[6] Os 7 Instintos : CURIOSIDADE

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O instinto da curiosidade e a emoção da admiração

JEON

6 DIAS ANTES...

Tenho a necessidade de pisar no crânio putrefato para que a faca ensanguentada seja retirada do corpo morto, aplicando uma força maior nos meus punhos até que a arma descrave da cabeça daquele ser humano.

Bom, pelo menos costumava ser um.

Olho uma última vez para aquela coisa desfalecida no chão, que mancha o asfalto com o sangue da perfuração que fiz em seu cérebro. É – ou um dia foi – uma mulher que beirava os cinquenta anos, parecendo conservada demais para ter perdido a vida de uma forma banal. Talvez tenha sido uma horda, mas ela seria tola em deixar que se aproximassem, a não ser que tenha ficado encurralada. Suas roupas estão rasgadas mas nenhum órgão está visível para fora do corpo, o que evidencia claramente que ela foi vítima de uma única mordida ou arranhão.

Mas não está no momento de pensar nisso agora porque há mais coisas para me preocupar, como, por exemplo, o arranhão no meu tornozelo.

Sim, isso significa que tenho altas chances de virar um desses mortos-vivos que acabei de matar e a culpa disso tudo é minha. Mas relaxe, por incrível que pareça eu não estou desesperado e a morte não me assusta tanto assim, ainda mais quando eu praticamente "pedi" por ela. Porém é inegável o baque de saber que daqui alguns minutos, horas ou talvez dias, eu esteja perambulando por aí e querendo morder pessoas alheias enquanto emito um som desconfortável e nojento, babando algum líquido escuro.

Bem, isso se eu não decidir me matar antes, né?

Ignoro o fato que posso estar à beira da morte e me sento na fachada da oficina mecânica que havia naquele ponto da cidade deserta de Daejeon. Mesmo com o zumbi morto ao meu lado, prefiro me adiantar e fazer o maldito curativo, retirando o esparadrapo e a gaze da mochila.

Quatro dias.

Fazem exatamente quatro dias desde que decidi sair de Incheon e me aventurar em mundo aberto, sozinho. Eu jamais direi que ficar na base é desagradável e chato, mas eu sinto que se passasse mais alguns dias dentro daquele lugar, me encontrariam há qualquer momento com uma corda amarrada no pescoço. A LUV (Liga Única da Vórtice) é um complexo gigantesco e nunca faltou qualquer coisa que pudesse causar prejuízos. Quando cheguei, haviam dezenas de pessoas já em seus devidos cargos e que faziam toda aquela enorme corporação funcionar e manter a "população" viva. Eu era novo e inexperiente, tudo o que me pediram para fazer foi cuidar dos serviços básicos de higiene do complexo, então assim fiz.

Por dois anos.

O problema é que eu não era o único responsável por isso, então meu trabalho era executado em questão de poucas horas e o resto do dia era livre, sem qualquer compromisso. Essa é a pior parte: Ter muito tempo vago me faz refletir. Pensar demais faz com que eu ache problemas onde não tem, mata a minha tranquilidade, estraga tudo o que um dia achei ser coerente e me leva sempre ao maldito veredito de que, no fim, nada compensa.

Quando me dei por conta disso e tomei a decisão de me afastar um pouco da LUV e ver o que o mundo exterior tinha a me oferecer por trás daquelas paredes reforçadas do aeroporto, tudo o que ouvi foram súplicas dos meus amigos para que eu não fosse. Eles conseguiram até alguns trabalhos para mim, mas tudo me pareceu ainda mais inútil, o que só aumentou minha vontade de ir embora. Após muitas conversas onde consegui convencer um por um de que aquilo faria bem para a minha saúde mental, eles abriram o portão principal e deixaram com que eu fosse livre, depois de dois anos.

The Last Sunset • JIKOOKWhere stories live. Discover now