6 - Faz de Conta

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Eu estava lutando arduamente contra a possibilidade de estar atraída por Lauren Jauregui.

Ela era a definição concentrada de tudo que me irritava e pra piorar estava me chantageando com algo particularmente constrangedor.

Eu achava que as mulheres deveriam se apaixonar por alguém que senta em uma mesa próxima todos os dias quando ela vai em uma cafeteria, ou por quem a salva de morrer atropelada ou… sei lá. Qualquer coisa que não envolva uma gravação de sexo caseiro.

Mas eu estava me desesperando rápido demais: eu não estava apaixonada por Lauren. “Paixão” é uma coisa muito forte. Atraída, talvez. Mas isso era tudo.

Acho que poucas vezes na minha vida eu trabalhei com tanto empenho.

Quando Lauren saiu de manhã, eu já estava acordada e ativa fazia duas horas inteiras. Ela fez alguma piada sobre eu estar desesperada para acabar com aquilo e ir logo embora. E eu estava tentando tirar a imagem dela nua da minha cabeça.

Aquilo não era paixão, nem atração. Era obsessão. É isso: eu já me masturbei pensando nela em um cenário irreal, a proximidade dos últimos dias foi sedutora e minha vagina começou a pensar que aquilo poderia acontecer de verdade. Minha vagina merecia uma surra para deixar de ter ideias ridículas.

O cachorro ficava me encarando o tempo todo. Eu já te dei comida, não dei? O que mais você quer? Nunca tive bichos vivos então não conhecia muito bem seu comportamento. Será que era isso que animais faziam? Te encaravam?

Talvez ele quisesse atenção. Carinho ou brincar… É, sinto muito, meu bem. Mas
isso não vai acontecer. Não é que eu tenha medo de cachorros. Eu não tenho medo de quase nada nessa vida. Mas a ideia de abraçar uma coisa que baba e solta pêlos me parece pouquíssimo higiênica.

Mantive uma distância saudável e o ignorei enquanto seguia trabalhando.

Resolvi ficar trancada no escritório de Lauren organizando seus processos. Aquilo era o tipo de coisa que ia manter minha mente focada. Li algumas petições que levavam a elegante assinatura dela  procurando erros de qualquer tipo: jurídicos, de ortografia, de bom senso. Mas, por mais que aquilo me irritasse, ela era uma boa profissional.

Tinha trabalhado em um série de processos sigilosos e eu me diverti com a ideia semi-proibida de observá-los. Além do mais, a atividade permitia que eu me distraísse com meu passatempo preferido. Inventei essa brincadeira na época que eu estagiava. Ficava horas a mais que os outros, todos os dias.

Trabalhava como uma escrava, mas era o que eu queria: aprender tudo que eu
pudesse e provar que eu conseguia. Assim que me formei, os advogados
encarregados me disseram que, se eu quisesse, teriam uma vaga para mim no escritório. Eu recusei educadamente: àquela altura, já tinha recebido umas três propostas infinitamente melhores.

Mas o fato é que eu passava muito tempo trancada. Minha vida se resumia aquelas folhas de papel. Pedidos e decisões. Um dia, eu simplesmente comecei a pensar nas pessoas por trás dos nomes estampados na minha frente: qual era sua história
de vida, que tipo de roupas elas vestiam, quais eram suas comidas favoritas, onde elas moravam, quais seus sonhos… Eu me divertia por horas com aquilo.

Transformei cada autor e cada réu em meus amigos íntimos nos meus longos dias fechada em uma sala sem janelas.  E agora, eu podia repetir a brincadeira.

Talvez aquele Riccard da petição de guarda fosse um espião que queria manter seus filhos a todo custo, talvez Amiant tivesse matado um de seus filhos, naquela ação penal, e forjado o suicídio, talvez Crispadin estivesse casada com três homens ao mesmo tempo e por isso não tinha explicação para a quantidade de imóveis que possuía.

A Chantagem (Adaptação)                    [Em Correção Ortográfica]Tempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang