Faminto

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O moreno de olhos verdes limpou as mãos mais uma vez com aquele pano velho e sujo que vivia no bolso de seu macacão todos os dias, encarando o carro do cliente sair da garagem de sua oficina. Ele viu o seu amigo acenar para o homem, antes de adentrar a oficina. Daimon batia as mãos uma na outra, enquanto adentrava a oficina, agora vazia. Haviam terminado todos os trabalhos pendentes. Agora era só arrumar o local, averiguar as peças em estoque e analisar os trabalhos que ainda havia para se fazer. Podiam ser poucas pessoas tocando a oficina, mas ela ainda conseguia competir em pé de igualdade com todas as outras que possuíam uma série de funcionários.

Porra, eram só Daimon, Derek e um outro rapaz, chamado Minho, que tocavam o lugar, mas mesmo assim conseguiam fazer um bom trabalho e em um período tão curto. Daimon era o mais velho dos três, o mais experiente, mas tinha uma alma de criança de vez em quando. Derek era o do meio, era o dono da oficina, mas tratava a todos como se fosse apenas mais um empregado, nunca erguendo o nariz para eles, ou ordenando as tarefas de forma rude. Já Minho era o mais novo, era um verdadeiro adolescente em um corpo de adulto, sempre curioso e comunicativo. O moreno olhou para o fundo da oficina, notando o livro negro sob a bancada de vidro, em meio a outros livros que haviam ali, na primeira prateleira inferior. O livro se destacava entre os demais, que possuíam uma coloração clara e com letras nas laterais, enquanto o livro que Derek encarava era negro com símbolos estranhos na lateral e um hexagrama em cada ponta da lateral.

- vai fazer alguma prova, garoto? – perguntou Daimon chamando a atenção de Derek. O homem não era exatamente décadas mais velho do que o Hale, no entanto, ele tinha aquele costume de chamar alguns mais novos de garoto.

- o quê? – perguntou o moreno de olhos claros fitando o mais velho com confusão no olhar.

- olha, se for fazer algo como uma prova e precisa estudar, é só nos falar. A gente toca a oficina sozinhos enquanto você estuda – falou Minho, o mais novo dos três, limpando as ferramentas em uma mesa não muito distante dali.

- do que diabos vocês estão falando? – questionou o moreno de olhos verdes encarando o mais novo, que permaneceu a limpar as ferramentas.

- olha, achamos muito bonito a sua atitude de voltar a estudar. Está tentando entrar para alguma faculdade? – perguntou Daimon encarando o Hale lhe encarar confuso.

- por que acham que estou estudando? – questionou encarando o mais velho com desconfiança.

- não está? Então por que está encarando aqueles livros o dia inteiro? – perguntou Daimon encarando o mais baixo confuso.

Sim, Daimon era maior do que o Hale e bastante. O homem chegava a assustar algumas pessoas de primeira, mas logo as conquistava com sua sabedoria e carisma. Derek engoliu em seco, desviando o olhar para o livro negro mais uma vez, antes de encarar Daimon e depois olhar para Minho, que lhe fitava questionador. O moreno de olhos verdes engoliu em seco novamente. Como responder àquela pergunta se nem ele sabia o porquê? Sem contar que nem ele sabia direito o que era aquilo. Como explicar que você está com um livro demoníaco sem parecer um maluco completo? Derek suspirou derrotado, não sabia muito bem o que dizer.

- eu não estou estudando. Só estou guardando algo para uma pessoa – falou, por fim, guardando o lenço sujo no bolso traseiro do macacão jeans que usava.

- deve ser algo bem importante, não é? Para você ficar encarando o dia todo? – perguntou Daimon encarando o moreno com uma calma e doçura, que era impossível ignorar o homem.

- deve ser... – respondeu Derek e a cena do livro do adolescente chamado Greenberg, nome bem estranho, por sinal, queimando e do corpo do adolescente explodindo no final.

- e por que está com isso? E por que guardar nos livros? – questionou Minho tentando não parecer rude.

Ele realmente estava curioso. Derek era bastante precavido para guardar coisas de pessoas assim. Ele sempre dizia que não era bom fazer favores do tipo, pois poderia ser algo errado. Mas, agora, ali estava o moreno de olhos claros, guardando seja lá o que fosse, para alguém. Aquilo realmente era de despertar a curiosidade dos dois companheiros de trabalho do Hale. Minho finalizou sua tarefa e fechou a sua maleta de ferramentas, antes de puxar a de Derek para começar a limpar as ferramentas utilizadas pelo moreno no último trabalho.

