura avermelhada com um soco fraco e desajeitado. O golpe o fez aliviar a pressão que fazia sobre si, e, por um momento, pensou que em breve fosse liberta, porém, uma risada sombria provou o oposto. O homem virou para si, não conseguia ver nada além de uma linha sutil abrindo de uma ponta a outra da face. Estava sorrindo. Seus olhos brilharam intensamente assim que agarrou o rosto da menina e a arremessou novamente contra a parede.

Ainda acha que é um pesadelo? — sua mão começou a se desfazer e, em simultâneo, a envolver o rosto de Alex num tipo de gosma preta e vermelha. Não demorou até que o material vedasse todas as suas vias respiratórias. — É agoniante, não é? — logo estava se debatendo, chutando e socando o que podia, contudo, diferente de antes, não conseguia acertá-lo, todo o esforço que fazia mostrava-se em vão. — Não importa quantos remédios tome, quantos cortes faça, isso nunca vai embora. 

𝗜𝗿𝗼𝗻 𝗚𝘂𝗮𝗿𝗱𝗶𝗮𝗻 || ᴏ ᴅᴇꜱᴘᴇʀᴛᴀʀWhere stories live. Discover now