04. As pequenas burocracias

1.4K 230 105
                                    

#BruxinhoFofinho

🖤🌕🍃

×───►───×

Algo em deixar Jimin em casa soava diferente dessa vez. O ômega parecia muito mais à vontade em sua companhia e Jeongguk podia ouvir isso no tom de voz dele, ou nas músicas que ele fazia questão de colocar para tocar durante a curta viagem até o casarão na Cidade Alta. Seus beijos por todo o rosto de Jimin faziam seus lábios formigarem, querendo sentir o gosto da boca dele, do cheiro e da voz gemendo o seu nome. Não havia nada que pesasse mais em seus pensamentos do que aquilo e até achou que aconteceria depois de darem um beijo de focinho um tanto demorado, mas Jimin acabou se afastando, todo tímido.

Apenas dois dias tinham se passado, mas ambos sentiam que o que apertava o peito não correspondia à quantidade de horas que se conheciam. Não havia como negar que era algo de outras vidas e acostumar-se àquela enxurrada de sensações era um processo lento e gradual.

Despediram-se com promessas feitas por Jeongguk de que dirigiria com cuidado e tentaria dormir cedo, pois a estranha angústia revelada após o alfa contar qual era a sua teoria do que acontecera no passado, ainda surtia efeito em seu peito e Jimin comprometera-se a esquecer e seguir em frente, pois não havia nada que pudessem fazer para extinguir a cicatriz de Jeongguk. Ela sempre estaria lá e pensar demais sobre aquilo não adiantaria nada.

Jeongguk passou por toda a orla da Praia da Costa e, sem demora, entrou na via que o levava à ponte para chegar à Ilha do Boi. Seguiu pelas ruas bem asfaltadas e, naquele horário da noite, a ilha tinha uma certa magia com todas as lâmpadas arredondadas que seguiam os fios dos postes. O lugar parecia uma maquete de cidade americana no natal, mas sem a neve e a decoração vermelha e dourada.

Sua casa ficava na ponta mais afastada da ilha e o seu quintal era a praia. Em um universo paralelo, Jeongguk gostaria de morar ali, mas não havia uma memória com a sua mãe na praia, sentindo as ondas frias baterem em suas canelas finas. Ele nem tinha cachorro, mas já se imaginara com um labrador correndo na areia junto de seu pai, parando e sentando-se para assistir ao pôr-do-sol, pois estavam cansados demais.

Todas as suas memórias mais recentes naquela praia quase particular eram das suas preces em noites de lua cheia, das lágrimas derramadas por um pedido feito de todo o coração. As mais antigas eram das manhãs em que acordava após um cio, há cerca de quatro anos. Ele achava que um mergulho restauraria as suas energias e, de fato, por alguns minutos, Jeongguk se sentia curado e menos exausto. A pele bronzeada era advinda dali, de todas as tardes em que a praia ficava cheia durante o fim de semana e Jeongguk ficava sentado de sunga na areia, com uma cerveja gelada em mãos e Yoongi branco de protetor solar logo ao lado.

— Não entendo como você consegue gostar desse lugar lotado — reclamou o amigo, andando entre as pessoas com cuidado para não chutar areia na canga delas.

E Jeongguk nunca respondia nada, pois não sabia como explicar que a praia lotada lhe trazia uma certa normalidade em dias tão vazios.

Entrou em casa e as janelas fechadas o impediam de ouvir o som das ondas batendo na areia, o resto era só o silêncio de uma casa grande demais para pessoas que nem se conheciam. Perguntava-se qual era a finalidade de morar tão perto da praia se cada canto daquela casa parecia pertencer a um apartamento duplo no topo de algum prédio de qualquer megalópole. O sofá branco na sala principal permanecia intocável, parecia que ninguém se atrevera algum dia a sentar-se ali, e o resto da casa acompanhava o mesmo ritmo de tapete sem areia ou canga estendida no varal.

O único lugar que tinha vida, além do seu quarto, era a cozinha. Sempre havia algo assando ou cozinhando, as mãos de Mary eram mágicas e Jeongguk não podia recusar uma boa refeição feita por ela, mesmo não estando com fome.

Nem tão cético assim × jikookOnde histórias criam vida. Descubra agora