entrelinhas.

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última entrelinha...



Helena está dormindo quando me fecho no banheiro do corredor e sento no chão, dobrando as pernas até que consiga encostar minha testa nos joelhos. Aperto os punhos para me focar na realidade, mas é inútil. A única parte negativa de morar com Helena é não poder ter as rotineiras crises noturnas no conforto da minha cama. Fecho os olhos com força, meu coração tão acelerado que parece prestes a escapar do peito. Minha boca está seca, dolorosamente seca, assim como minha garganta. Não posso dizer o mesmo dos meus olhos, ou das minhas bochechas, onde as lágrimas se amontoam e escorrem até caírem em minha camiseta.

Enterro meu rosto nos joelhos para abafar os soluços e aperto mais os olhos. Tudo treme. Meus braços, minhas pernas, até meus dedos dos pés.

Estou em frangalhos, absurdamente frágil e destruído. Sem forças.

Tudo que eu mais quero é uma dose. Só uma dose que irá molhar minha garganta assim como as lágrimas molham meu rosto, que irá queimar meu estômago assim como as lágrimas queimam meus olhos.

Eu me odeio. O mundo seria melhor se eu não estivesse nele.

Sou tão estúpido. Tão sujo.

Queria que as roupas caras e os relógios de ouro pudessem me tornar diferente, mas não tornam. Sou o mesmo garoto perdido de quinze anos atrás. Sou o mesmo monstro de dez anos atrás.

Quero voltar para Helena, deitar ao lado dela e chorar em seus braços. Quero que ela me conforte, que ela faça a dor passar. Mas não posso. Não posso dizer a ela o porquê do meu choro, não posso deixar que ela cuide de mim quando estou destruído pelo que fiz a ela.

Eu a amo tanto. Eu a quero tanto. Ela é perfeita, tão gentil e doce que aquece minhas células. Ela me tirou do vazio, juntou os cacos que Lilian deixou. Justo ela. Justo a mulher que deveria me odiar mais do que qualquer coisa na vida.

Peço a Deus que não a deixe lembrar, que suas memórias continuem escondidas. Sou um homem melhor, posso fazê-la feliz pelo resto da vida. Ela só precisa continuar no escuro.

Não quero que ela se lembre. Não só porque irei perde-la, mas porque isso irá destruí-la. Não vou aguentar ver sua dor.

Ergo a cabeça e aperto minhas mãos sobre a boca, lutando para esconder os soluços.

Como posso amar alguém tão intensamente se eu me odeio tanto?

Por favor, Deus. Se você existe, tire essa dor de mim. Eu não suporto mais. Eu. Não. Suporto. Mais.

Como um estalar de dedos, decido que contarei a ela. Direi o que eu fiz, a forma cruel e nojenta que eu empreguei para despedaçar sua infância.

Por favor, Deus, faça ela me perdoar.

MONSTRO. | Professor × Aluna.Where stories live. Discover now