Aurora e Honra

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A mulher encarava a lista de demônios com um aperto no peito. Alguns demônios que ela conhecia e sabia que eram extremamente fortes, uns dos mais fortes do torneio já haviam regressado ao seu mundo. Todos com grandes decepções em seus rostos, outros com um tormento enorme em seus olhares, mas todos com uma emoção negativa em seus peitos.

Aquilo a deixava nervosa.

Nervosa ao ponto de morder s unha do polegar, tentando acalmar a mente e procurar uma luz em meia ao turbilhão que tomava conta de seus pensamentos.

Não conhecia a índole de todos os demônios do torneio. Se quer conhecia as de todos os que pertenciam ao seu reino. Mas a rainha Helena conhecia algumas poucas pessoas do torneio e uma parte de suas personalidades. Com isso em mente, a mulher separou os participantes do torneio em três grupos.

O grupo maior era o daqueles que ela não conhecia e não sabia como imaginar, ao certo, um reino comandado por eles. Nele haviam crianças e adolescentes do reino central e dos reinos banidos. O segundo maior grupo era dos que ela conhecia e que imaginava que iriam ser comandantes de um reino calmo, pacífico e próspero. Neste estavam os seus filhos, os membros da guarda real, e alguns outros os quais ela conhecia as famílias e sabia que eram pessoas boas. E o terceiro, e menor grupo, estavam aqueles que ela sabia que, caso ganhassem, o reino estaria em sérios apuros.  Todos eles sendo parte de famílias de criminosos de peso em seus nomes. Dentre os mais preocupantes dos membros deste último grupo estavam todas as crianças e adolescentes do Clã Star.

Todas, menos uma.

Um dos dois demônios que atingiram a fase adulta durante o torneio.

Black Star.

O seu filho adotivo. Eles estava inserido no segundo grupo de sua análise. Muitos dos demônios que a auxiliavam a monitorar o torneio através do cristal e muitos dos membros da guarda real estavam confusos e revoltados com a presença do demônio de cabelos castanhos e olhos da cor de mel no segundo grupo selecionado pela rainha. Mas Helena não se abalava com a critica e muito menos com a revolta de seus súditos.

Ela havia conversado com Stiles Stilinski quando o mesmo estava preso e o seu livro havia surgido na cela. Ele havia lhe oferecido o livro para ser queimado antes mesmo de atravessar o portal para o mundo humano.

“Queime-o, minha rainha. Não tenho o direito de concorrer ao trono de seu marido.”

Foram as palavras do rapaz, hoje um homem feito, enquanto sustentava um olhar sério e ferido em sua direção.

Ela se lembrava de ter sorrido em sua direção,  antes de lhe explicar tudo.

- ainda vai comer, minha senhora? – perguntou uma dos empregados responsáveis pelas refeições,  chamando a atenção da mulher de longos cabelos da cor de cobre.

- não, minha querida, pode retirar tudo. E, por favor, diga a alguém para preparar a comida da protegida e me avisar quando estiver pronta. Quero participar da entrega, hoje – a mulher se ergueu encarando o prato limpo onde antes comera por alguns bons minutos.

Levou a mão a uma máscara dourada de ouro com cristais azulados a decorando. No Inferno, quando um ente querido morria, o luto era representado pelo uso de uma mascara de qualquer tipo de metal, sem expressão alguma, apenas com os orifícios por onde poderia enxergar.  Anos atrás, antes mesmo de ter o primeiro filho, antes mesmo de se quer se casar, Helena havia jurado a si mesma, que se o seu marido ou esposa fosse uma boa pessoa e ela amasse de verdade, caso essa pessoa morresse, usaria a máscara do luto pela eternidade.

A rainha encarou a mesa com tristeza. Sentia-se só, ali. Onde antes tivera tantas refeições na companhia do marido, e, posteriormente, dos quatro filhos. Mas, agora, ela comia todas as suas refeições sozinha. A solidão lhe tomava aonde quer que fosse. Havia perdido o marido e o luto não estava estampado apenas na mascara de ouro que vestia. Ela já não mais transitava pelo castelo ou pelo reino como antigamente. Ela ia do quarto para o salão de monitoramento, de lá para o salão de refeição, e deste para o quarto.

De vez em quando ela era vista no jardim, com um olhar melancólico, mas apenas em raros momentos.

Quando saía do castelo, Helena seguia para os mesmos lugares, sempre. A praça central, onde as pessoas se reuniam para ver a lista de demônios que ainda concorriam e dos demônios que estavam batalhando no momento, além de ver a fase em que o torneio se encontrava. Ela também visitava o restaurante favorito do marido, sempre pedindo o prato favorito do falecido. E, por último, visitava o monumento que era construído para o rei em vigência. Durante o torneio, a estátua do ultimo rei era exibida por seus últimos momentos antes de ser destruída para ser remoldada.

E pronto.

Esses eram os ambientes que Helena passou a frequentar após a morte do marido. No entanto, de uns meses para casa, um local havia sido adicionado aos ambientes em que a rainha era vista de vez em quando: o salão de treinamento.  

- estou pronto para ir, senhora. Podemos ir quando quiser – a voz de um homem alguns bons séculos mais velho lhe chamou a atenção, a despertando de seus devaneios.

- Então vamos, Scrum. Não quero deixá-la com fome – a mulher como coroa se virou para a porta, ignorando completamente a existência do enorme carrinho com comida que o homem puxava com certa facilidade.

O carrinho se assemelhava a um pequeno trem, com  o corpo separassem pedaços,  como vagões,  ligados um ao outro por laços amigos criados por cristais. No lugar de rodas, o objeto tinha cristais que o faziam flutuar sempre que um demônio do tipo terra o tocasse na barra que o guiava, indicando que o objeto iria se mover. Eles marcharam pelos corredores do castelo  em silêncio. Scrum, o servo, não se sentia muito confortável na presença dos membros da realeza, mesmo que os reis e dois dos príncipes tratassem com a todos como iguais. Já, Helena, não tinha assuntos para debater com o homem, muito menos estava preocupada em procurar um. Estava sobrecarregada com o torneio e com o receio do que poderia acontecer no mundo humano.

- senhora! Se encontra aqui. Está indo para o salão de treinamento? – a voz de Cernus ecoou pelo corredor, chamando a atenção da rainha e do ajudante de cozinha.

- precisa de algo, Cernus? – inquiriu Helena observando o homem de armadura se aproximar a passos um tanto rápidos.

- não. Apenas vim avisar pessoalmente que os dois solados foram convocados, como pediu, e já aguardam a vossa presença no salão do trono – ditou o pai de Kalli envarando a rainha o fitar por sobre os ombros, enquanto se aproximavam do salão de treinamento.

- Ótimo! Terei a nossa conversa em breve. Agora, vim ver como está a pupila do meu filho –

- ainda com isso? – resmungou o homem, em murmúrios

Estava indignado. Aquele salão de treinamento era de uso exclusivo da família real. Nem mesmo a guarda real podia usá-lo sem a autorização do rei ou da rainha. Mas uma plebeia havia sido escolhida pela rainha para ter o privilégio de treinar naquele salão pelo resto do tempo do torneio, o que, naquele mundo poderia ser décadas ou séculos, já que a linha temporal do mundo humano era completamente diferente do Inferno. E o que mais o incomodava era a justificativa da rainha para o privilégio fornecido a plebeia. Se ele pudesse usar aquele salão para treinar os soldados, a guarda real melhoria em trezentos por cento. Mas o uso fora negado pelo rei e, agora, pela rainha também.

