#𝟎𝟎𝟓 𝐂𝐇𝐈𝐋𝐃𝐇𝐎𝐎𝐃 𝐓𝐑𝐀𝐔𝐌𝐀

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Notas:

Aniversário do pai hoje ne familiaaaa (não to falando de jesus).

Atualização fraquinha mas é só pra postar em uma data tão especial como essa. Estamos pertinho das 100 vizusss

All the love, Ruthinha

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─ Quando os episódios começaram? ─ a mulher sentada na minha frente pergunta.

Observo a sala enquanto pondero a resposta que darei. Presto atenção no papel de parede desgastado, em um tom fosco de azul. Encaro o relógio que provoca um barulho irritante no fundo da minha mente a cada vez que o ponteiro se move. Olho os livros empoeirados mas extremamente organizados em uma estante alta, de madeira clara.

─ Logo após o divórcio dos meus pais.

Desde que chamaram meu nome na recepção, me pergunto o porque de estar aqui. Quer dizer, eu sei, mas eu nunca me importei o suficiente ao ponto de deixar uma pessoa desconhecida me diagnosticar. Eu não quero isso, detesto essa avaliação pesada nos olhos de uma pessoa que de fato, não me conhece.

─ E você tinha quantos anos quando seus pais se divorciaram, Harry? ─ sua voz era tão baixa e lenta que chegava a ser enfadonha, mas eu me esforçava para não odiar totalmente a experiência.

─ Eu tinha sete anos. ─ ela toma um respirar mais pesado e surpreendentemente mais lento.

─ Todos nós adultos temos como reflexo da nossa vida adulta, nossa infância, Harry, mas nós lidamos com o passado de formas diferentes. Você acha que a separação dos seus pais afetou quem você é hoje em dia?

─ Não sei te responder isso, não penso sobre. ─ olho para a minha perna balançando de uma forma ansiosa e minha unha arranhando silenciosamente o estofado da cadeira.

─ Você tem contato com a sua mãe?

─ Sim, nos reunimos todas as quintas para jantarmos juntos.

─ E o seu pai?

" Ele se foi, Harry. Ele tem outra família, outro filho. Não nos quer mais. "

Pisco os olhos rapidamente. Minha mente não costuma ser muito minha amiga em momentos como estes.

─ Ele finge ser meu pai as vezes, mas não temos contato realmente. ─ digo com tédio.─ Quando isso acaba?

─ A sessão? Quando você menos perceber ela já acabou, não se preocupe. Se precisar de uns lencinhos umedecidos ou um copo de água, é só dizer.

Se eu chorar vai ser por tédio. A melancolia que a sala carrega me cansa e eu quero minha cama.

─ Eu estou bem, obrigado. ─ me limito a murmurar.

─ Ótimo, vamos dar continuidade a sessão, então. Você comentou que tem uma irmã mais velha, certo? Como você descreveria a sua relação com ela?

─ Nós convivemos, mas não nos damos bem. Sempre que nos encontramos, brigamos. Levamos vidas diferentes, mundos diferentes, sabe como é.

─ Antes da separação dos seus pais vocês eram próximos?

Antes de tudo. Não menti quando disse que não penso sobre isso, eu realmente não penso. Mas agora, lembrando de tudo, em como Gemma era extremamente protetora comigo antes que tudo acontecesse, meu coração aperta um pouco. O olhar de cuidado se transformou em repulsa tão rápido que quem se sente enjoado sou eu.

─ Arrisco-me dizer que éramos mais amigos do que irmãos. Não brigávamos por coisas fúteis como os outros irmãos faziam. Nos entendíamos e isso bastava. ─ isso bastava.

O relógio faz um barulho alto indicando que a bendita sessão havia chegado ao fim. A terapeuta se ajeita na poltrona e escreve algo rapidamente em seu caderno de couro, logo destacando a folha e a dobrando algumas vezes.