- ele não está em condições de guardar no momento, não se sente bem – disse encarando o livro novamente.

- entendo... Enfim, boa sorte cuidando disso, seja lá o que for – disse Daimon apertando suavemente os ombros do Hale.

- por que guardar nos livros? – Minho repetiu a pergunta encarando o chefe lhe encarar pensativo.

- porque é um livro – respondeu dando de ombros e ouvindo um “Hm” ser solto pelo mais novo.

O moreno de olhos verdes girou o corpo na direção da bancada e caminhou até a mesma, ficando de frente para o computador da oficina, onde eles deixavam planilhas com o número de cada peça e equipamento em condições de uso e anotavam as perdas e lucros. Como dito anteriormente, podia ser só eles trabalhando ali, mas trabalhavam duro por um ótimo resultado. Seus olhos desviaram o olhar do teclado, onde ele editava a planilha de equipamentos eletrônicos, reduzindo alguns números no estoque, e se focaram no livro negro que se encontrava logo abaixo do vidro onde sua mão estava apoiada, enquanto a outra movia o mouse para fechar o arquivo.

“Será que ele está bem?”.

Perguntou para si mesmo, encarando o livro negro de páginas de aspecto velho. A cor amarelada das páginas dava ao livro um ar de livro de biblioteca. Mas aquele livro velho, esquecido no fundo da última prateleira do último corredor, que passara anos sem ser lido, apenas acumulando poeira e mofo. A imagem de Stiles lhe veio a cabeça e ele balançou a mesma, decidindo se focar no trabalho. Se preocuparia com o castanho na volta para casa, que seria daqui há alguns minutos. Enquanto estivesse ali, deveria se focar no trabalho.

Não demorou muito para que desse a hora de fechar a oficina. O moreno pegou o livro negro e o colocou na mochila em que colocava a roupa que vestia no trabalho, para lavá-la em casa. Se despediu de Daimon e Minho, fechou a oficina e seguiu rumo ao seu carro. O moreno parou em uma farmácia e comprou alguns remédios, parou em um supermercado e comprou lasanha congelada e um refrigerante além de uma garrafa de Whisky. Ele sabia que iria precisar. Precisou da bebida durante o dia inteiro, mas se manteve forte. Estava trabalhando e ainda tinha Daimon e Minho, não poderia passar um vexame na frente de seus amigos.

O Hale chegou em seu prédio e estacionou na vaga em que tinha o número de seu apartamento. Ele teria que administrar melhor o seu dinheiro se quisesse continuar nesse apartamento. Ou talvez devesse apenas se mudar. Se aquele apartamento sempre lhe lembrasse daquela vadia, como vem fazendo nesses últimos dias, ele precisaria se mudar antes de desenvolver uma dependência incontrolável pelo álcool e uma cirrose.

O moreno de olhos claros caminhou pela garagem carregando as compras que fizera nas mãos e a mochila com o livro negro e as roupas sujas em uma sacola plástica, até alcançar o elevador. Ele apertou o botão do seu andar, um dos últimos, e esperou, encarando atentamente o visor que indicava por qual andar ele estava passando. Ele suspirou pesado, encarando as bolsas plásticas em suas mãos.

O que diabos estava acontecendo com a sua vida?

Primeiro a sua amada mulher lhe traiu com o seu chefe da noite, um homem para lá de escroto, simplesmente imperdoável e ultrajante. Sem contar no nojo que Derek sentia da mulher pelo motivo da mesma: Dinheiro. Como se ele com o seu salário e a mulher com o dela não conseguissem ter uma boa vida. Não era a melhor, ou uma das melhores. Mas era boa. Depois, lhe vem essa de demônios. O que? E daí que ele não acreditava nisso no começo? Mas agora Derek não sabia o que pensar. E se fosse verdade? E se os demônios existissem?

Ele estava ficando louco desde o momento em que fizera Stiles criar aquelas esferas negras arroxeadas. As imagens daquela situação no parque não abandonavam a sua mente. Flashes dos momentos em que Stiles e o tal Greenberg criavam coisas estranhas do nada sempre que Derek ou o adolescente com o livro de Greenberg liam o conteúdo do livro sempre vinham em sua mente quando ele pensava no assunto. O momento em que ele e Stiles destruíram o livro do outro demônio e ele explodiu no final da queima. O que será que havia acontecido? Teriam eles matado o rapaz?