Aquilo o enfurecia. O fazia queimar de ódio por dentro.

Nas Helena ainda era a rainha, e ele a respeitaria, independente das escolhas dela.

Os homens apenas esperaram, pacientemente, a rainha adentrar o recinto para que, em seguida, eles o fizessem. A mulher levou as mãos para as maçanetas das portas. As puxou suavemente  se surpreendendo quando as portas não se mexeram. Ela colocou um pouco mais de força e ainda encontrou resistência por parte dos objetos.

- precisa de ajuda, senhora? – inquiriu Scrum vendo a mulher com coroa encarar a porta com confusão..

- Não.  A porta só está... dura – ela sentiu o metal da maçaneta esfriar rapidamente, e logo soube do que se tratava.

Ela sorriu de canto.

Puxando as maçanetas com força o suficiente para arrancar as poetas, se quisesse, ela conseguiu abrir ambas as portas, surpreendendo os dois homens com a visão que havia atrás delas. Uma grande barreira azul clara cobria toda a porta, impedindo a passagem.

- como...?! – murmurou Cernus, perplexa.

Um calafrio percorreu os corpos dos três e eles suspiraram, liberando neblina por entre os lábios,  os surpreendendo mais ainda.

- ela está melhorando rápido  - comentou a rainha unindo as mãos diante do peito.

Ela uniu as pontas dos indicadores acima das mãos, e as pontas dos polegares abaixo dos pulsos. Os dois homens viram a parede a sua frente reagir ao sinal da mulher mascarada quando um pequeno buraco igual ao espaço entre os dedos da rainha surgiu ali. Helena afastou as mãos e o buraco na parede se expandiu, criando uma passagem pelo muro de gelo. Ao longe, no centro do salão, eles puderam ver uma garota sobre uma perna, com uma calça que apresentava um tecido longo entre suas pernas, que descia de sua cintura até a altura do tornozelo. A sua camisa era de manga cumprida, com bordados brancos sobre o peito e nos ombros.  Ela estava sobre uma das pernas, enquanto a outra estava erguida, flexionada na posição de lotus, ao mesmo tempo em que suas mãos estavam erguidas ao ar, em posições distintas.

Havia amadurecido, com o passar do tempo. E demônios cresciam mais rápido nos primeiros dez mil anos, passando a reduzir drasticamente a velocidade de crescimento do corpo ao atingir certa idade, que variava de demônios para demônio. Os cabelos antes na altura dos ombros, agora estavam curtos, rentes a cabeça. Os cristais de gelo que se espalharam pelo ambiente, dominando o salão de treinamento estavam todos posicionados de modo que qualquer um podia ver que todo aquele gelo era obra da criança.

- Cooller, está na hora de comer – a rainha bateu palmas, chamando a atenção da garota para si.

A garota abriu os olhos azuis como o céu e, instantaneamente, todo o gelo ao seu redor se quebrou, sendo pulverizado e espalhando-se pelo ar como poeira.

- Eu fico agradecida, minha rainha – a garota desfilou pelos cristais de gelo em queda, se dirigindo para o carrinho puxado por Scrum.

- vejo que melhorou consideravelmente do último mês para cá – comentou Helena passando a mão pelos fios curtos da criança, que agora parecia ter quinze anos humanos.

A garota apreciou o gesto, lançando um sorriso gentil para a mais velha.

Cernus apenas a encarou com seriedade.

- eu agradeço o reconhecimento e fico lisonjeado. Tudo graças aos seus cristais, minha senhora. Esse salão é incrível! – exclamou com felicidade genuína.

- É claro que é! Este salão canalizou a magia da família real por milênios. E passou a reproduzir parte dela para o fortalecimento daqueles que treinam aqui. Qualquer um ficaria forte rapidamente treinando aqui – comentou o Caeros observando as paredes cristalinas e douradas do salão.

- mas são poucos os que tiram o verdadeiro proveito dele – comentou a rainha ignorando o veneno nas palavras do guarda.

Cooller não se incomodou. Já estava mais do que acostumada com a implicância de Cernuns e a inveja de sua filha Kalli. O retorno da garota ao Inferno havia gerado uma grande reviravolta em sua vida.

Cooller era uma plebeia comum, filha de fazendeiros da região das geadas, onde o clima do reino era bem mais frio e nevava quase o ano todo. Quando os seus poderes mágicos foram trancafiados no seu livro, durante da noite da morte do rei, a sua família explodiu de ansiedade. Era a única dos doze irmãos que tinha a idade para participar do torneio. Ninguém de sua família esperava que ela vencesse o torneio. De forma alguma, todos foram bem pessimista alegando que seria muito se ela conseguisse durar na primeira fase do torneio. Mas ela não se incomodou. Sempre fora muito realista. Era coisa de família.  Todos sabiam do que eram feitos e até onde poderiam ir.

No dia da viagem entre os mundos, a sua família lhe desejou boa sorte de forma calorosa e ela partiu. Anos se passaram até que ela retornasse ao Inferno, chorosa. Fora recebida com calor por sua família e admiração pelas pessoas do vilarejo em que morava. Nenhum dos moradores do seu vilarejo fora tão longe no torneio. Ela fora a última deles a retornar. O penúltimo havia retornado quase dois anos antes de Cooller, para a admiração de sua família. Maior surpresa ainda veio na semana seguinte. Uma comitiva real apareceu no vilarejo, deixando todos apreensivos. Esperavam péssimas notícias sempre que a guarda real surgia, desde que o rei fora morto.

“Um cúmplice do assassinato ainda se encontra no reino.”

Eles temiam ouvir.

“Há um buraco na barreira de proteção e uma guerra vai ser travada”.

Era o seu maior pesadelo.

Mas a comitiva apenas exigiu que Cooller os acompanhasse até o castelo, por ordens da rainha. Todos a encararam com receio. Mas ela aceitou, uma vez que não se viu com muitas opções e os acompanhou. A rainha exigiu vê-la pessoalmente, na sala do trono, deixando a criança mais nervosa ainda. A rainha era alta, como todos ao demônios adultos, alta o suficiente para fazer a garota erguer a cabeça, mesmo com ela estando sentada em seu trono no pedestal do salão.

“Você enfrentou Black Star no mundo humano, não foi?”

Quis saber a rainha. Ela apenas confirmou com um meneio de cabeça.

“Mas você não foi desqualificada do torneio por ele, foi?”

A rainha mascarada perguntou e Cooller sentiu, pela primeira vez, medo de responder uma pergunta com sinceridade. Sabia o que Stiles havia feito naquele mundo. Uma grande parte dos candidatos sabiam. Cernus se irritou e questionou, agressivo, se ela estava envolvida com o assassino do rei. Cooller sentiu o corpo gelar de medo. Ela temia ser confundida com um traidora apenas por não ter o seu livro queimado pelo demônio mais velho naquela batalha.

Helena pareceu perceber o seu receio mas nada falou. Sem muitas opçõemuia garota contou a verdade, e os guardas a acusaram de traição. Mas a rainha, Helena ordenou a parada imediata do ato. A mulher lhe explicou que não havia problemas, e que estava curiosa com o caso. Quando Cooller explicou de forma mais detalhada, a mulher sorriu em sua direção e lhe fez uma proposta inesperada:

“você gostaria de ser a pupila do meu filho?”.

