trí déag

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If you wanna cry or fall apart
I'll be there to hold you

.°୭̥°

- Você deve ser a Gemma. - A mulher de cabelo marrom curtinho e estiloso nos deu um sorriso simpático tão logo abriu a porta da casa antiga e muito bem conservada no centro da cidade.

- É um prazer, dra. Edna - Gemma foi dizendo. - E esse é o meu irmão, Harry.

Os olhos castanhos atrás de delicadas lentes de grau me avaliaram com atenção.

- Eu estava curiosa a seu respeito, Harry. Vamos. Entrem. - Ela se afastou, liberando o caminho.

Logo que botei os pés para dentro, reparei nos itens de várias culturas e religiões que decoravam a casa da psicóloga, conferindo-lhe cor e vida, assim como nas dezenas de livros espalhados por quase toda a superfície. Edna foi na frente, desviou de uma cesta de roupas no caminho e apontou para um sofá azul, pedindo que nos sentássemos.

Onde?, quase gritei, contando doze almofadas multicoloridas, com os mais variados bordados, amontoadas no estofado. Gemma se sentou sem problemas - é claro. O lugar lembrava um pouco o quarto dela. Depois de hesitar um pouco, me ajeitei na pontinha do sofá, tomando cuidado para não amassar nada.

Edna então começou a me fazer perguntas sobre os sonhos. Expliquei a ela o surgimento de Louis em minha vida, a maneira como ele me aparecia nos sonhos, a Irlanda medieval e tudo de que pude me lembrar. A mulher me ouviu com muita paciência, tanta que tive minhas dúvidas se estava mesmo me escutando.

Mas ela estava, sim.

- Sonhos são difíceis de interpretar, Harry. - Ela enrolou o indicador na franja de uma almofada verde-água com o desenho de um elefante. - Podem não significar nada, mas também podem representar os seus desejos mais ocultos. Sonhos são uma forma de autoconhecimento, e a única pessoa que pode entendê-los é você. Eu só posso mostrar um caminho.

- Então me mostre, por favor - supliquei. Estava me cansando de tantas dúvidas e coisas inexplicáveis.

- Veja bem. Se empregarmos o que aprendemos com Freud, temos que identificar o conteúdo manifesto... nesse caso, sonhar com um homem estranho... para então buscarmos a interpretação. Pensando dessa maneira, o que você me diria?

Ponderei um pouco, revirando a mente, e tudo o que eu encontrei foi...

- Não faço a menor ideia - confessei.

- Credo, Harry! - Gemma me olhou feio. - Eu consigo pensar em mil coisas!

- Tipo o quê?

Esse era todo o incentivo de que ela precisava. Gemma colocou uma das almofadas no colo, apoiando os braços nela como se estivesse no sofá de casa, e começou a tagarelar.

- Esse cara é um guerreiro, certo? Então ele poderia ser o seu desejo de proteção, de uma figura masculina. Por causa da morte do papai.

- Muito bem - Edna elogiou.

- Ou então - continuou minha irmã - vamos nos apegar à parte em que você é um príncipe. Esse é bastante simples. É o seu desejo de uma vida melhor.

Olhei para o lustre, reprimindo um gemido.

- Eu sou um príncipe fugindo de um sociopata, Gemma. Não é a "vida melhor" que eu sonhei, não. Nem perto.

- Porque você ainda não entendeu que se trata de uma metáfora. - Ela arqueou as sobrancelhas bem desenhadas. - Você, príncipe, é salvo por si mesmo. Ou seja, o seu carrasco simboliza as dificuldades que você vem enfrentando sozinho para alcançar essa vida mais sossegada, sobretudo financeiramente.

When The Night Falls. {H.S - L.T}Where stories live. Discover now