E se eles tivessem matado o pobre coitado? Bom, pobre coitado, não. Aquele cara tentou matar Stiles. Mas... E se Stiles soubesse que destruindo o livro de Greenberg ele seria morto? Será que Stiles era uma espécie “boa” de demônio? Derek estava ficando louco com tantas perguntas. Ele precisava de respostas. O homem saiu do elevador assim que este se abriu e caminhou até a porta com o número de seu apartamento e pegou as chaves para destrancar a porta. Assim que entrou, ele se viu na escuridão do local. Estranhou. Talvez fosse coisa de demônio, sabe? Não precisar de luz.

- Stiles? – chamou trancando a porta e passando a corrente na mesma, mas não obteve resposta do castanho. O Hale caminhou até o sofá, onde jogou a mochila e em seguida a chave do carro sobre o a mesa de centro em frente ao sofá. Ele caminhou até a cozinha, ascendendo a luz da sala no processo e em seguida a da cozinha.

- Stiles? – chamou jogando as compras que fizera sobre o balcão da pia e estreitou os olhos para a sala ao não obter resposta novamente.

- Stiles, estou em casa – falou pegando a sacola plástica com a logo da farmácia e caminhou na direção do corredor.

Ele subiu o pequeno degrau que separava sala de corredor e caminhou, lentamente no escuro, até o fundo do mesmo, adentrando na última porta. Ele abriu a porta com cuidado, olhando o escuro tomando o seu quarto, igualzinho ao que ocorria com a sala e cozinha quando Derek chegara ao apartamento. Ele olhou para a sua cama, vendo um homem de cabelos castanhos e rosto com band-aids espalhados pelo mesmo. O castanho estava coberto pelos lençóis de cama e logo um ar gelado bateu no rosto do moreno. O ar condicionado ainda estava ligado e Stiles permanecia na mesma posição que estava quando Derek saíra para trabalhar.

O Hale adentrou o quarto, fechando a porta logo em seguida. Ele voltou a encarar o castanho. A janela de seu quarto estava fechada, assim como as cortinas, o que impedia que as luzes dos postes adentrassem o recinto. O moreno de olhos claros caminhou até o castanho, notando que o mesmo ressonava baixinho. É claro que era para o castanho estar morto de cansaço. Ele quase morrera lá no parque. O homem puxou o lençol com cuidado, encarando o corpo coberto por bandagens.

Derek suspirou se lembrando de quando chegaram no apartamento no dia anterior. Ele até tentara arrancar respostas do outro, mas assim que Stiles colocou os pés na sala, o seu corpo desabara no chão, sujando o mesmo com um pouco de seu sangue. Derek correu até o castanho, jogando o livro do mesmo sobre o sofá. Quando chegara ao castanho, notara que o mesmo respirava com dificuldade e lutava para deixar os olhos abertos.

“- vou te levar para um hospital, venha. Perdeu muito sangue – disse o moreno ao tentar levantar o castanho, mas o mesmo lhe empurrava com pouca força.

- eu não preciso de hospital, Derek. Só preciso descansar. Hospitais humanos não tratam demônios – falou e o moreno lhe encarou confuso

- e faz diferença? – perguntou encarando o castanho fechar os olhos um pouco mais.

- só me deixe dormir por um tempo. Cuide bem do livro. Já viu o que acontece se ele for queimado – disse antes de fechar os olhos.

- Stiles – chamou o moreno encarando o castanho ressonar.

- Stiles – chamou novamente, sem obter resposta.”

Derek passou horas tentando acordar o castanho, mas nada funcionava. Sem outra opção, ele apenas enrolou os ferimentos do castanho com bandagens e passara alguns remédios nos ferimentos. Quando dera a hora de dormir, ele levou o castanho para a sua cama e o colocou ali, o enrolando com o lençol e ligando o ar-condicionado. O Hale dormira no sofá, para não acabar perturbando o sono do castanho, embora soubesse que nada o acordaria tão cedo. Quando acordara, o castanho ainda dormia. Derek tomou banho e se vestiu para o trabalho, preparou a mochila do trabalho e colocou a roupa que vestiria na oficina para trabalhar, fazendo questão de não ser silencioso no processo, mas Stiles não moveu um músculo.