Para a surpresa de Cooller e dos guardas, Helena ainda considerava Black Star como o seu filho. A rainha explicou os detalhes da proposta: Cooller moraria na instalação dos guardas em treinamento e seria treinada para ser um membro da guarda real futuramente. Mas ela não treinaria com os recrutas ate ter a idade necessária. Ela treinaria como os seus filhos treinaram até lá. A garota deveria fortalecer o potencial que Black Star enxergou nela. E quando Black Star retornasse ao Inferno,  ele a treinaria pessoalmente para ser um membro do mesmo escalão que ele, Vernon Boyd e os irmãos Steiner.

“O meu filho tem o dom de enxergar o potencial das pessoas. Se ele enxergou algo em você,  então vale a pena investir em seu futuro.”

“Por que faria isso? Por que ainda o considera o seu filho?”

A rainha sorriu por trás da máscara e lhe explicou tudo, gerando um alívio na garota, que não hesitou em aceitar a proposta. Quando Cooller contou para a sua família sobre a proposta da rainha, todos ficaram embasbacados. Jamais pensariam que qualquer um dos membros de sua família fossem capazes de chamar a atenção da família real ao ponto de a própria rainha o convidar para ser parte da guarda real.

- Alguma notícia do meu mestre? – ela inquiriu vendo a rainha negar com a cabeça.

- o mundo humano costuma ser bem pacifico na maior parte do tempo, devido a nossa diferença na linha temporal –

- Faz sentido – ela comentou enchendo a boca com comida.

- Amanhã é o dia em que entregaremos as oferendas aos participantes. Já decidiu o que vai dar e para quem dar? – inquiriu Helena observando a criança menear em positividade.

- eu só conheço Black Star, agora, no torneio. Então só vou fazer oferenda para ele -

- então será para ele – resmungou Cernus com seriedade.

Pela porta, eles puderam ouvir um sapato ecoar a cada passo que era dado na direção daquele salão, chamando a atenção de todos pela velocidade em que se aproximava. Uma mulher com uma túnica surgiu na porta do salão de treinamento, ofegante. Ela estava exausta de correr por todo o castelo.

- Achei! Finalmente! – exclamou com a respiração ofegante.

- o que foi? – inquiriu Cernus, nervoso, sabendo muito bem quem era aquela mulher.

- Minha rainha! Problemas! Urgente! –

- o que houve? – indagou Helena já caminhando para fora do salão.

Cooller não tinha o menor interesse em os seguir. Estava faminta e precisava reabastecer a energia do corpo que gastara com o treinamento. Mas ao ouvir as palavras seguintes da mulher, ela mudou completamente de ideia.

- Black Star... está lutando de novo – disse a mulher que trabalhava no monitoramento do torneio através dos cristais.

Helena havia solicitado que cada vez que um de seus filhos entrasse dm batalha, ela deveria ser notificada.

- ótimo! Contra quem? - inquiriu com seriedade.

A mulher engoliu em seco e encarou a mais velha com preocupação e receio.

- Contra. Quem? – a rainha perguntou, pausadamente e a mulher lambeu os lábios,  abaixando a cabeça.






A porta do café se abriu, a assustando, ela se virou para a frente,  vendo o parceiro sair do café com dois copos, uma sacola com donnuts, um pirulito no bolso externo do paletó  e o celular numa mão.  Ela estava aterrorizada. Logo agora que havia descoberto tudo, o seu parceiro aparecia. Logo agora que ela estava tendo um ataque de pânico e incapaz de esconder suas emoções.

- Dread acordou –

A mulher tomou uma expressão aterrorizada e o homem estranhou.

- está tudo bem? – ele perguntou preocupado.

- ASSASSINO! – uma mulher berrou, a plenos pulmões, chamando a atenção de muita gente, incluindo os dois agentes.

Os dois se viraram na direção do grito, que era a mesma direção de Stiles. O castanho estava ao lado de uma mulher com um carrinho de bebê. A mulher gritou e se abaixou sobre o carrinho, tentando proteger o filho. Cora e Luke olharam mais para cima, se surpreendendo ao observarem um cristal enorme, maior do que uma roda de jeep, cair na direção do castanho e da mulher com carrinho, que eram os únicos naquela faixa de pedestres no momento.

- Porra! – praguejou Luke já largando o café e os donnuts, ao mesmo tempo em que guardava o celular e puxava a arma do coldre.

- não – murmurou Cora levando as mãos aos lábios.

Cora assistiu, abismada, a confirmação de sua teoria. Stiles girou no próprio eixo, erguendo a perna e acertando um golpe do calcanhar no cristal, passando a disputar força com ao magia. Um humano não teria chances contra aquela coisa, mas o castanho estava se saindo mais do que bem contra o ataque do ser interdimensional.

- Porra! Tinha que ter outro demônio! – praguejou Luke já instruindo as pessoas a correr, exibindo o distintivo.

Stiles, ainda medindo forcas com a magia, disse a mulher para correr com o bebe dela o mais longe que conseguisse. Ela o obedeceu, abismada, empurrando o carrinho com o máximo de velocidade que conseguia sem virar o mesmo. O castanho saltou, usando a magia alheia de apoio, realizando um mortal no ar.

As pessoas encararam, perplexas, o homem ir muito mais alto do que um humano poderia alcançar. A magia que antes era empurrada pela castanho, agora atingia o solo, com voracidade, após seguir com o seu percurso, criando um pequeno buraco no asfalto. O castanho caiu, exatamente, sobre a pedra transparente e brilhante, se mantendo sobre ela e lançando um olhar arrependido para Cora.

Ele sabia que ela o veria. Sabia que ela descobriria tudo. Mas ele não poderia simplesmente deixar aquela mulher a sua criança morrerem por sua causa apenas para manter o seu disfarce humano.

- me desculpe – o castanho sibilou para a agente,  que lhe encarava com olhos arregalados de perplexidade e medo.

- ASSASSINO! -  a mulher voltou a berrar.

Stiles ergueu um olhar furioso para os céus, vendo uma mulher com asas manter distancia com certa altitude. A demônio alada apontou com as mãos para o castanho e mais um cristal surgiu diante delas, desta vez com uma cor mais amarelada. Stiles arregalou os olhos e se concentrou, cerrando os punhos.

O demônio rugiu, jogando as mãos para o alto e o seu corpo se transformou rapidamente em sua forma de batalha. Cora sentiu o peito apertar forte quando o castanho se transformou. Agora era para valer. Não havia duvidas.

Stiles era Black Star.

A morena assistiu, assustada, a magia alheia ser disparada na direção do demônio do livro negro. Stiles saltou para trás e golpeou os carros próximos ao cristal que estava no chão com a cauda, os empurrando para trás. Os humanos se assustaram e gritaram. As duas magias colidiram, e explodiram como uma bomba, assustando ainda mais os civis.

- puta que pariu! Essa vai ser feia – comentou Luke se aproximando de Cora – não é só um demônio. É o Black Star –

- EU VOU ACABAR COM VOCÊ! – a mulher gritou e só então os dois agentes conseguiram localizar ela no ar.

