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Pov Lena Luthor

Kara havia simplesmente sumido da face da terra, eu sequer sabia onde procurá-la. Ela poderia estar em qualquer lugar do mundo e eu não fazia ideia de onde. Me bloqueou de todas as redes sociais e trocou o número do celular. Eu não entendia o que havia acontecido, porque ela havia sumido depois de dizer que me amava no meio daquele aeroporto, em um dia estávamos fazendo planos para o futuro, eu disse que iria resolver tudo e no outro, ela sumiu, fugiu, correu, se acovardou, eu não sei. Ela havia fugido, não teve a menor coragem de ficar e lutar por mim, e o que mais doía, na verdade, era que eu esperava todas os dias que ela voltasse, que ela percebesse que era um erro nos deixar de lado, que ela aparecesse misteriosamente na porta da minha casa e me pedisse pra voltar. Haviam tantas coisas que eu gostaria que fizéssemos juntas. Nós tínhamos um futuro tão incrível pela frente, e um monte de primeiras vezes que eu gostaria de fazer com ela. Mas ela havia me deixado, sem olhar pra trás, sem me dizer porque, sem me deixar argumentar. Ela só foi. E me deixou, destruída. Ela partiu meu coração da forma mais dolorosa que alguém poderia fazer.

Gritei, chorei e implorei para que ela voltasse. Sozinha e no escuro do meu quarto, eu rezei um milhão de vezes para que, se existisse alguém me ouvindo em algum lugar, que trouxesse aquela mulher de volta pra mim, mas nada adiantou, tudo foi em vão, como se eu tivesse pedindo pra parede fazer alguma coisa. Ela havia ido embora e mesmo que doesse pensar naquilo daquela forma, eu não tinha o poder de mudar nada daquilo.

Consegui concluir minha faculdade com muito esforço, levou um pouco mais de tempo que o previsto, já que eu acabei repetindo dois períodos por conta de faltas, mas eu, enfim, havia conseguido. Consegui um estágio com uma das melhores estilistas da França e estava de mudança para lá. Lionel havia se mudado para Metrópolis novamente e permanentemente pouco tempo depois de Kara ter ido embora, com a desculpa que não conseguiria viver na mesma casa que eu por muito tempo pois eu estava insuportável. Eu estava mesmo insuportável, porque eu estava completamente despedaçada, magoada, triste, solitária e longe da mulher que eu mais amava por causa dele. Ela havia fugido, não só por ter sido uma covarde e egoísta mas também por causa dele.

Três anos haviam se passado e o sentimento estava intacto. Todas as vezes que eu pensava nela, sentia um aperto no peito. Se eu soubesse que aquele era o último beijo, que era a última vez que eu iria ouvir o som voz e da risada, aquele sorriso mágico perfeito e sentir o cheiro de algodão doce dela, com certeza teria aproveitado mais. Mas é assim que a vida acontece, e não havia nada que eu pudesse fazer. Tive que arrumar uma nova casa e um emprego pra conseguir me sustentar, minha faculdade ainda estava sendo paga por Lionel, mesmo eu dizendo que não queria nada que viesse dele, ele insistiu dizendo que aquela era a herança da minha mãe e eu deveria aceitar.

[...]

"Muito obrigado por ter voado com a Air France."

Logo após ser recebida no aeroporto por minha mentora, Alexa Moreau e ter ganho uma pequena tour pela cidade, segui para o meu pequeno apartamento. Tinham poucas coisas, afinal eu ainda não havia conseguido comprar tudo, mas era aconchegante e tinha a minha cara. Na cozinha, havia apenas um fogão e uma geladeira, na sala um único sofá cama que eu havia comprado há muito tempo quando decidi morar sozinha, e no meu quarto, uma cama de casal e um guarda-roupa. Tentei decora-lo o máximo que pude mas tinha a sensação de que faltava alguma coisa. Eu não sei, talvez eu arranjo de flores encima do fogão, ou um tapete na sala de estar, eu só sentia que faltava algo. Ou alguém.