─ Nosso tempo acabou, mas quero te dizer algo antes que você vá, Harry. ─ sento de novo onde estava para a ouvir falar. ─ Não tenho tanta fé que você vai voltar para mais uma sessão. Não sou ingênua, sei que você não está aqui por pura vontade de estar bem, mas eu levo meu trabalho e minha relação com meus clientes muito a sério. Então, caso não volte, leia isto. ─ ela me entrega o papel dobrado e não espera que eu o abra.

Quando percebo já estou no elevador a caminho do hall de entrada, abrindo o papel e lendo.

"A infância é a idade das interrogações, a juventude a das afirmações, a velhice a das negações. - Paolo Mantegazza. "

Leio a frase várias e várias vezes, até que ela comece a fazer sentido no meu cérebro, o que não acontece. É apenas uma poesia, nada demais. Mesmo repetindo isso para mim mesmo, não evito dobrar o papel cuidadosamente e coloca-lo no bolso do meu sobre-tudo, o sentindo na ponta dos dedos em todo o caminho até minha casa.

─ Eu não vou voltar mais lá. ─ encaro meu reflexo no espelho e analiso minha roupa. Confesso estar um pouco mais nervoso para o jantar de hoje do que costumo estar. Talvez porque faz algumas semanas em que eu não vou lá por causa dos estudos, ou talvez isso seja apenas uma desculpa para não ter que encarar a fúria da minha irmã e a melancolia da minha mãe.

Por sorte, em momentos como estes eu tenho o Niall, a quem recorro neste momento pelo telefone.

─ Ela era tão ruim assim? Se eu soubesse, não teria te recomendado, sério.

─ Não, está tudo bem. Foi bom eu ter ido para confirmar a minha teoria de que terapeutas são meio doidos da cabeça. ─ meu amigo ri escandalosamente e eu o olho pela tela do celular.

─ Eu ficaria maluco de lidar com os problemas das outras pessoas também, então, sem julgamentos aos terapeutas doidos da cabeça.

─ Você é uma pessoa melhor do que eu, Horan. Mas me diz uma coisa, pretende fazer algo nesse final de semana? ─ sua expressão se torna confusa por completo.

─ Por que? ─ ele pergunta lentamente, como se suspeitasse de algo. ─ Você pretende fazer algo esse final de semana?

─ Bom,...Sim. Acho que estou precisando de um descanso. Tudo isso de mestrado está me cansando bastante. Comentei com Louis de mandar algumas ideias que eu tive para incluir na minha tese e ele disse que as analisaria para quando nos encontrarmos nós discutirmos sobre, então passei a última semana pilhado com isso.

─ Aquela terapeuta deve ter feito uma lavagem cerebral da pesada em você.

─ Por que? ─ questiono.

─ Eu sequer me lembro a última vez que nós saímos juntos. Eu não queria ser o cara chato e o amigo que é má influência te tirando dos estudos para ir beber, mas eu senti sua falta. Estava quase te sequestrando para te afastar desses seus livros. ─ dei uma risada genuína com o drama.

─ Nós nos encontramos essa semana!

─ Mas não é a mesma coisa, você sabe que não. Não subestimando nossas noites de pizza e futebol inglês, mas eu sinto falta de músicas ruins nas baladas, de beber até cair e dividir o microfone com você no Karaoke.

─ Se você não tivesse falado a palavra dividir e microfone na mesma sentença, eu diria que essa foi a coisa mais linda que você já me disse.

─ Você é sujo, Harry Styles. Melhore.

─ Eu irei. Meu Uber deve chegar a qualquer instante então, nos falamos depois.

Eu estava certo. Ao desligar o celular consigo ver através da minha janela o carro parado na porta da minha casa, me apresso para a porta de entrada.

Minha atenção é tomada ao ver meu casaco pendurado do lado da porta, junto a blusa de moletom de Louis. Eu irei devolve-lo logo no começo da próxima semana, não tem problema se eu usar apenas uma última vez. Ele parece muito mais confortável que o meu casaco antigo.

Com toda a minha demora e ponderação, o motorista buzina impaciente. Não penso muito quando pego a blusa em vez do casaco e saio porta a fora.


𝐀𝐅𝐄𝐓𝐑𝐎𝐏𝐈𝐀 ── larry stylinson.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora