#𝟎𝟏𝟖 𝐈 𝐃𝐎𝐍'𝐓 𝐖𝐀𝐍𝐍𝐀 𝐇𝐄𝐀𝐑 𝐀𝐁𝐎𝐔𝐓 𝐇𝐈𝐌

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─ Honestamente, acho que quando ninguém está olhando, aquela mulher belisca as criancinhas dessa escola. Por isso tem apelido de bruxa do 71.

─ Que feio, Florence. Não fale mal de outra professora, isso não é nada ético. ─ as minhas palavras são um contraste com a minha risada que escapa, mesmo que eu coloque alguns amendoins na boca para tentar escondê-la.

─ Até parece, você odeia a Olivia!

─ É apenas uma aversão, não exagere. ─ levanto e pego a minha carteira, pronto para desperdiçar os últimos 20 minutos do meu horário de intervalo como professor para ir atrás de um café amargo e de procedência duvidosa na intenção de sobreviver até o final do dia. O café daquele posto é horrível, mas não me resta outra opção.

    É meio deprimente que todos os dias neste exato horário da manhã eu me recordo de que se eu não ficasse me enrolando como um churros nos meus lençóis de manhã, e levantasse para fazer um café, boa parte dos meus problemas que envolvem o vício na cafeína estariam resolvidos. 

─  Harry. ─ Vince, um senhorzinho que trabalha como zelador na escola desde que comecei a trabalhar aqui, me chama. Ele de longe é uma das pessoas mais carismáticas aqui.  ─ Quero te mostrar uma coisa antes de ir.

   O sigo e ele me leva até o fim da sala dos professores, tirando suas luvas e arrancando as fitas amarelas em volta da minha querida Matilda, a cafeteira falecida.

─ Oh, Vince. Não me fale que isso significa o que eu imagino que significa! ─ meus olhos brilham em excitação. Ele puxa um copinho de plástico de cima da mesa e me entrega.

─ Por favor, faça as honras e seja o primeiro a testar o bom café da máquina que eu arrumei.

─ Com todo prazer!

    Pego o copo de sua mão e coloco debaixo do lugar onde espero esperançoso para um café surgir. E surge...tão quentinho que a fumaça pode ser vista de longe.

─ Que cheirinho é esse, em? ─ a voz que eu identifico ser de Lucas, o professor de educação física muito ganancioso, e sem, definitivamente, nenhum porte físico para um professor de educação física, grita por cima do meu ombro.

─ Nem vem, eu serei o primeiro. Ai seu Vi, deixa eu encher minha garrafinha toda com esse café?

─ Claro que pode, meu jovem. Aproveita. Mas vou ter que te falar, foi puxado concertar ela quando a diretora ficava em cima de mim. Ela não queria que eu concertasse.

─ Essa aí é metidinha demais para reconhecer o sofrimento dos professores, nem parece que já foi uma de nós! ─ ele desdenha e eu termino de encher minha garrafa com o mais quentinho dos cafés. ─ Muito obrigado, viu? Serei eternamente agradecido a você por não me deixar enlouquecer. ─ ele sorri fofo e eu volto ao meu lugar.

    Nem preciso chegar perto da cadeira para ver o nome do contado da minha mãe brilhar na tela do meu celular, que está em cima da mesa.

     Eu acho que mesmo depois de todas as coisas que tive de enfrentar nos últimos meses envolvendo o drama da minha família, posso sentir que o lance da terapia surtiu algum efeito dentro de mim, porque pela primeira vez meu estômago não se transforma em uma bola de gelo apenas pela menção da minha mãe.

       Mesmo assim, não atendo. A lembrança do que aconteceu no último jantar é fresca em minha mente e não quero ela agindo de forma sínica comigo como fez naquele dia, porque isso pode funcionar com Gemma, mas não comigo.

─ Harry, você não vem? O sinal já tocou faz um tempo. ─ Florence me chama da porta da sala dos professores e só assim me dou conta que passei bastante tempo encarando a tela do meu celular como um maníaco.

𝐀𝐅𝐄𝐓𝐑𝐎𝐏𝐈𝐀 ── larry stylinson.Where stories live. Discover now