A demônio girava no ar com as asas encolhidas lhe cercando o corpo. Tudo o que os dois humanos conseguiram ver foram os seus cabelos brilhando em vermelho, antes de se transformarem em cristais transparentes que emitiam uma luz rosada. O corpo da demônio cresceu em tamanho, e um longo vestido rosa com tom acinzentado surgiu ao redor do seu corpo. Duas asas maiores do que as anteriores foram exibidas. Asas típicas de morcegos, e uma pelagem cristalina lhe cobria o peito, próximo ao pescoço. Os cristais em sua cabeça se estenderam até o seu rosto, cobrindo a área onde antes deveriam haver olhos. Em seu vestido, grandes ombreiras com garras ornamentavam o tecido rosado. O seu nariz se tornou um pouco mais arrebitado, forçando as suas narinas a crescerem um pouco. A sua boca ganhou linhas em suas laterais, e seus dentes se tornaram pontiagudos. As suas pernas eram finas, mas definidas, e seus pés eram magros com os ossos marcados e garras enormes. Em seu calcanhar, um dedo extra surgiu  e sua garra era tão longa e curvada que quase lhe servia de salto alto. As suas mãos eram bonitas e os seus braços tinham uma musculatura um tanto admirável. Em sua cabeça, ao lado de suas orelhas, chifres cresciam para os lados, pequenos e curvado, bem como em seus cotovelos.

- VOCÊ VAI MORRER AQUI! – a demônio gritou com uma voz mais gutural, surpreendendo aos humanos, que agora já corriam por suas vidas como se não houvesse amanhã.

- O QUE PORRA PENSA QUE ESTÁ FAZENDO, LYDIA?! – o albino berrou para a ruiva, que  apenas voltou a bater asas.

- MATANDO VOCÊ! – a ruiva berrou de volta antes de abrir a boca o máximo que conseguia, fazendo as linhas ao lado de seus lábios se abrirem, indicando que ela tinha a boca maior do que aparentava.

Um feixe de luz fora emitido do fundo da garganta da demônio sem olhos. Esse ataque fora ainda mais rápido do que os anteriores, Black Star deu um mortal para trás,  desviando do ataque. Mas o carro atrás de si fora atingido e explodiu quase que instantaneamente, sendo arremessado para cima. A explosão acertou as costas do demônio albino, que fora jogado para a frente. Lydia girou no ar, com as asas fechadas, descendo como um míssil na direção de Black Star. O albino se recuperou da explosão apoiando a mão no solo, antes de cair no chão, e saltando, retornando ao eixo normal. Quando o homem se virou para a adversária, a mesma lhe acertou com os dois pés, o derrubando no chão. A velocidade da demônio fez com que ela ainda arrastasse o mais velho pelo asfalto, arranhando suas escamas.

- Eu vou te fazer pagar por cada lágrima que o povo derramou pelo meu pai – a princesa proferiu, entredentes, antes de girar em um mortal para trás, lançando o outro demônio para cima.

A mulher com asas apontou com uma das mãos para o albino e outro cristal surgiu diante dela, e fora disparado imediatamente, não dando tempo ao outro para tentar desviar. Stiles conseguiu diminuir o impacto da pedra em seu corpo com as mãos, mas ainda sentiu a dor forte do golpe. Os ossos de seus braços protestaram com o ato de segurar o projétil, mas ele sabia o que aconteceria se não o parasse com as mãos.

A dor em seus braços era mais um alívio do que um tormento.

- nós confiamos em você! - a ruiva de cabelos duros como pedra rosnou entre dentes, antes de abrir a sua bocarra e disparar uma esfera de luz contra o Star, que se jogou no chão, ainda segurando a pedra com as mãos, desviando do ataque.

A esfera avançou até atingir um carro, o explodindo e o virando no ar.

- NÓS AMAMOS VOCÊ! – ela vociferou agarrando um carro com as mãos e o arremessando no seu adversário , o vendo correr para o lado, desviando.

O carro colidiu com uma vitrine, invadindo a loja, quase acertando os clientes e funcionários que ali se escondiam. Stiles saltou um carro, deslizando por ele, aproveitando para se aproximar de Lydia no processo. Ele jogou a pedra que a mulher expeliu das mãos para cima, agarrando o material com a cauda e avançou contra a ruiva. Ela tentou desferir um soco nele, mas o homem segurou os seus braços, a imobilizando. A ruiva abriu a bocarra para disparar um feixe de luz a queima roupa, mas fora impedida quando a cauda dele a golpeou com o próprio cristal na cara, quebrando alguns dos seus dentes e arrancando sangue do seu nariz.

O albino largou a mulher e m um salto, aproveitando para levantar voo.

Lydia abriu as asas, rugindo de fúria,  e levantou voo, seguindo o Star.

- EU DEITAVA A CABEÇA EM SEU COLO PARA QUE ME CONTASSE HISTÓRIAS! – a mulher voltou a vociferar parando no ar e golpeando o nada com as maos3na direção do outro demônio

Cada golpe da mulher era um cristal enorme que voava na direção de Stiles, que passou a desviar dos ataques com eximia perfeição. Mas aquilo era algo que Lydia já esperava. Ela seguiu lançando mais magias. Stiles desviava de todas voando baixo, serpenteando por entre os carros, sem nunca se afastar do ponto em que a batalha estava acontecendo. Ele não queria envolver mais humanos, principalmente depois de perceber que sua irmã adotiva estava louca de ódio por si. Louca ao ponto de atacar um bebê que se encontrava no caminho. Ele temia seguir na direção de Derek e acabar envolvendo mais humanos ainda. Mas ainda havia algo que o impedia de sair dali. E não era Cora.

- O MEU IRMÃO TE IDOLATRAVA! -

Ele não queria aquela luta.

- MINHA MÃE LHE AMAVA COMO UM FILHO! -

Ele não queria enfrentar Lydia.

- EU TE AMAVA, DESGRAÇADO! -

Ele não queria enfrentar nenhum dos seus irmãos adotivos, os quais ele sabia que todos estavam naquele mundo. Cada acusação que Lydia soltava, ali, naquela batalha era como uma favada em seu peito. Ele sabia que,  diferente de Helena, os seus irmãos não sabiam da verdade sobre a morte do pai deles. Helena sempre soube da verdade, antes mesmo de tudo acontecer. Mas Lydia... ela era diferente. Era tão vitima quanto o próprio rei.

Stiles não queria bater nela. Não queria usar magias nela. Muito menos queria queimar o seu livro. Muito pelo contrário, ele desejava, do fundo do coração, que algum dos seus irmãos ganhasse aquele torneio. Qualquer um que fosse. Ele se sentiria menos culpado pela morte do rei.

- VOCÊ TINHA UMA COROA! – a ruiva gritou e Stiles se distraiu com os seus próprios pensamentos, o que resultou em seu ombro ser atingido pela esfera, o derrubando no chão e o fazendo rolar pelo asfalto.

- AAAAAAAAAARGH! -  a mulher, berrando de dor, abriu os braços e jogou a cabeça para cima.

Por sua face, lagrimas rolavam. Ela rugiu ainda mais alto e uniu as mãos acima da cabeça. Um diamante enorme surgiu ali. Era maior do que um carro de grande porte. Aquilo assustou Cora e Luke. Os dois agente encaravam a luta, de uma boa distância, abismados. O mineral mágico fora disparado contra o demônio do livro negro que se erguia lentamente. Stiles havia ficado em choque com o urro de dor da ruiva. Lydia realmente estava sofrendo naquela situação.

O albino cerrou os punhos e avançou contra a magia adversária.

- ele vai mesmo bater de frente com aquilo?! – exclamou Luke, surpreso.

Stiles inclinou o corpo, arqueando as costas, passando a dar a volta na magia mineral. O enorme cristal seguiu o seu percurso até a sua ponta afiada perfurar o asfalto, enterrando a joia interdimensional parcialmente. Luke perdeu o demônio de vista e quando se deu conta, a demônio atacante já estava se virando para defender um golpe do demônio adversário.

