Capítulo 12

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Na manhã seguinte a nossa primeira noite juntos, acordei sentindo um certo incômodo em meu abdômen. Aslan ainda dormia, e então decidi levantar e ir até o banheiro. Ao me levantar senti uma fisgada fina como se fosse uma cólica e então a dor se intensificou. Até que senti descer por minha pernas um sangue grosso e escuro.

- Aslan! Aslan! - chamei por ele.

Eu estava apavorada.

- ASLAN! - gritei.

Foi então que Aslan acordou assustado.

- Sila, o que aconteceu?! - ele perguntou ainda atordoado.

- Aslan me ajude! Por favor! Estou sangrando! - implorei.

Eu sabia o que estava acontecendo. E então vi meu castelo de cartas desabar.

Eu sabia que um dia verdade viria a tona. Afim, ninguém esconde uma gravidez por muito tempo. Escondi a minha por quase quatro meses e então num belo dia de verão a verdade veio.

Aslan me levou as presas ao hospital seguindo as orientações de sua mãe, pude ver no olhar de minha sogra que ela sabia o que estava acontecendo, no entanto, certamente ela pensava que o filho que estava perdendo era de Aslan, afinal, estávamos casados há quase dois meses. Fui levada a emergência do hospital e após me examinar o médico disse que eu havia perdido meu bebê, aborto espontâneo. Após alguns exames e procedimentos me levaram para um quarto no hospital onde eu ficaria em observação por 24 horas. Eu não havia visto mais Aslan, e durante aquele tempo sem vê-lo meu cérebro estava a mil e meu coração se apertava ainda mais. E então a porta do quarto se abriu, e um Aslan diferente surgiu.

- Você está bem?! - ele perguntou ao parar a minha frente. Sua voz era fria, distante.

- Sim! - falei baixinho.

Ele nada disse. Apenas me olhou. Aquele olhar, seu silêncio...

- Você perdeu... - ele tentou completar a frase mas não conseguiu e com isso fechou os olhos. Aslan sofria tanto quanto eu, talvez mais que eu.

- Sim, perdi meu filho! - falei sentindo minha voz embargar.

Eu sabia que não havia perdido só meu filho. Eu havia perdido o amor de Aslan.

- Pedi tanto a Alá que você dissesse "nosso filho"! - ele disse ao abrir os olhos.

- Sinto muito! - lágrimas caíram de meus olhos.

- Sei que sente! - ele retrucou.

Senti o peso de cada palavra dita por Aslan e de cada palavra não dita também. De cada palavra deixada no ar, dita apenas em seu olhar.

- Eu não queria que fosse assim, jamais quis! - admiti.
- Eu só... fui burra! Me enganei, e agora estou nessa situação.

- Sila, por mais que eu queira lhe dizer tudo o que está entalado na minha garganta não vou dizer, não agora! Nossas famílias está lá fora, todos estão preocupados com você. Depois conversamos!

- Você disse a eles? Disse que o filho não era seu?

- Não! Não disse!

- Obrigada! Mais uma vez você está me salvando. - Falei agradecida e aliviada.

- Vou chama-los! - foi tudo o que Aslan disse.

Nossas famílias entraram no quarto e logo fui cercada por todos. Minha mãe, avó e sogra tentavam me reconfortar de que tudo ficaria bem e que logo eu teria outro filho. Já meu pai, avô e sogro faziam o mesmo com Aslan e foi aí mais uma vez que percebi, eu não o merecia. Aslan se mantinha calado enquanto os homens da família tentavam o confortar pela a perda do filho, um filho que não era dele, um filho que não era nosso. E isso me despedaçou ainda mais. Definitivamente eu não o merecia.

No dia seguinte tive alta e fui liberada para ir para casa. Durante todo o percurso eu e Aslan nos mantivemos calados, muita coisa precisava ser dita, no entanto, não tínhamos coragem de dizer nada.

- Meus pais resolveram passar o final de semana na casa de campo, quiseram nos deixar sozinhos um pouco. - Aslan disse assim que entramos na casa.

Apenas fiz que sim.

- Vou tomar um banho! - falei.

E sem esperar qualquer reação ou atitude de Aslan, segui para nosso quarto torcendo para que ele não me seguisse. E ele não me seguiu.

Enquanto a água fria do chuveiro caía em meu corpo, as lágrimas também caíam. Eu sofria, sofria muito.

- Meu bebê! - sussurrei ao acariciar meu ventre vazio.

Por mais que a situação fosse difícil, por mais que eu não houvesse planejado, eu amava meu filho, eu o queria, mesmo sem saber como seria minha vida com ele, mesmo assim eu o queria e saber que ele não existia me deixou desestabilizada.

- Sila, precisamos conversar. - Aslan disse ao adentrar no quarto.

Imediatamente me levantei da cama e o olhei. Naquele momento tive a certeza de que para Aslan estava sendo difícil tanto quanto era para mim, ele também sofria.

- Aslan, me deixe falar primeiro! - pedi.

- Está bem!

- Te agradeço por tudo o que fez por mim. Por me amar, por me mostrar o que é amor, por me aceitar como sou, do jeito que sou, por me dar oportunidades que antes eu não as tive. Não vou te pedir perdão, o que eu fiz foi imperdoável, não lhe contei a verdade, não falei o que estava acontecendo comigo... só quero que saiba que em nenhum momento pensei em lhe enganar, em lhe fazer assumir um filho que não era seu. Eu só... quis viver o que você tinha a me oferecer! E vivi! Mas, sei que acabou!

- Sila...

- Aslan me deixe continuar. Se não perco a coragem! - o impedi.
- Está mais do que na hora de eu começar a sofrer as consequências dos meu erros, nem que para isso eu tenha que te perder.

- Sila, chega! Você não vai me perder. - ele disse seriamente.

O olhei atentamente.

- Você é minha esposa e vai continuar sendo, sei que o que aconteceu não foi certo, não vou dizer que esqueci, sei que não vou conseguir esquecer facilmente que minha esposa estava grávida de outro homem. Mas, não vou aceitar o fim do nosso casamento por causa disso. Sila, não quero que exista mais nenhum segredo entre nós, e muito menos que nos separamos por causa disso. Eu também cometi erros no meu passado, erros dos quais tenho vergonha, carrego minhas dores também. Por isso lhe entendo, sei o que está passando, como é difícil errar e sofrer por seus erros. Eu mais do que qualquer pessoa lhe entendo. E por isso, estou disposto a continuar a partir daqui. Vamos continuar e fazer dar certo! Você está disposta a tentar?

- Aslan, eu não te mereço! - foi tudo o que consegui dizer enquanto meus olhos se enchiam de lágrimas.

Lágrimas de alegria, de felicidade.

- Não diga isso! - Aslan disse.

E então, vagarosamente, ele se inclinou para mim e me beijou com toda a paixão que havia entre nós.

Meu amor turcoWhere stories live. Discover now