Epílogo - Em algum lugar no passado

938 124 77
                                    

#BruxinhoFofinho

🖤🌕🍃

×───►───×

A noite era silenciosa naquele lado do vilarejo, mas Dimitri mal piscava encarando o breu da sua cabana. Seu corpo suava e ele tentava respirar mais calmamente para escutar qualquer som do lado de fora, mas tudo o que ouvia era o cantar dos grilos e o nervosismo ampliava-no. Podia jurar que havia dezenas deles rodeando a sua cama.

Ansiava por aquele silêncio, mas os uivos eram esperados, assim como o ranger de dentes e a correria insana de uma alcateia. Já ouviu aquele som antes e não queria ouvir novamente, mas uma guerra estava em iminência e Dimitri queria fazer mais do que ficar sentado esperando. No entanto, para que os seus serviços fossem requisitados, alguém deveria estar doente ou gravemente ferido. Ninguém procurava por um curandeiro sem necessidade.

Era um ômega que possuía as mãos verdes. Tudo o que tocava florescia, sua cabana tinha trepadeiras nas janelas, seu jardim era repleto de árvores frutíferas e a grama do seu pasto nunca se secava. Usava os segredos das plantas para curar, sabia o que acalmava e o que limpava feridas, o que podia ser ingerido e o que servia apenas para seus unguentos.

Caiu no sono sem perceber, repetindo os versos para a Lua, mesmo que não conseguisse vê-la, escondido nos cobertores em sua cama.

Grande Lua Cheia, atenda os pedidos do seu devoto

E proteja aquele que me deu a vida e me ensinou tudo o que sei

Não peço muita coisa, somente que ele volte para nossa casa e preencha o espaço com o seu aroma de acácias

Santa Lua, sei que meus pedidos se repetem, mas a guerra não me resta escolhas a não ser pedir pela vida do meu pai

Grande guerreiro que dá a vida em nome da nossa alcateia, lutando para que o nosso sangue não se perca na morte.

E acordou assustado ao sentir o focinho gelado do seu pai farejando-o ao chegar da vigília noturna. O grande lobo marrom avermelhado saiu do quarto e quando Dimitri levantou-se, agradeceu à Lua por mais um dia que ele retornava para casa. Na cozinha, Tarcísio já estava com um grande manto de pele sobre os ombros, cobrindo a sua nudez.

— Como foi a noite? — Dimitri perguntou, puxando a túnica caída pelos ombros para cima.

Tarcísio suspirou, mordiscando um pedaço de pão feito na manhã anterior. Dimitri sentou-se à mesa, pois sabia que o pai pensava nas melhores palavras para responder-lhe, olhando demasiadamente para os utensílios dispostos nas prateleiras.

— O senhor pode me contar, não sou mais uma criança — reclamou.

— Gostaria que ainda fosse, seria mais fácil lhe esconder a verdade. — Encarou o filho nos olhos, reunindo coragem para tratá-lo como o adulto que era. — Recebemos um comunicado da Alcateia Setentrional, nos informando que eles foram atacados e que agora respodem somente à Alcateia Lua Vermelha. Eles estão tomando todos os vilarejos próximos e não vão demorar até chegar aqui.

— Não gosto dessa alcateia, eles fazem coisas terríveis com os ômegas — respondeu, com um nó pulsante na garganta.

— É por isso que vamos lutar. Os guerreiros da Lua Cheia, alcateia logo ao lado, irão se juntar ao nosso exército para juntos resistirmos. Eles chegam hoje com alguns guerreiros da Setentrional que conseguiram fugir. — Tarcísio levantou-se, colocando a cadeira no lugar. — Vou descansar um pouco para recebê-los mais tarde.

Nem tão cético assim × jikookOnde histórias criam vida. Descubra agora