- quando ele chegou lá? –

- Eles são mais rápidos do que humanos, Luke. E são mais rápidos ainda em forma de batalha – comentou Cora ainda com os olhos ardendo.

O albino saltou quando a mulher desferiu um soco, desviando do golpe. Ele passou a girar com o corpo deitado no ar, várias vezes e com velocidade, como uma serra. Lydia cruzou os braços esperando pelo chute. A ruiva entreabriu os lábios, surpresa. Stiles parou de girar e a perna do mais velho passou direto pelo corpo da mulher, pois ele nunca pensou em usar um chute como um ataque. Quando a cauda desceu com força sobre a ruiva, também passou direto, surpreendendo o Star. Lydia havia desviado ao mover o corpo para o lado no último segundo. O demônio com escamas apenas arregalou os olhos, perplexo. A princesa aproveitou o momento de surpresa do outro e o golpeou com as duas mãos, o jogando contra um prédio, o prendendo no cimento da estrutura, a fazendo tremer por inteiro e assustando os humanos que ainda fugiam do prédio.

A ruiva voou até o homem, que se desprendeu da parede no ultimo instante, fazendo a mulher atravessar o cimento, destruindo parte do interior do edifício.

Cora e Luke se assustaram, rezando para o andar já estar vazio.

- é claro! Eu tinha me esquecido disso – o albino comentou, surgindo diante do buraco gerado por Lydia, a vendo se manter de pé, em meio aos cubículos escritórios destruídos por ela.

A ruiva se virou para si, rosnando.

- Você vê o futuro. Você já sabia que eu não iria chutar. Que o chute era só uma distração para você se defender com os braços e eu usar eles para fazer a minha cauda dobrar e acertar meus espinhos em suas costas –

- se já sabe que consigo ver o futuro, então sabe que não tem como me vencer – a mulher passou a desfilar na direção do príncipe,  o vendo recuar enquanto ainda flutuava no ar.

Stiles sorriu de canto.

- não se vanglorie tanto, minha irmã. Eu também sei que você só consegue ver alguns segundos a frente sem um cristal, e que pode fazer isso apenas de minutos em minutos – repreendeu o Star e a mais nova se enfureceu mais ainda.

- NÃO ME CHAME DE IRMÃ! – ela avançou contra ele com velocidade, o acertando em cheio e os fazendo atravessar a parede do prédio do outro lado da avenida.

Alguns humanos que ainda deixavam o prédio foram pegos de surpresa quando os monstros invadiram o andar em que eles estavam. Eles pararam de correr quando viram as criaturas atravessarem as paredes do prédio até quase saírem na rua ao lado. Mas Stiles parou o avanço da mais nova, fincando os pés e a cauda no chão, fazendo uma mudança de trajetória, o que forçou Lydia a o empurrar de volta para a avenida.

- VOCÊ PERDEU ESSE DIREITO! – a ruiva lhe acertou um soco no rosto, o deixando tonto., ela o chutou, o fazendo despencar alguns metros. Antes que ele pudesse recuperar o equilíbrio e o controle do voo, a ruiva rugiu, liberando mais um feixe de luz na direção do mais velho.

A magia alheia o acertou em cheio na lateral do abdômen, o jogando com mais velocidade ainda contra o chão. O impacto fez alguns carros tremerem, assustando Cora.

- VOCÊ ASSASSINOU O MEU PAI! – ela ergueu as mãos antes de passar a golpear o ar na direção do albino, fazendo mais cristais serem arremessados contra o irmão adotivo

Com dificuldade, Stiles se ergueu e passou a correr por entre os carros, antes de levantar voo. Por pouco, a ruiva não o acertou com mais magias. Levou a mão ao local atingido pela luz da magia alheia, sentindo o corpo protestar com a dor. Olhou, brevemente,  para o seu ferimento,  se surpreendendo ao ver que suas escamas, antes pretas, agora eram cinzas, indicando a potência da radiação daquela magia. Ela queimava intensamente.

Ele não podia mais ser atingido por aquilo.

- COVARDE! – ela berrou se aproximando por cima, ainda voando alto, e arremessando cristais. – QUANDO ASSASSINOU O MEU PAI PELAS COSTAS VOCÊ ATACOU. MAS NÃO TEM CORAGEM DE ME ENFRENTAR! –

Os ataques pararam de o perseguir pelas costas e passaram a vir pela frente, o forcando  a mudar a trajetória do seu voo. Encolhendo o corpo e girando no ar, Stiles trocou de posição e chutou um carro, o empurrando para trás com força, enquanto tomava impulso para a direção da qual viera. Seguiu desviando e fugindo das magias da mais nova, enquanto analisava o ambiente com os olhos.

- como ela está fazendo isso? – murmuraram Stiles e Cora ao mesmo tempo.

- fazendo o quê? – inquiriu Luke, desviando o olhar da luta ao longe e encarando a parceira.

- ainda não percebeu? – inquiriu a mulher enxugando as lágrimas antes que o parceiro as percebesse no canto de seus olhos.

- Não.  Não sei do que está falando –

- veja a distância dela para o chão, Luke – ordenou Cora e o homem voltou a encarar a luta, a analisando melhor – é. Ela está bem alto –

- exato –

- E daí? –

- E daí eu que não estou escutando nenhum humano gritando magias para ela – ditou Cora e o parceiro parou para analisar a situação.

De fato, ele só ouvia os berros da demônio e o som do ambiente sendo destruído pela luta.

E nada mais.

- como? Como que ela está soltando magia, então? –

- onde está o guardião dela? -

Stiles ergueu voo o mais alto e rápido que conseguiu, com Lydia em seu encalço a mulher parou de disparar magias para perseguir o seu adversário, alegando que o mesmo não iria fugir. O Stilinski voou sobre os prédios ao redor, analisando o topo de cada um deles minuciosamente.

- Isso é... como?! – ele exclamou, perplexo.

Não havia sinal algum do ser humano que estava em posse do livro do Lydia. Mas, ainda assim, a ruiva soltava magias com uma frequência espantosa. Se quer era para ela poder soltar uma única magia sem as palavras do livro serem pronunciadas pelo seu portador, muito menos deveria soltar tantas magias sem o mesmo. Ele não havia ouvido uma única vez uma voz gritar alguma magia desde que a luta começara. Até tentou fazer com que a ruiva lhe dissesse onde o humano estava. Durante os ataques mágicos de Lydia, ele se posicionou em todas as direções, e ela não hesitou em disparar em nenhuma delas.

Mesmo que não enxergassem o humano, o mesmo poderia os ver. E, com certeza, Lydia deveria saber onde o parceiro estava, o que a faria hesitar assim que apontasse a magia na direção do humano. No entanto, Lydia disparou todas as vezes sem hesitar. E aquilo perturbava Stiles não apenas pela segurança do guardião da irmã, como a de outros humanos.

A demônio sem olhos se aproximou e tentou lhe agarrar a cauda, falhando miseravelmente quando o outro girou no ar e lhe desferiu um golpe do órgão. A ruiva desviou do golpe, por pouco, sentindo um dos espinhos da cauda alheia raspar o seu vestido. Stiles continuou a girar no ar, desferindo um chute logo em seguida.

- desista! Eu já vi os seus movimentos – a mulher alertou desviando do pé alheio e desferindo um soco no mais velho.

