Capítulo 6

159 32 6
                                    

Após refletir bem sobre tudo o que Jess disse, decido que é hora de reagir. Seria lindo pensar em uma realidade alternativa onde eu iria enfrentar minha família, a religião, os costumes, por amor ao meu filho. Mas, não era assim que as coisas funcionavam. Apesar de ser brasileira por nascimento, eu tinha sangue turco, minha família era turca, a religião, os costumes, tudo isso eram coisas bem evidentes dentro da minha casa, eu não poderia nem sequer pensar em agir contra a vontade deles. E muito menos ser mãe solteira, eu seria a desonra da família. E nem sei qual seria meu destino.

E foi assim, no desespero que encontrei o número da casa do meu noivo, liguei para lá e falei com ele. Pedi para que ele não contasse a ninguém que o procurei, que queria falar com ele, falei que precisa ter uma conversa séria com ele e pedi para que naquele mesmo dia ele fosse até minha casa com a desculpa de termos alguns minutos de conversa antes do casamento que já seria na próxima semana.

Eu precisava urgentemente arrumar a bagunça que eu havia feito.

- Iyi aksamlar! (boa noite!) – Aslan diz ao ser recebido por meu pai.

- Iyi aksamlar! – meu pai responde. – Venha Aslan, sente-se! – ele aponta para o sofá.

- Shukran! – Aslan agradece ao se sentar.

- Meu pai ainda não chegou, está  numa reunião na empresa, mas, ao receber sua ligação fiz questão de vir pessoalmente. Acho muito bom vocês terem esse contato antes do casamento, ajuda a combater o nervosismo no dia! – meu pai disse tentando deixar tudo mais leve.

- Shukran senhor Emir! Fico feliz por permitir esse encontro. – Aslan diz, meu pai faz que sim.

- Nesrin está ajudando minha mãe com uns bordados para o enxoval, coisa de família, elas querem preparar algo feito por elas mesmas para vocês terem em casa. Vou até a cozinha pedir para prepararem um çay (chá), já volto!

Meu pai se levanta e saí da sala nos deixando sozinhos. Nesse momento meu coração apertou ainda mais, meu pai confiava muito em mim ao ponto de permitir aquele encontro a sós.
Sentados de frente um para o outro nos sofás, Aslan me olha atentamente.

- Estou aqui, Sila! – ele diz. Engulo em seco. Agora era a hora da verdade.

- Shukran por ter vindo! – digo sem o encarar.

- Pode me olhar nos olhos Sila, somos noivos embora não tenhamos contato, sem falar que somos da mesma família, afinal.

Ergo meu rosto e o olho. Meu coração acelerou, um bolo se formou em minha garganta e eu desejei desaparecer no ar.

- Quero... – começo ao tentar encontrar as palavras. – Lhe dizer algo. – Engulo em seco.

- Diga! – ele diz apenas.  Sua voz era tranquila, calma. Aslan de uma forma estranha me passava segurança.
Como eu iria dizer isso? Como iria revelar ao meu noivo que não era mais pura? Eu precisava dizer logo, a qualquer momento meu pai estaria de volta.

- Aslan, agradeço por ter vindo, por ter aceitado meu pedido. Mas, eu quero ser sincera com você, honesta. Eu, eu... Não sei como dizer isso. Não sou mais virgem! Espero que entenda. – Suplico.

Aslan me olha atentamente e por breves instantes penso que teria sido melhor não ter revelado nada, se ele dissesse a meu pai eu estaria perdida.

- Entendo se você não me quiser mais, se não quiser levar esse casamento adiante, entendo, mas, suplico, não conte nada a minha família, eles morreriam de vergonha pelo o que fiz.  Me arrependo muito do que fiz, mas não posso me casar assim, sem lhe contar a verdade, eu, eu tenho tantas coisas para contar, mas, tenho...  – me calo ao perceber que Aslan nada diz. 

Aslan continua calado, apenas me olhando e isso é ainda mais perturbador.

- Por favor! Diga algo. – imploro.

Mas antes que Aslan diga qualquer palavra, meu pai entra com uma bandeja de chá em mãos.

- Aqui está! – ele diz ao colocar a bandeja sob a mesa de centro entre nós.  – Sila, sua mãe e sua avô estão lhe chamando para ver alguma coisa sobre o bordado, se despeça de Aslan.

- Até mais! – digo com o coração na mão ao me levantar sem o olhar.

- Até o dia do casamento! – ele responde.

Saio daquela sala o mais rápido que pude. E, ao me ver sozinha no corredor, deixo as lágrimas de alívio caírem. Nem tudo estava perdido.

Meu amor turcoOù les histoires vivent. Découvrez maintenant