Havia uma única caixa pequena encima da bancada a ser aberta e retirada as coisas para ser colocado no lugar. Me sentei um cima do banquinho que era embutido no balcão e puxei a caixa para perto de mim. Sam quem havia me ajudado a embalar algumas caixas e provavelmente aquela era uma das que ela havia fechado. Antes que eu pudesse rasgar a fita adesiva, vi que estava escrito "cuidado" e "frágil" com as letras da minha melhor amiga. Abri com cuidado pesando que pudesse ser algum vidro ou produtos de beleza, mas tudo o que tinha, era um envelope e um álbum de fotos. O álbum de fotos que eu havia jogado no meio da bagunça do meu quarto assim que Kara desapareceu, pelo visto, Sam havia achado.

Abri o álbum em um só suspiro dando de cara com uma foto da nossa antiga família, no casamento de dela e meu pai. Ela não estava com uma cara muito boa, mas sempre que eu olhava aquela foto eu imaginava ser por quê ela estava ao meu lado. Até descobrir que ela não queria se casar com ele e estava fazendo aquilo por mim. Passei página por página, o choro estava preso na minha garganta, a última coisa que eu queria era começar a chorar. Eu não podia chorar no meu primeiro dia na casa nova. Eu estava em Paris, havia conseguido um estágio em uma das maiores confecções e era aprendiz de estilista, estava no meu apartamento com todas as minhas coisas, eu deveria estar feliz. Não deveria chorar. Por este motivo, coloquei tudo de volta na caixa sem nem mesmo abrir o envelope pra ver do que se tratava. Fechei a caixa e coloquei encima do guarda-roupa, não iria mexer naquilo por um bom tempo.

Estava super cansada da viagem, precisava dormir para acordar cedo no outro dia e ir conhecer a confecção que eu trabalharia. Não tinha tempo de ficar me lamentando muito menos de começar a chorar e esquecer dos meus compromissos.

[..]

O dia amanheceu chuvoso, muito parecido com o meu humor, que na verdade não era bem uma novidade, eu acordar emburrada já era costume. Nos últimos anos eu estava me esforçando pra não viver afundada na cama apenas curtindo o fundo do fundo do poço que eu estava. Peguei meu celular em baixo do meu travesseiro enquanto andava pelo quarto procurando meus saltos. Eu parei por um instante com o celular na mão e pisquei algumas vezes pra ter certeza de que eu estava vendo o nome do meu pai em um link na barra de notificações. Sem pensar muito acabei clicando, meu pai nunca havia sido motivo de manchete ou qualquer coisa do tipo, ainda mais de um site de notícias.

"Lionel rouba mais de 200 bilhões em dólares da Microsoft em Metrópolis"

Meu coração errou a batida, tinha lido apenas o título e já estava com as mãos tremendo, respirei fundo antes de rolar a tela para baixo.

Lionel Luthor, subchefe da empresa Microsoft estava sendo investigado há alguns meses, juntamente com outros doze acionistas pela polícia federal do estado da Flórida. Hoje (13/09) pela manhã, teve o nome confirmado como o mandante que organizou todo o roubo.

Eu estava em choque, me sentei na cama rapidamente para reler mais uma vez e ter certeza de ter lido tudo certo. Já havia muito tempo que não conseguia ter nenhum tipo de contato com meu pai, nunca, em toda minha vida, eu imaginei que receberia uma notícia desses atravéz de um link aleatório na minha barra de notificações. Aquilo era um problemão, porém não era meu. Ele decidiu me deixar de fora de sua vida, ele quem decidiu ir embora e me deixar. Ele era a única família que eu tinha e mesmo assim tomou a decisão de me recriminar e me afastar, me deixar sozinha e perdida. Não seria naquele momento que eu iria dar uma de boa filha que não guarda rancor de nada e ir até lá fazer uma visita. Eu não me importava. Não estava nem aí para Lionel e muito menos para onde ele estava. Eu só queria viver a minha vida, já estava sendo difícil o bastante lidar com a minha quase abstinência de Kara, eu não tinha espaço pra mais nenhum problema.

Querida Madrasta - Supercorp Where stories live. Discover now