A mulher errou o golpe ao receber um soco potente no topo da cabeça, lhe fazendo se curvar para a frente e perder o equilíbrio durante o próprio golpe.

- Eu já disse que sei qual é a fraqueza de sua habilidade de ver o futuro, Lydia – ele proferiu, impaciente, antes de girar em um mortal para frente, ganhando ainda mais altitude, e acertando as duas pernas e a cauda nas costas de sua irmã, a arremessando no asfalto.

A ruiva se ergueu, rosnando, e ergueu voo novamente, ultrapassando a altitude do mais velho rapidamente. Stiles apenas a encarou enquanto ia descendo, aos poucos. A ruiva de cabelos cristalinos estava com as mãos e a ponta das asas brilhando, emitindo uma esfera de luz, e então abriu as asas e os braços ao máximo, inflando o peito e urrando de fúria. Cristais começaram a chover dos quatro pontos brilhantes, fazendo uma verdadeira chuva de meteoros na avenida.

- PUTA MERDA! – Stiles ouviu um humano gritar e, ao se virar, se deparou com um homem escondido atrás de uma barraquinha de cachorro quente.

Não pensou duas vezes, desceu em linha reta para o asfalto, como um raio, desaparecendo a visão dos humanos. O homem apenas sentiu um forte agarre em seus braços e, quando deu por si, o mundo rinha se movido tão rápido que ele já estava bem longe de sua barraquinha.

- corra – ele ouviu a ordem ser dada em uma voz gutural, antes de um vulto preto se afastar, voltando para a avenida.

Carros, postes, vitrines e prédios. Tudo estava destruído quando retornou. Um rastro de destruição que o seguia pelo trajeto em que havia percorrido com o humano em seus braços. Ele rosnou, irritado. Lydia desceu dos céus,  o pegando desprevenido e fincando as garras dos pés nos ombros, erguendo voo.

- você é desprezível! – rosnou o erguendo um pouco, o suficiente para lhe socar o peito com força, cravando as garras das mãos em seu torso escamoso.

- Nojento! – ela o soltou e girou no ar, se colocando deitada.

- como ousa?!! – ela uniu as mãos,  fazendo um cristal surgir ali, e jogou as mãos para o albino, disparando o cristal a queima roupa.

A magia acertou o abdômen do homem em cheio, lhe quebrando algumas costelas e o arremessando ao chão.

- COMO OUSA VALORISAR A VIDA DE UM HUMANO DEPOIS DE TER ASSASSINADO O SEU PRÓPRIO REI?! – Lydia estava com tanto ódio que nem se importava mais em manter uma aparência digna.

De seus lábios, saliva escorria junto com sangue, enquanto que dos seus olhos as lágrimas rolavam sem controle algum.

- UMA DIOGA! – ela berrou uma ordem, surpreendendo ao demônio adversário.

A ruiva abriu os braços, fazendo uma parede de cristal surgir diante dela. A parede começou a criar mais paredes, moldando um icosaedro em instantes. A magia fora disparada na direção do albino, que se ergueu e se preparou para desviar daquilo. Era enorme. Maior ainda do que a outra magia. Era maior do que uma magia de classe Gigano. Aquele cristal era do tamanho de uma casa e voava com velocidade na direção do Star.

- uma classe Dioga... já está tão forte – comentou em sussurros para si mesmo enquanto corria para o lado, desviando.

- Não. Você não vai – a ruiva desceu na direção da magia com fúria.

A demônio chutou o enorme cristal com força. Stiles se surpreendeu quando o cristal gigante se partiu em milhares de pedaços que voaram com mais velocidade ainda na direção do demônio com escamas. O albino apenas teve tempo de chutar a parte de baixo da lateral de um carro, o fazendo se erguer e deitar de lado, antes de segurar o mesmo e fazer força. Os cristais atingiam o veículo humano com força, o destruindo aos poucos. O carro fora fuzilado pelos cristais, e, em pouco tempo, não havia restado nada além de restos de peças funcionais que ficavam na parte inferior do veículo, e o demônio albino o segurando com força.

Stiles largou o resto do carro com dor. Olhou para o próprio corpo apenas para averiguar quanto de dano havia sido recebido por ele. Havia cristais por quase todo o seu corpo. Alguns uns dez nos braços, nove nas pernas, e cerca de vinte em seu torso. Todos os cristais que iriam atingir o seu rosto, foram parados por sua cauda, pois se cobriu com a mesma durante o ataque.

- patético! – a ruiva cuspiu as palavras enquanto aterrissava e fechava as suas asas, as enrolando no corpo – acha mesmo que pode me derrotar sem o seu guardião?! Acha mesmo que é tão forte assim?! – a ruiva sobrevoou o albino, como um abutre sobre um animal prestes a morrer.

“Estou fazendo tudo errado. Lydia é um demônio de magia forte. Forte o suficiente para ser comparada as minhas, quando me controlava lá no inferno. Não devo procurar distância quando a enfrento.”

Stiles pensou enquanto encarava a ruiva, retirando os cristais de seu corpo usando de sua velocidade para encurtar o tempo do processo, pouco se importando com a dor que sentia.

“Por mais que eu não queira queimar o seu livro, e nem vá, eu tenho que enfrentar ela. Ignorar o seu desejo por luta em nossa situação... apenas vai aumentar o seu ódio por mim.”

- na verdade, eu deveria agradecer por seu humano não estar aqui. Acho que eu acabaria o matando só por tocar em seu livro imundo e cheio de seus pecados – a ruiva proferiu com desprezo na voz.

Aquilo enfureceu o albino, que voou com velocidade em sua direção. A mulherbesperou pelo ataque que ela já sabia que viria. O soco passou ao lado de seu rosto quando ela simplesmente o inclinou para o lado. O próximo soco tinha como alvo o seu abdômen,  mas ela o parou com uma das mãos.

- como? Como os meus pais não viram a cobra que você era? Como o meu pai nunca soube que você era Black Star? – a ruiva girou no ar, o balançando no ar.

Ela parou, subitamente, o seu movimento quando sentiu espinhos se fincarem em suas costas, a surpreendendo. Ela soltou o mais velho, tentando se livrar dele, mas fora em vão quando o mesmo segurou os seus braços,  a puxando para perto. Stiles se enrolou em seu corpo como uma cobra, a surpreendendo. O demônio com escamas segurou a sua cabeça com as mãos e a forcou a olhar para si. Por mais que Lydia não tivesse olhos em sua forma de batalha, o mais velho sabia que ela conseguia enxergar por trás daquela viseira de cristal.

- você acha mesmo que eles não sabiam? – a pergunta do albino a surpreendeu – quão idiota você é para subestimar os seus pais, garota? – o homem apertou a mulher em seu corpo.

Lydia grunhiu de dor, sentindo os ossos rangendo com o aperto do mais velho em seu corpo. Ela fez força,  tentando se libertar do albino, mas falhou. Com os dentes rangendo de ódio, ela tentou o arranhar com suas garras, também falhando no ato. Stiles voltou a erguer a cabeça da princesa, a fazendo lhe encarar de cabeça para baixo, com ele sobre ela, sentindo a mesma resistir ao ato. Com um sorriso ladino no rosto, ele a encarou com decepção.

- você parece esquecer quem são os seus pais, criança – ele a repreendeu, ouvindo a mesma rosnar de ódio.

- acha mesmo que o seu pai não sabia quem eu era? Acha mesmo que ele não reconhecia as minhas magias? Como você acha que eu entrei no reino? – a cada pergunta do homem, a princesa sentia o sangue ferver em seu corpo.

