Surpresa.

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Morando em um andar tão alto, a vista do condomínio durante a noite era espetacular.

As lâmpadas da maior parte dos apartamentos estavam acesas.

Cada quadradinho reluzente contava uma história diferente com pessoas diferentes que tinham objetivos diferentes.

Foi assim que Jeongguk descobriu um passatempo; sentar-se em uma cadeira confortável na varanda e observar as luzes durante horas a fio. Já de banho tomado, sentia o cheiro de xampu impregnado em seus cabelos quando o vento soprava. Era bom. Depois, começava a sentir aromas diferentes e convidativos dos jantares dos vizinhos.

Como era a vida de cada um deles? Provavelmente, a maioria costumava se reunir com a família ao redor da mesa de jantar para desfrutar de uma refeição. Será que estavam felizes? Será que se sentiam seguros?

Segurança...

A palavra dançou na mente do garoto.

Sempre se sentia fora de perigo quando Jimin estava por perto, era inevitável. No entanto, ao chegar à boate e notar que Kwan o encarava cheio de uma malícia indisfarçável, a realidade mudava em questão de segundos.

Jeongguk afundou-se na cadeira, puxando as pernas para o peito.

Não sabia se conseguiria suportar como estava sendo tratado no trabalho, considerando que já havia sido maltratado durante toda a infância e adolescência.

Sempre tentava parecer inabalável e se esforçava para esconder sua coleção de frustrações, mas só ele sabia como era difícil.

O fato de precisar manter tudo em segredo deixava a situação mil vezes pior.

Não conseguia deixar de pensar em um jeito de amenizar a fúria de Kwan. Jeongguk sempre ficava enojado, com um medo gelado e quente ao mesmo tempo. Os dedos, inquietos, tamborilavam nos próprios joelhos. A mente não parava de trabalhar.

Se seguisse uma linha de raciocínio, Kwan ainda não tinha o forçado a fazer algo, mas se questionava até quando sua opinião seria respeitada. Arrependia-se amargamente por ignorar o aviso de Namjoon. As marcas em suas bochechas eram uma prova inegável de que Kwan era só mais um homem sem caráter no meio de tantos outros.

Como conseguiu ter sido tão estúpido?

Uma careta de puro desgosto moldou seu rosto ao imaginar todos os absurdos que aconteciam na Luminus. Pensou nos dançarinos que, assim como Jeongguk, desejavam uma vida melhor, e como Kwan, tão astucioso, aproveitava-se deles. Pensou, novamente, em Namjoon. Aquilo era tão... errado. Pelo pouco que conhecia o colega de trabalho, notou que ele era inteligente. Era terrível perceber que alguém como ele também caiu nas garras de Kwan.

Estavam longe de serem amigos, mas, especialmente agora, o garoto sentia algum tipo de simpatia pelo dançarino. Gostaria de ajudá-lo, mas não fazia ideia de como, o que era irônico, já que Jeongguk também precisava de ajuda. Além disso, não poderia se envolver tanto, talvez fosse pior para ambos. Desta forma, optava por ficar quieto quando eles se esbarravam nos corredores da boate, mas Jeongguk estava sempre atento.

Ele avisou a Kwan naquela semana que não aceitaria mais as caronas. Estar no carro dele era muito angustiante. Quanto mais tempo passasse longe dele, melhor.

O gerente contestou, é claro, mas Jeongguk deixou sua decisão clara. Iria para o trabalho de ônibus ou táxi — poderia até ir andando, mesmo sendo relativamente distante do condomínio —, desde que não precisasse sentar-se ao lado de Kwan.

Jeongguk não conseguia esconder o incômodo e, de certa forma, não se importava tanto se ficasse em evidência que desejava manter-se distante.

"Eu te ajudo, e a ingratidão é o que eu recebo." Kwan falou, meio contrariado. "Se chegar atrasado, sofrerá as consequências."

Preciosa Liberdade • jjk + pjmWhere stories live. Discover now