Derek fora fazer o café, quase derrubando a cozinha para acordar o castanho, mas, novamente, Stiles não acordara. Agora, Stiles permanecia dormindo e já era noite. Derek já estava começando a se preocupar com o rapaz. Ele se sentou ao lado do castanho e chacoalhou o ombro do mesmo suavemente, chamando pelo seu nome, mas, novamente, Stiles não se movia. O moreno suspirou pesado.

- será que vocês sempre dormem assim? – sussurrou encarando o castanho respirar calmamente.

- olha, eu vou trocar logo as suas bandagens – disse começando a retirar a bandagem da mão do castanho, notando que a mesma já se encontrava bem melhor.

Na noite anterior a mesma estava sem a pele, revelando a carne vermelha do castanho, mas agora, quase não existia buraco revelando a carne do homem. Ele encarou o homem de cabelos castanhos surpreso. Derek olhou para o ombro do castanho, onde uma das brocas de Greenberg quase lhe arrancou o braço. Ele estava cogitando ligar para Laura, sua irmã. Ela cursara alguns anos de medicina. Ela poderia lhe ajudar com os ferimentos do rapaz. Mas, ao retirar as bandagens do ombro do castanho, o moreno ficou surpreso ao ver que o buraco que outrora caberia o seu braço ali, e acreditem, o braço de Derek era grosso para caramba, agora fora reduzido ao diâmetro do seu dedo. O moreno se levantou em um pulo e encarou o castanho boquiaberto.

Só se passara um dia e os ferimentos já estavam bem melhores. O moreno ficou apenas encarando o castanho ressonar baixinho, enquanto ele se encontrava em uma confusão de pensamentos. Aquilo não era lógico, muito menos natural. E nem vamos falar daquele estranho livro que brilha. Os ferimentos de Stiles estavam quase curados. Derek nem se quer fechou o ferimento do castanho, apenas correu para a gaveta de seu guarda-roupa, pegou o seu notebook e se sentou no chão do quarto. Passara horas pesquisando sobre demônios, livros demoníacos e demônios com poderes ligados a livros. Mas tudo o que encontrou foram referências religiosas, bíblias satânicas e nomes de séries e filmes de terror. Sem muita opção, ele leu alguns trechos das benditas bíblias, sempre pesquisando as palavras “livro” e “Rayh” para encurtar a leitura, mas não encontrara nada útil.

Derek então passou a pesquisar por pessoas com habilidades especiais. Mas também não tivera sorte. Achara vídeos falsos que não estavam relacionados ao que procurava, nomes de séries, filmes, livros e quadrinhos, até mesmo jogos. Então passou a pesquisar sobre pessoas com habilidades relacionadas a livros. Mas tudo o que encontrara fora um mangá sobre adolescentes com superpoderes adquiridos de livros. O moreno desistiu de sua procura e ficou encarando o castanho ressonar. O que diabos era Stiles?

O que merda ele e Greenberg estavam fazendo no mundo dele?

O que demônios querem ali?

O moreno estava tão confuso, surpreso e amedrontado com tudo aquilo. Quer dizer... Porra! Demônios, caralho! Demônios! Sabe-se lá do que eles são capazes... Bom, Derek ao menos sabe que não podem fazer nada sem o livro? Não é? E que o livro é uma maneira de acabar com eles, certo? Bom, o livro de Stiles estava consigo, então ele poderia muito bem se defender dele caso o castanho resolvesse aprontar. O moreno saltou do lugar em que estava ao ouvir a campainha tocar insistentemente. De início, Derek estranhou, não estava esperando ninguém. Mas quando parou para ouvir a campainha e o ritmo irritantemente rápido em que era tocada, sabia exatamente quem era.

- Merda, por que agora? Por que hoje? – perguntou encarando o castanho deitado, dormindo em um sono para lá de profundo.

O moreno de olhos verdes tratou de correr até o castanho e cobrir todos os seus ferimentos expostos com as bandagens novamente, sussurrando uma enorme sequência de “merda”. Ele nem se importou de trocar as bandagens. O moreno correu até a porta da cozinha, ainda escutando a irritante campainha permanecer a tocar em um ritmo de alguma música desconhecida para si. Derek respirou fundo assim que chegou a porta. Ele ficou contando até dez para poder controlar a respiração e o nervosismo. Assim que se sentiu pronto, o Hale abriu a porta, sendo espremido pela mesma logo em seguida, vendo Cora e Laura passarem pela porta com vários pacotes de salgadinhos e garrafas de refrigerantes e um HD em mãos, assim como um cabo HDMI.

