capítulo vinte e três.

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Estou sentada no sofá, arranhando o jeans da minha calça. Cruzo as pernas para a esquerda, cruzo as pernas para a direita. Presto atenção na minha respiração, arranho o jeans com mais força. Ouço a chave ser encaixada na porta e meu coração dobra os batimentos, puro pavor me invadindo.

A porta se abre, pulo no sofá.

— Helena? — Lucas parece surpreso, e apesar da preocupação visível, ele sorri. Vestido com uma camiseta branca, calça jeans clara e tênis brancos de marca, ele parece o tipo o playboy da zona sul. — Não sabia que você estaria aqui.

Tento sorri, mas parece mais uma careta.

— Processos não respeitam finais de semana. — Arranjo uma desculpa plausível, não quero contar a ele o que realmente faço aqui. Não sei se é o momento para ele ter duas revelações.

— O que houve? — Lucas pergunta, mas não está falando comigo. Seus olhos estão atrás de mim. Não percebi Eduardo chegando, mas sei que ele está lá. Olho para trás e vejo seu rosto mais pálido que o habitual, seus olhos vermelhos. Ele esteve chorando por horas, mas secou os olhos e assumiu uma postura dura quando Lucas mandou mensagem dizendo que estava chegando. Simplesmente engoliu a dor e vestiu sua armadura. Queria ser como ele. — Pai?

— Está tudo bem. — Eduardo sorri, mas é um gesto duro, falso. Não sou só eu que percebo, pela expressão preocupada de Lucas. — Só precisamos conversar.

— Sobre o que? — Lucas deixa sua mochila no chão, tão preocupado que nem se importa em guarda-la. Tento respirar fundo, mas a respiração trava na garganta.

— Eu vou... — Quero ir para casa, deixá-los sozinhos para terem essa conversa, mas não sei como vai terminar. Não sei como Eduardo vai estar depois disso.

— Fica. — Eduardo pede, parecendo pensar o mesmo que eu. Seus olhos estão tristes, aturdidos, parecendo dizer silenciosamente que precisa de mim. Volto a me acomodar no sofá, ficando tão parada que minhas costas doem.

— Certo, eu estou preocupado. — Lucas admite cruzando os braços. Como não percebi que eles eram pai e filho? Os olhos de Lucas são tremendamente idênticos aos de Eduardo, sem tirar nem por. — O que rolou?

Eduardo se aproxima de Lucas e o abraça apertado, tão apertado que de longe vejo Lucas perder o ar. Lucas o abraça de volta, confuso, perdido. Também me sinto assim. Amo os dois, não quero que nada de mal aconteça a eles, mas vai acontecer. Em alguns minutos, Lucas terá todas suas convicções destruídas e eu sei o quanto isso dói. Não quero ter que escolher um lado, não suportaria tal coisa. Amo os dois demais para isso. Por um lado, há Eduardo que fez o que julgou melhor para o filho, por outro, há Lucas que foi enganado a vida inteira. Eu não sei se conseguiria lidar com alguém que amo mentindo sobre algo tão importante.

— O que aconteceu? — Meu amigo torna a perguntar. — Pai?

Eduardo se afasta e apoia as costas contra a parede, colocando suas mãos no bolso da calça.

— Eu não sei como te contar isso. — Eduardo admite com uma risada seca, parecendo desesperado. Meu coração se aperta por ele. Quero me levantar, abraça-lo e dizer que tudo vai ficar bem, mas eu possivelmente estaria mentindo. — Quando você tinha três anos, sua mãe foi embora com outro homem, abandonou nós dois, e para tentar remediar, eu disse que ela estava morta.

Curto e direto. Lucas arregala os olhos e fica paralisado, olhando para Eduardo como se não entendesse o que ele está dizendo. Me abraço, por um momento desejando não estar aqui.

MONSTRO. | Professor × Aluna.Where stories live. Discover now