- Você sempre foi emotiva demais para pensar com clareza em momentos de crise, Lydia. Mesmo com o seu poder de prever o futuro, você sempre se deixa levar pelas emoções que sente e acaba perdendo a linha – o albino proferiu com calma, quase sereno, irritando ainda mais a jovem.

Lydia deixou os lábios se entreabrirem ao processar as palavras do mais velho. A sua mente viajou para as memórias de seu passado. Em sua mente, a imagem de campos desérticos com alguns cristais e vários espalhados por toda a paisagem. Ela estava jogada no chão, ao lado do irmão mais velho, Isaac. Tinha memórias dele pois já o havia encontrado no mundo humano. Ambos os irmãos legítimos do rei estavam exaustos e caídos no chão,  repletos de sujeira e feridas em cicatrização.

Flutuando, diante deles, sentado no ar com as pernas cruzadas, estava Stiles, com uma expressão calma e com quase metade dos ferimentos dos dois príncipes aos seus pés. O mais velho os encarava com certo tédio enquanto balançava duas coroas em suas mãos.  As coroas dos irmãos adotivos. Enquanto isso, a sua ainda se encontrava sobre os seus fios castanhos.

- vocês dois tem problemas grandes que precisam resolver se quiserem um dia chegar a ser o que almejam. Isaac, você é orgulhoso demais, frio demais. O calor da batalha não lhe afeta, o que é ruim. Ser frio e calculista é bom, mas isso impede que você perceba as coisas através dos instintos. E Lydia, você é emotiva demais. A batalha lhe domina, sendo que deveria ser você a dinar ela. Essas não são características de membros da realeza –

Lydia rosnou em sua lembrança e voltou a rosnar no presente. A ruiva teve os cabelos eriçados, surpreendendo o albino quando os cristais que formavam o cabelo da mulher passaram a lhe perfurar o corpo.

- merda! – ele exclamou, se vendo obrigado a soltar a irmã de seu agarre.

Ao escapar do albino, a ruiva começou a cair, até abrir as suas asas e planar até o chão. Quando as suas garras afiadas e longas se prepararam para tocar o chão, Black Star surgiu em suas costas, pronto para lhe desferir um chute. A ruiva se abaixou, permitindo que a perna alheia passasse sobre si. Stiles girou no ar, desferindo um soco nas costas da mais nova, que voltou a desviar. O Star tentou de tudo, mas a ruiva seguia desviando dos seus ataques. Em dado momento, ele escondeu a cauda atrás da perna e tentou outro chute.

Assim que Lydia desviou da perna do albino, a cauda do mesmo a acertou em cheio nas costas, arrancando o sangue da mais nova quando os espinhos perfuraram sua carne. Ela rugiu de dor enquanto cambaleava para a frente, tentando se afastar.

- Desgraçado! – rugiu se virando e sentindo os espinhos da cauda do adversário se desprenderem de sua pele.

- eu não quero queimar o seu livro, Lydia –

- Como se você pudesse! – ela rebateu apontando com as mãos para o mais velho, que avançou correndo de um lado para o outro, a deixando perdida.

- Não é hora para brigarmos entre nós mesmos, Lyd –

- CALA A PORRA DA BOCA! – exclamou, furiosa.

O cristal já estava preparado em suas mãos, mas ela ainda não o disparara por não ter o seu alvo na mira. Stiles surgiu em sua lateral e a ruiva saltou para o lado contrário,  se virando e disparando a magia no albino. Mais uma vez, o demônio com escamas se mostrou forte ao segurar a magia com as mãos e a jogar para o lado, a fazendo atingir o solo com força.

O Star voltou a avançar contra a irmã, a vendo recuar, disparando mais cristais em si. 

- LYDIA, EU NÃO QUERI LUTAR COM VOCÊ.  OU COM QUALQUER UM DOS... – o albino gritava enquanto  voava pelo ambiente, desviando dos disparos da ruiva, que apenas destruíam cada vez mais os prédios ao redor

- EU MANDEI CALAR A BOCA! – a ruiva berrou, cerrando os punhos e disparando um flash de luz da boca.

A luz seguiu para a frente,  como um anel mágico. Stiles preferiu passar pelo anel do que desviar dele. Grave erro. Assim que se colocou no centro do anel mágico, o mesmo se fechou em si, e brilhou com intensidade, lhe cegando. Ele ainda teve o impulso de cobrir os olhos, mas não fora muito efetivo. O homem perdeu o senso de direção durante o voo e passou a perder altitude, acertando um carro com o ombro. O carro fora erguido pela metade, enquanto o demônio amassava o veículo e tropeçava, seguindo em um voo torto até um poste, acertando o mesmo com a cabeça e caindo no chão.

- Eu vou vingar a morte do meu pai, custe o que custar! – exclamou se aproximando um pouco do adversário no ar e apontando com as mãos para o mesmo.

Estava mirando na cabeça. Atingir o Star com um cristal na cabeça naquela situação seria um dano e tanto. Mas assim que o minério passou a se formar. Um disparo fora ouvido e uma bala acertou o cristal de sua testa, rachando o seu visor. A demônio ergueu a cabeça, chocada. No topo do prédio ao seu lado estava uma policial de longos cabelos cumpridos amarrados em um rabo de cavalo apontando um revólver para si. A ruiva se lembrou do demônio a sua frente, corrente de seus ataques com o máximo de velocidade que possuía para poder levar um humano para longe de seus projéteis.

Aquilo a enfureceu.

- Não interfira – a ruiva desviou o projétil para a humana.

Stiles arregalou os olhos. Lydia girou as mãos diante do corpo e o cristal se dividiu em vários. Pequenas esferas cristalinas, parecendo diamantes do tamanho de bolas de beisebol. A ruiva afastou as mãos e os projéteis voaram na direção de Cora, que havia subido ao terraço do prédio para ter uma visão melhor. Afim de encontrar o guardião  da demônio descontrolada, mas acabou interferindo diretamente na batalha ao ver a situação de Black Star. A humana mal viu os ataques se aproximando. Tudo o que ela vira fora um vulto negro acinzentado surgir diante de si, se movimentando de forma estranha. Stiles desviou todo os projeteis que atingiriam Cora. Ao terminar, os seus punhos ardiam e seus pés latejavam um pouco.

- não faça isso, Lydia. Não tome decisões das quais vai se arrepender. Não se deixe levar pela emoção da batalha – o albino repreendeu encarando a mais nova com irritação.

- Se você é bom. Se você realmente não é o vilão, acabe com ela. Não deixe que ela fira humanos! – implorou a agente, ainda com o gosto amargo da traição presente em si.

Stiles a olhou por sobre os ombros, com certo desprezo.

- Me sinto ofendido, mas irei relevar desta vez por eu ser um demônio –

- Você ainda tem muito o que me explicar – a mulher soou autoritária, demonstrando toda a sua raiva no seu tom de voz.

O albino girou no ar, acertando um golpe do calcanhar num cristal, o mandando longe.

- desça desse terraço, mulher. E vá embora. Eu não preciso trabalhar de babá de humano durante essa luta -

Cora piscou os olhos, surpresa.

-  alguma ideia de como ela está soltando magias sem um humano? – inquiriu a Hale, curiosa.

- não.  Ela esta com o humano dela. Eu só não sei como estão em contato e onde ele está  -

- e como sabe disso? –

- esqueça! Você não tem nada a ver com o torneio. Apenas vá embora – o Star argumentou ordenando mais uma vez a sua retirada.