- espero muito ter atrapalhado uma foda entre vocês – falou Cora caminhando até o sofá e se jogando no mesmo, empurrando a mochila de Derek para o chão. O peito de Derek apertou ao se lembrar de como sua irmã e Jennifer se tratavam.

- não atrapalhou – disse Derek tentando controlar o tom tristonho. Todo o seu nervosismo se fora ao lembrar da mulher.

- o que houve? Me parece para baixo – falou a mais velha dos três irmãos, se aproximando lentamente do moreno de olhos claros. Derek não ponderou muito, precisava da ajuda das irmãs nesse caso. Ele já havia pensado se contava a elas ou não há algum tempo e já havia se decidido.

- eu e a Jennifer nos separamos – disse o moreno encarando as duas irmãs lhe fitarem impressionadas. Cora virara a cabeça como uma coruja que escuta o barulho da presa.

- COMO É QUE É?! – as duas gritaram encarando o irmão surpresas. Cora saltou sobre o sofá e se aproximo do mais velho.

- mas vocês eram tão fofinhos até semana passada – argumentou acariciando o ombro do irmão.

- vocês sabem que eu... luto para um cara na luta livre, não sabem? – perguntou o moreno encarando as duas irmãs. Cora estreitou os olhos, enquanto Laura revirava os seus.

- sabemos, o que isso tem a ver? – perguntou Cora encarando o irmão suspirar.

- ela estava me traindo como o meu chefe – respondeu o moreno em um tom baixo de voz, respirando fundo logo em seguida para tentar controlar o choro

- AQUELA VADIA – gritou Cora socando a parede ao lado rosnando enquanto trincava os dentes. Laura e Derek encaravam a irmã com os olhos um pouco arregalados, mas logo suavizaram as expressões. Era Cora, a garota fazia aquilo desde criança.

- Como assim, Derek? O que houve? – perguntou Laura empurrando Cora com força, quase a derrubando no chão, enquanto levava o irmão carinhosamente até o sofá, o forçando a se sentar.

- eu estava trabalhando lá. Ganhei uma luta e fui pegar o meu dinheiro da noite, como sempre faço. Estranhamente eu vinha recebendo uns aumentos. Quando cheguei na sala daquele porco nojento, ela estava lá, ajoelhada entre as pernas daquele homem. No mesmo instante ela se levantou e saiu da sala, nervosa. Quando cheguei ao estacionamento ela veio tentar conversar, mas eu a mandei a merda e saí dali – respondeu o moreno começando a chorar.

Cora nem precisou ouvir mais nada, caminhou até a cozinha e pegou a garrafa de bebida encima da mesa. Pegou alguns copos e colocou gelo neles, caminhando para a sala logo em seguida. Laura não reclamou da atitude da mais nova, sabia que o irmão precisava disso e correria atrás disso o quanto antes, então era melhor que tivesse alguém para o ajudar quando o fizesse. A mais nova serviu a bebida para todos e tratou de beber a sua com velocidade, vendo o irmão fazer o mesmo, enquanto Laura apenas bebericava e logo apoiava o braço que segurava o copo no joelho, enquanto o outro tratava de acariciar os cabelos de seu irmão.

- aquela vadia, quem diria que iria enganar todo mundo? – falou Cora servindo um pouco mais para si e seu irmão.

- Cora... Ainda é recente – ralhou Laura encarando a mais nova com um olhar repreendedor.

- o que? Eu vou fazer o quê? Se ela é uma vadia, eu tenho que chamar ela de vadia – argumentou a mais nova se sentando ao lado da perna do irmão, deitando a cabeça no joelho do mesmo e passando a acariciar a perna do homem.

- o pior de tudo é que eu me dedicava a esse relacionamento, sabe? Um casamento é algo sério. Você tem que colocar o outro antes de si, tem que passar a pensar mais no “nós” ao invés de pensar mais em si. Mas o que ela faz? Me traiu com um velho sem escrúpulos apenas para conseguir mais dinheiro – falou o moreno voltando a virar a bebida em sua boca, sentindo a mesma queimar tudo por onde passava quando a engoliu.

- Escuta, Derek. Eu sei que vai ser difícil, por que você realmente gostava dela, mas ela te traiu, isso é uma prova de que ela não te merece. Você tem que superar e esquecer. Pode demorar, e vai, mas você vai encontrar alguém que te mereça e que te fará esquecer a Jennifer – falou bebendo do Whisky em seu copo.

