[2] Lei de Murphy

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Se algo pode dar errado, dará.

PARK

Jungkook foi embora. Depois de quatro anos, ele me deixou. Novamente.

Você sabe a sensação de quando está começando a se apaixonar e então percebe que o tempo longe daquela pessoa se torna totalmente chato e entediante, de uma forma que não dá nem vontade de viver sem pensar nela? Pois é, daí para frente é só buraco abaixo. Foi muito poucas as vezes que isso ocorreu na minha vida e todas elas não acabaram bem. Eu não sei se tenho dedo podre para escolher pretendentes ou o mundo já havia acabado antes desse apocalipse e ninguém mais prestava. De todo modo, quando você se despede de alguém que gosta, uma parte dela pessoa permanece em você, não é?

Por favor, não me diga que eu sou o único lunático que acha isso.

Enfim, quando eu vi meus pais pela última vez dentro daquele carro enquanto ele explodia, nós nos despedimos sem palavras. Foi uma pequena troca de olhares antes daquele automóvel se transformar em total chamas e estourar em cima da ponte. Mesmo sem dizer um "eu te amo", eu senti como se uma parte minha houvesse ficado dentro daquele carro, assim como uma parte deles foi salva comigo. Aquela sensação foi horrível, porque eu sabia que eles não estavam ali, no mesmo plano que eu, mas ainda assim estavam presentes em mim.

Se foi horrível se sentir assim sabendo que eles estavam mortos e nunca mais iriam voltar, seria pior ainda se soubesse que poderiam estar vivos e morrer há qualquer momento, sem eu saber.

Foi isso o que aconteceu com Jungkook.

Nosso afastamento me doeu muito no nosso começo de término. Foi em comum acordo, mas vocês não fazem ideia do quanto eu chorei em posição fetal no meu quarto, após mandar mensagem pros meus amigos dizendo; "Eu vou superar. Jungkook é bom, mas não é o único"

Ele de fato não foi o único, mas foi extremamente complicado achar alguém tão bom quanto ele foi na minha vida. Suponho que até hoje eu dificilmente poderia escolher alguém que me relacionei para bater de frente com ele em questão de pontos positivos. JK deixou algo que caminharia para sempre comigo.

Traumas.

Para ser sincero, eu nem sei como demos certo em algum momento. Nossas personalidades eram completamente opostas e mesmo assim nós conseguimos manter uma união por quase cinco anos. Nos conhecemos brigando em uma fila de inscrições para aula de luta e terminamos com Jeon convivendo mais na minha casa do que na dele.

Diferente de Jungkook com a alma livre como a de um pássaro e que adora se desprender de qualquer lugar fixo, eu JAMAIS – guarde minhas palavras –, retiraria meus pés da minha zona segura para ir desbravar um mundo perigoso e que eu não tinha contato há anos. Já havia feito muitas viagens pelo país, mas agora não me incomodava nem um pouco em permanecer ali por Jinhae, sem nem olhar para fora de casa. Eu só olhava por obrigação.

Odeio ter que admitir isto, mas, de todas as despedidas dolorosas que eu já tive em minha vida, Jungkook estava no top 5. Como se não houvesse como piorar, isso ocorreu duas vezes; no nosso término e há algumas horas. Não sou mais apaixonado por ele, mas é inevitável ficar mal após tanto tempo sem me afastar de alguém.

Eu havia me desacostumado com despedidas.

Isso é meio irônico de se dizer, mas vá por mim, essas duas dezenas de idosos são capazes de viver a ponto de presenciarem a minha morte e ainda me dar um enterro digno, com direito à biografia e túmulo bem lustrado. Às vezes penso que quem realmente me salvou deste caos, foram eles. Se não houvesse qualquer obrigação que me fizesse distrair a mente, eu não teria pensado duas vezes antes de sair de casa sem preparo algum e levar uma mordida na canela por qualquer um desses infortúnios. Acho que até hoje eu correria um grande risco de vida se resolvesse fugir da minha zona de conforto, é por isso mesmo que não me arrisco sair desse bairro.

The Last Sunset • JIKOOKWhere stories live. Discover now