Jantar

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NOTA: Oi, gente! Eu percebi durante a revisão que alguns tópicos abordados podem ser sensíveis para algumas pessoas então colocarei aviso de gatilhos daqui em diante, ok?

Boa leitura!

⚠️: família disfuncional e traição.

O clima entre eles se mostrava cada vez melhor. Continuaram conversando sobre arte, desde a arte produzida por Minho, até a arte da estampa da camisa recém trocada de Jisung após o banho.

A conversa só cessou quando substituída pelo som do secador enquanto Lee secava os cabelos do garoto, mas naquele ansioso falso silêncio, corriam em sua cabeça dezenas de possíveis novos assuntos para quando o barulho acabasse.
Em contra partida, Han divagava em um completo nada dentro de sua mente, apenas aproveitando a sensação dos dedos do mais velho passando entre seus cabelos, ele não tinha ideia da última vez que recebeu um carinho tão bom.

Do espelho Minho observou Jisung de olhos fechados, estava tão calmo que chegou a pensar que o menor estivesse dormindo. Mesmo que o cabelo já estivesse seco, ele continuou ali por mais alguns minutos, até a Sra. Han gritar para que o filho descesse e arrumasse a mesa de jantar.

No andar de baixo, eles organizaram a mesa juntos.
Han Sul-hee havia preparado uma refeição simples mas exageradamente caprichada, tinha arroz, bulgogi, alguns vegetais refogados e claro, folhas e hortaliças frescas.
O jantar foi agradável na medida do possível, a mulher enchia o rapaz de perguntas sobre a família Lee e ele fazia o melhor que conseguia para responde-la rapidamente.

Jisung montava uma trouxinha de carne e arroz em uma folha de alface quando ouviu sua mãe perguntar:

— Você e Jisung saíram domingo, como foi?

— Nós fomos a um café, na verdade, eu... - Jisung enfiou a trouxinha de comida inteira na boca de Minho, dando tapinhas em seu ombro.

— Coma mais! Vocês tem conversado tanto que mal aproveitaram a comida, né mãe? Coma também!

Vendo os dois garotos se concentraram na comida tão desesperadamente, Sul-hee não os pressionou mais. Após o jantar, mesmo que ela insistisse que não precisava, Minho fez questão de ajudar Jisung com a louça, então a mulher mais uma vez só pôde dar-se por vencida e subir para o próprio quarto.

— Hannie, eu queria te pedir desculpas. Por hoje e domingo, sobre aquilo...

— Sem desculpas, eu não preciso que me veja como um coitado.

— Eu não te vejo como um - ele largou o copo que terminava de secar e virou Jisung para si.

— Não?

— Não, nunca. Eu só fiquei confuso porque não sabia de nenhuma dessas coisas, quer dizer, eu ainda não sei exatamente o que aconteceu, mas também não importa, eu só quero que saiba que não foi minha intenção te ofender. Era isso o que eu pretendia dizer mais cedo.

Han lhe deu um sorriso confortante.

— De agora em diante, não me peça desculpas. E se quiser resolver algo comigo, pode me mandar mensagem ou me ligar. Só, em hipótese alguma, fale desses assuntos com a minha mãe.

— Tudo bem! - balançava a cabeça concordando como um confidente.

— Se ela falar algo sobre mim para você, apenas se finja de desinteressado, sorria e venha me perguntar. Nós podemos não ser mais tão próximos, e muita coisa mudou, mas eu não tenho motivos para mentir pra você.

— As coisas são assim tão diferentes?

— Você não tem ideia! - sua voz carregava zombaria e escárnio - É mais fácil encontrar flores no lixo do que na reputação ou nas palavras da minha família.

— Hannie...

— Sem "eu sinto muito"! - aquele baixinho parecia ter lido a mente a sua frente - agora que retomamos nossa amizade, essa é minha condição.

Minho sorriu.

— Você pode confiar em mim. Aliás, obrigado por confiar em mim.

Jisung deu de ombros, se voltando para as louças inacabadas e entregando um prato para que o outro secasse.

— Você saberia mais cedo ou mais tarde de qualquer forma. Não é novidade, meu pai achava que podia ter tudo, minha mãe preferiu vingança ao senso de autopreservação e o Gaon fechou os olhos e tapou os ouvidos.

— Eu não tinha ideia de nenhuma dessas coisas.

Minho não capitava nenhum sentimento na voz de Jisung, era como se fosse apenas um estranho que conhecia uma história muito bem; Tão bem que de tanto a contar tinha ficado indiferente.

— Nós éramos pequenos quando você se mudou e naquela época parecia tudo certo, poucas pessoas sabem do que aconteceu por trás do "divórcio pacífico" e sinceramente, é melhor assim.

— Faz muito tempo?

— Do que? Do divórcio, das traições ou das brigas?

— De tudo, eu acho.

— Os papéis do divórcio saíram ano passado, mas já tinha muitos anos que eu sequer via meu pai voltar pra casa, meio que nos acostumamos a trancar a porta a noite e ir dormir - a cada frase Minho sentia seu peito apertar.

Não era uma situação recente, como ele nunca tinha notado essas coisas?

A família Han tinha um negócio seguro de logística e armazenamento, eram conhecidos por fazer um excelente trabalho de inventário, organizando e transportando objetos de valor em seus depósitos privados. Foram especialmente indicados para cuidar da mudança dos Lee para os Estados Unidos, mas agora que parara para pensar, tirando pontuais festas e outras ocasiões sociais, ele nunca tinha visto o pai de Han por perto.
Era Gaon quem buscava o menino, ou Sul-hee o carregava sonolento para casa quando terminava tarde a contagem de posses, entrando no mesmo carro preto que as vezes os deixava lá pela manhã.

E mesmo com aquela rotina bagunçada, ele nunca viu o menino chorar, espernear ou fazer pirraça.

Minho só não sabia que desde que se entendeu por gente Jisung nunca quis atrapalhar aquelas três vidas independentes. Ele não via o direito de reclamar se todos tinham seus próprios problemas para serem incomodados pelo pequeno fardo.

— Você está bem com isso? - perguntou.

— Uhum, eles só tomaram suas próprias decisões - afirmou com a mesma serenidade fria de antes - Não posso culpar alguém por ter prioridades.

— Você devia ser a prioridade deles... - Minho respondeu quase inaudível.

Han piscou algumas vezes olhando confusamente para o outro. Como ele poderia? Talvez tivesse escutado errado, mas antes de questionar, a voz de Minho voltou a ser ouvida.

— Ano passado você estava se formando, a separação e aquilo com seu ex... é muita coisa...

— Podia ser pior - Han se inclinou para jogar os restos de comida molhada no lixo - o divórcio saiu 2 semanas depois que descobri do Kyon, só precisei passar pelas provas finais e antes do natal meu pai já não morava mais aqui.

"Pura insanidade, como esse é o melhor cenário?" era o que Lee Minho pensava.

Apesar da sua fala tranquila, tudo aquilo que Jisung contou realmente aconteceu. Como esperar que alguém que nunca teve sua existência validada saiba se auto validar?

Para o garoto, o divórcio tardio dos pais era a resolução de um problema, não o problema.
Se o irmão foi ter uma vida, pelo menos um deles teria essa chance. Assim como Kyon encontrou no amante a chance de verdadeiramente amar alguém.
"Não seria eu de qualquer forma" era o que Jisung constantemente pensava.

Tell me that you're still mine (minsung)Where stories live. Discover now