- eu sei, Laura. Mas eu vou esquecer ela – falou o moreno bebendo de seu copo mais uma vez.

Cora, como toda irmã curiosa e bagunceira, pegara a mochila do moreno, retirando a sacola com roupas completamente acabadas e sujas de graxa. As mesmas que seu irmão usa para trabalhar. A garota encarou um livro negro no fundo da mochila e o retirou. Derek estava tão concentrado em afogar as mágoas que nem notara os movimentos de Cora. A garota abrira o livro e encarara o mesmo com aqueles símbolos escritos.

- o que é isso, Derek? Ficou tão furioso que resolveu fazer parte de uma seita satânica? – questionou a mais nova encarando o irmão enquanto balançava o livro acima da cabeça. Derek quase se engasgou com o conteúdo.

- me dá isso aqui – falou tomando o livro das mãos da irmã mais nova. Laura o encarou curiosa, enquanto Cora sorria divertida.

- olha, eu não acredito muito nessas coisas, mas sei que sempre que mexem com algo do tipo se dão muito mal – falou a mulher mais nova sorrindo na direção do irmão que batera com o livro na cabeça da morena mais nova.

- Isso não é nada demais. É só um livro – falou colocando o mesmo sobre o colo e tratando de se servir de mais da bebida.

- e que língua estranha é essa aí? – perguntou se referindo ao conteúdo do livro.

- isso não tem a ver com você – falou o moreno voltando a virar o copo.

- está bem, brutalidade em pessoa – falou a mais nova voltando a se sentar ao lado da perna do irmão

- Derek, não sei o que é isso, mas adoraria uma explicação. Entretanto, talvez seja melhor deixar para outro dia, no momento esquecer a Jennifer é a sua maior prioridade – falou Laura voltando a beber, educadamente, de seu copo, vendo Cora encarar o corredor e tomar um olhar de surpresa.

- olha, Laura, eu acho que ele deve ter esquecido bem rápido, ou pelo menos está se esforçando para fazer – falou Cora levando a bebida aos lábios e bebendo calmamente, tratando de esconder o sorriso maldoso que tomava os seus lábios.

Derek encarou Cora com um olhar confuso e quando fora seguir o olhar da mulher, Laura fez o mesmo e acabou cuspindo no irmão, que lhe olhou surpreso e indignado. Por que raios Laura havia feito aquilo? A resposta veio rapidamente, quando ele se virou para o corredor, que era para onde as suas irmãs olhavam. Derek cuspiria se estivesse com bebida na boca. Stiles estava parado no corredor. A única coisa que vestia seu corpo eram as bandagens e mesmo assim não era na área devida. O mesmo encarava os três irmãos em confusão.

- onde estão as minhas roupas? – perguntou encarando Cora morder o lábio inferior antes de olhar para o irmão com uma sobrancelha erguida. A técnica Hale chamada “sobrancelha do julgamento eterno”.

- Eu não sabia que gostava do outro lado da coisa, Derek – comentou a morena mais nova sorrindo travessa para o irmão.

- não é nada disso que está pensando, idiota – ralhou o moreno se erguendo e caminhando até o castanho. Derek não esperava que Stiles acordasse agora, mas também não se lembrava de ter colocado as roupas do castanho, ou pelo menos as peças que se salvaram, para lavar. Retirar o sangue que havia nelas, sabe?

- olha, mas que está parecendo, está – falou a mais nova encarando o castanho de cima a baixo, demorando principalmente nos países baixos do homem com bandagens no torso, braços e mãos.

- devo concordar – falou Laura também analisando muito bem o corpo do castanho de olhos claros. Derek encarou as irmãs incrédulo, antes de golpear, com o livro, a região pélvica do homem de cabelos castanho, que se inclinou para a frente, gemendo de dor.

- se cubra com isso, enquanto eu pego as suas roupas – falou o moreno encarando o castanho erguer-se e lhe fitar confuso.

- me cobrir? Com um livro? – questionou encarando o moreno voltar da área de serviços com a sua camisa rendada negra de pelos negros.

-  está aqui a sua camisa – falou jogando a camisa de renda negra na direção do castanho.

Stiles deixou o livro cair no chão para agarrar a camisa e quase caiu ao tentar agarrar a peça de roupa que ia passando por cima de si. Mas o moreno o puxou com força, fazendo o castanho trombar em seu corpo e quase voltar a cair para trás pela força que batera contra o corpo do moreno. As duas mulheres olharam curiosas para os dois homens, enquanto Derek perguntava ao castanho se o mesmo estava bem.

