Capítulo 19

14 1 0
                                    

Essa mina é uma daquelas fenomenais
Vitamina, é proteína e sais minerais
Ela é a vida após a vida
Despedida pros seus dias mais normais
Pra que mais?

Ela só quer paz – Projota


Ao voltar para sua mesa, Levi estava no já habitual conflito interno entre não criar esperanças de viver uma história com Fabi e querer estar perto dela para absorver toda a energia leve que ela emanava. Parecia que era só o que conseguia fazer ultimamente, revirar esse assunto em sua cabeça milhares de vezes ao dia, falhando em encontrar respostas ou paz de espírito.

Seus olhos castanhos, por força do hábito, foram parar em Fabi, que conversava aos risos com Felipe. Sentia uma vontade quase incontrolável de agradá-la, de devolver o carinho que recebia dela. Fora nisso que pensara quando comprara os bombons mais cedo no mercado, só não imaginara que ela pudesse não gostar de Ferrero Rocher. Teria que cobrar dela a lista de coisas que gostava ou poderia pedir a Felipe que lhe desse algumas dicas sobre o que dar de presente a Fabi.

Levi percebeu que sorria. Não havia se dado conta, mas esse era o efeito de Fabi sobre ele, essa leveza de espírito, o sorriso fácil, o olhar distraído. Pensando sobre isso, não notou a vinda de Felipe.

- Alguém parece longe.

- Oi, Felipe. Só me distraí um pouco. – Levi sacudiu a cabeça e voltou sua atenção para ele.

- Posso liberar aquele vídeo que te mostrei hoje mais cedo? O cliente pediu algumas alterações, mas foram só detalhes.

- Pode liberar sim.

- Certo. – Felipe fez menção de voltar para sua mesa.

- Felipe, deixa eu te perguntar uma coisa.

- Pode perguntar.

- Você conversa bastante com a Fabi, não é?

- Bastante.

- Do que você acha que ela gostaria? Minha tentativa de presente com o Ferrero Rocher não foi bem-sucedida.

- Pois é, que tipo de pessoa não gosta de Ferrero Rocher? – Felipe riu.

- A Fabi, aparentemente. – Ponderou Levi.

- Acho que ela é mais do tradicional, tipo um ouro branco ou um brigadeiro.

- Pode ser. – Levi acenou com a cabeça. – Faz sentido.

- Mas se quiser dar outro Ferrero Rocher, sem problemas. Eu como por ela.

Os dois riram juntos.

- Quero comprar algo que ela goste. Nada pessoal, Felipe, só quero agradá-la.

- Agradá-la, é? – Felipe sorriu maliciosamente.

Levi percebeu que talvez seu comentário tivesse sido sugestivo demais, mas já era tarde. Felipe, ao ver a expressão preocupada do chefe, tranquilizou-o.

- Não vou comentar com ninguém. Mas confesso que sempre achei que vocês combinavam.

- Sempre? – Levi franziu o cenho.

- Parece que a conexão entre vocês foi instantânea. Acho que a progressão disso era meio óbvia. Você gosta dela?

- Bem, talvez. – Ele ainda estava inseguro em dividir isso com alguém, especialmente sendo uma pessoa da empresa, mas confiava em Felipe. – É complicado.

- Teu divórcio recente, né?

- Isso e algumas outras coisas.

- Que outras coisas? – Felipe puxou uma cadeira próxima e sentou-se.

- Acho que o fato de trabalharmos juntos, de eu ser chefe dela e a diferença de idade são fatores bem complicados.

- Levi, a idade é só um número e acho que você sabe disso. E quanto ao trabalho, provavelmente ninguém ligaria.

- Não tenho tanta certeza disso.

- Mas o que exatamente você sente? Se é que posso fazer essa pergunta. Me diga se estou me intrometendo muito.

- Não, tudo bem. Até que é bom falar sobre isso com alguém da empresa. Eu não sei muito bem o que sinto, se for honesto comigo mesmo. Gosto de conversar com ela, me faz bem.

- Ela emana uma paz, não é?

- Sim. É tão tranquilizador ficar perto dela.

- Então fique mais perto dela. – Felipe sorriu inocentemente, falando como se toda aquela situação fosse simples e de fácil solução.

Levi retribuiu o sorriso, mas sabia que não era algo tão simples assim. Pelo menos não para ele. Seu peito ainda estava uma bagunça emocional, mas um dia tudo aquilo iria passar.

- Sabe... – Começou Felipe. – Dá pra ver que vocês se gostam pelos olhares que vocês trocam.

Levi apenas observou-o, talvez querendo evitar admitir que sim, era óbvio em seu olhar para ela que Fabi lhe atraía.

- Não acho que outras pessoas notem, se isso te preocupa. – Felipe tranquilizou o chefe.

- Será mesmo?

- Todo mundo está sempre na correria, ninguém tem tempo de ficar bisbilhotando a vida alheia. Eu noto porque estou próximo de vocês e converso muito com a Fabi.

- Sobre o que conversam?

- Está jogando verde, Levi? – Felipe riu. – Querendo saber se a Fabi fala de ti, não é?

- Claro que não. – Negou ele sorrindo, sabendo que aquilo era verdade.

- Você poderia facilitar a vida e perguntar diretamente para ela. Convida ela para um café.

- Melhor não. – Levi deu de ombros. – Enquanto eu não estiver inteiro de novo, não vou fazer bem nenhum para ela.

- Talvez ela discorde. – Argumentou Felipe. – Talvez ela sinta com você a mesma paz que você sente com ela.

- Talvez?

- Talvez. – Ele ergueu as mãos como quem dizia "eu não falei nada".

- Você é um bom amigo, Felipe.

- Obrigado, Levi. Que tal um aumento para o seu amigão aqui? – Felipe riu enquanto devolvia a cadeira ao seu lugar.

- Vou pensar a respeito.

- Pensa com carinho. Com o mesmo carinho que você pensa na Fabi.

Levi lhe lançou um olhar de falsa irritação, mas um leve sorriso dominava seus lábios.

- Não está mais aqui quem falou. – Ele voltou para sua mesa.

Levi aproveitou a oportunidade para observar Fabi por mais algum tempo, admirando seus olhos e sua concentração no trabalho. Ela era um ser de luz, uma mulher fenomenal que só espalhava coisas boas para todos ao seu redor. Levi sentia-se bem por ter despertado o interesse de alguém como ela e culpado por não estar emocionalmente disponível para lhe dar o amor que merecia.

Inevitável AmorWhere stories live. Discover now