Cora até tentou argumentar. Mas, assim que abriu a sua boca, um feixe de luz atravessou o ombro de Stiles, jorrando o seu sangue contra a humana, que encarou a cena incrédula. A agente Hale ainda ficava perplexa com a resistência daquelas criaturas. A magia de Lydia arrancou um grande pedaço do ombro do homem, mas o mesmo além de mover o braço quase com naturalidade, ainda avançou contra a ruiva.

A princesa tentou vários disparos contra o mais velho, mas Stiles sempre desviava de suas magias. Aquilo a irritava. O albino a alcançou e os dois passaram a trocar socos, chutes e golpes de cauda e asas. As garras da garota eram um aspecto preocupante naquela batalha corpo a corpo. Tudo bem que ele era melhor naquele tipo de luta, mas as garras dela ainda o preocupavam. Eram afiadas o suficiente para perfurarem as suas escamas sem problema algum. Eram como armas embutidas nos pés da princesa. Um único chute certeiro em seu rosto o deixaria cego, ou pior, arrancaria os seus olhos. A princesa fora arremessada na parede por um chute, que finalmente a acertou, a surpreendendo.

“ele ficou ainda mais rápido!”

Exclamou em pensamento enquanto se desprendia da parede e avançava contra o albino. Assim que o homem avançou contra si também, ela cerrou os punhos e rugiu na direção dele, disparando um feixe de luz da boca. O albino, surpreso, girou para o lado, ainda no ar, e o disparo mágico atingiu o motor de um carro, que explodiu instantaneamente, sendo erguido do chão no mesmo lugar, brevemente. A ruiva desviou dos primeiros golpes do Star, passando a bloquear os próximos, os quais não havia visto em sua visão do futuro.

“Assim eu não consigo. Ele é rápido demais. Posso acabar esgotando o coração de Allison.”

A ruiva voltou a pensar, enquanto tentava acertar o mais velho, mas tendo todos os seus ataques bloqueados.

- precisamos conter ele. Assim não dá  - a voz da humana alcançou os seus ouvidos e ela meneou em concordância.

- vamos limitar os movimentos dele – a princesa confirmou e Stiles estranhou.

- se não der certo, vamos usar aquilo – Allison proferiu com calma e Lydia apenas meneou em concordância.

Com um golpe de suas asas, após girar o corpo, a garota com asas e pelagem no peito se afastou voando raso. O demônio com escamas a seguiu de imediato, como o esperado pela mais nova. Lydia se virou, passando a planar de costas, e cuspiu mais um feixe de luz no adversário. Stiles girou no próprio eixo, desviando do ataque e se preparando para alcançar a irmã. A ruiva preparou as garras dos pés e agarrou os braços do irmão,  que não se importou, uma vez que ele tinha as pernas e a cauda. Ele golpeou o rosto alheio com a cauda, mas o seu golpe fora interrompido no meio do trajeto. O homem exclamou de dor quando sentiu as escamas de suas costas arderem com intensidade. Ele não precisou olhar para elas para saber o seu estado. Estavam queimadas. Um grande circulo esbranquiçado agora ornamentava as suas costas. As escamas queimadas eram a comprovação de que o ataque da ruiva dera certo.

Lydia gargalhou e jogou o corpo para trás, dando um mortal no ar, ainda com a sua presa em seus pés. Ela jogou Stiles contra o chão, fazendo suas costas arderem mais ainda.

- Eu tenho a vantagem nessa batalha, Star – ela cuspiu o nome do seu clã com ódio, ainda rindo.

O seu riso era vazio. Possuía apenas o som, mas não era preenchido pela emoção. A única coisa que tinha emoção em seu rosto eram as lágrimas acumuladas nos cristais que lhe ocupava os olhos. O albino a encarou com um olhar vazio, enquanto via apontar com as mãos para o seu rosto.

- eu vou começar pela sua cabeça. E então vou pulverizar parte por parte de seu corpo – ela estava tremendo.

Stiles a encarou com um olhar vazio. Lydia se viu tremer mais ainda. Por que ele estava a encarando daquela forma? Ela estava com ele na mira. Seria um tiro a queima roupa. Do mesmo modo que ele matou o seu pai. Então por que? Por que ele não a temia? Por que ele insistia em a olhar de cima? Por que o assassino do seu pai insistia em lhe menosprezar tanto?

Ela queria matar ele. Queria de fato. Desejava vingar o seu pai a todo custo. Desde o dia em que Stiles, aquele que deveria ser o seu irmão mais velho e a proteger e guiar naquele mundo matou o seu querido rei, Lydia sonhava com o dia em que o mataria. Sempre imaginou mil e uma coisas a dizer naquele momento, se pegou imaginando a morte mais lenta e agonizante possível. Mas, agora que estava ali, ela se perguntava se conseguiria fazer.

Os irmãos Lydia Martin e Isaac Sharman sempre foram endeusados por seu povo. Eram um símbolo da realeza. Bons demais, bonitos demais, perfeitos demais. Verdadeiros símbolos de perfeição. Como poderia alguém como a princesa tida como perfeita ser capaz de assassinar o próprio irmão? Ela tinha forças para aquele ato profano. Mas teria ela coragem? Seria capaz de destruir a cabeça daquele homem? O homem que a colocou na cama várias vezes, que a levou para passear por campos com os irmãos, que lhe presenteava com flores todas as manhãs, e lhe contava histórias de batalhas surpreendentes quando estava entediada.

A sua vontade era de chorar. O choro estava preso em sua garganta e a dor explodindo em seu peito. Queria apenas se jogar no chão e gritar sua dor para que todo o mundo pudesse sentir. Mas havia uma pequena voz no fundo da sua consciência, uma voz irritante e reconfortante ao mesmo tempo. Uma mistura da voz de seu pai com de seu irmão Isaac que repetia um mantra insuportável e honrado.

“A honra da família deve ser mantida.”

Aquilo a estava enlouquecendo.

- você não pode. Não é de sua natureza ser uma assassina, Lyds – ele proferiu com a voz suave, quase com ternura.

“A honra da família deve ser mantida.”

As palavras de Black Star a atingiram como uma lança. Uma lança disparada por uma besta. O uso do apelido carinhoso do irmão mais velho apenas a fez se sentir mais atingida ainda.

“Bom trabalho, Lyds.”

Ela ouviu o pai em sua mente, a parabenizando. Ela conseguia quase sentir a mão dele em seus cabelos cristalizados. A demônio começou a hiperventilar, enquanto ainda tremia. O cristal em seu rosto tomou uma cor rosada, tomando um brilho intenso vermelho em si. Um cristal surgiu na mão da ruiva, que levou a mão livre aos cabelos, deslizando por seus cristais ruivos, os abaixando.

“A honra da família deve ser mantida.”

- a Lyds morreu junto com o meu pai, Star. Agora, só restou Lydia Martin Lahey, a Aurora Gluta – a ruiva proferiu com frieza e desprezo na voz, sentindo o corpo parar de tremer

“A honra da família deve ser mantida.”

Agora, no peito da garota transbordava o mais puro ódio.

“A honra da família deve ser mantida.”

- que o seu brilho seja engolido pela Aurora, Estrela Negra. E que estas sejam as últimas palavras que você consiga ouvir –

“A honra da família deve ser mantida.”

Ela disparou o ataque a queima roupa contra a cabeça de Stiles.

“A honra da família deve ser mantida.”




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