- estou, mas, por favor, não me puxa de novo – pediu o castanho vestindo a camisa com cuidado.

- está sentindo dor? – perguntou encarando o menor fazer uma careta ao se mover.

- não, só estou com fome. Onde estão as minhas calças? – respondeu encarando o moreno olhar para baixo e corar um pouco ao ver o volume do castanho.

- e-eu não sei se você se lembra muito bem do que aconteceu, mas... a sua camisa foi a única coisa que restou – falou o moreno baixinho encarando o castanho lhe encarar confuso antes de olhar para o nada por um tempo, antes de soltar um “oh” bem prolongado.

- gente, a coisa foi quente mesmo, nem as calças do cara se safaram – comentou Cora para a irmã mais velha, que passou a rir discretamente, mas logo o eu riso discreto se transformou numa gargalhada escandalosa ao ver Derek corar fortemente com o comentário de Cora.

- EU VOU MORRER – gritou a mulher em meio as gargalhadas.

- vocês duas são umas pragas – ralhou o moreno jogando a mochila, agora vazia, nas duas.

- meu livro – falou o castanho mansamente, se abaixando para pegar o livro negro, mas logo o estômago do castanho roncou e o mesmo gemeu um pouco com a mão no estômago – minha barriga – reclamou acariciando a barriga.

- você quer comer? – perguntou o moreno encarando o castanho lhe fitar com os olhos brilhando.

- eu posso? – perguntou animado.
- mas agora? – questionou Cora com um sorriso pervertido.
Laura gritou de rir.
Derek encarou a caçula fitar a cena com um sorriso travesso, antes de corar um pouco mais e puxar o castanho para a cozinha, sentindo o castanho bater em si outra vez. O homem de cabelos castanhos gemeu, antes de o moreno olhar para si surpreso.

- foi mal, foi mal, foi mal – o homem mais alto se desculpava encarando o castanho passando a mão pelo estômago.

- só me dá comida logo – pediu encarando o moreno menear positivamente e correr para abrir a caixa de lasanha congelada.

- me dá isso – falou o castanho tomando a caixa das mãos do moreno e rasgando o papelão da mesma, despedaçando o plástico e devorando o alimento pré-preparado com necessidade, ignorando as pedras de gelo que se encontravam nele.

- mas que diabos...  – sussurrou Derek encarando os olhos do castanho brilharem em vermelho enquanto ele devorava o alimento com necessidade, levando o mesmo a boca com as mãos. Os dentes antes normais agora eram tão afiados em fileira quanto os de algum tubarão.

- eu estava morrendo de fome – falou de boca cheia encarando o Hale rapidamente antes de voltar a dar atenção a lasanha, antes de a mesma terminar e ele encarar o moreno com os olhos vermelhos - tem mais? – questionou encarando o moreno de olhos verdes lhe fitar surpreso com os olho vermelhos.

- esconde esses olhos vermelhos – ralhou em um sussurro encarando o castanho.

- meus olhos estão vermelhos? – perguntou tateando o rosto.

- sim! E minhas irmãs não podem saber que você é um... demônio – sussurrou vendo o homem fechar os olhos e respirar fundo por um tempo. Ao abrir os olhos, eles estavam castanhos novamente.

- desculpe, meus olhos ficam vermelhos quando tenho sensações intensas – explicou vendo o moreno lhe entregar a outra caixa de lasanha.

- vocês sempre comem tanto assim? E de qualquer forma? – perguntou encarando o castanho repetir o ato da outra lasanha com essa.

- sim, no inferno nós não cozinhamos muito. Geralmente comemos tudo assim que caçamos – respondeu vendo o moreno engolir em seco ao escutar Cora coçando a garganta.

- eu lamento interromper o papo entre vocês dois, que parece ser sério, já que sussurram, mas... Derek, a Laura e eu queremos conversar com você, sabe? Seu namorado não importa se nós te roubarmos por um minutinho, não é? – perguntou se aproximando e nem esperando alguma resposta, a garota simplesmente arrastou o homem para a sala, deixando um Stiles completamente confuso em meio a sua lasanha, a qual não durou muito, restando apenas um demônio de cabelos castanhos e olhos da cor âmbar nu da cintura para baixo e um estômago ainda roncando.

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