daichead

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Baby, let me love you goodbye

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Louis pegara o carro de Liam e me levara ao pequeno vilarejo a cerca de cinco minutos do chalé. Eu tinha tido um vislumbre da bela Dublin quando pousáramos na Irlanda e conhecera um pouco de Cork, a belíssima cidade que nascera como um monastério às margens do rio Lee.

Ambas cidades muito modernas, ainda que as raízes tivessem sido preservadas e ficassem evidentes a cada esquina. Mas aquela aldeia encantadora, com casinhas coloridas e jardineiras enfeitando as vidraças, era como uma viagem no tempo, e eu me apaixonei por ela.

Louis me levou a um lugar chamado Healy's, um sobradinho largo de dois andares e paredes avermelhadas. Lá dentro, a lareira acolhedora, os sofás estampados e as mesas maciças emprestavam charme ao lugar. Não havia muita gente àquela hora. Um homem de boina lia o jornal na mesa em frente à janela, um casal conversava baixinho do outro lado do salão e um senhor sentado ao balcão discutia com o atendente sobre seu time favorito de rúgbi.

Nós dois escolhemos a mesa perto da lareira. Louis foi até o balcão, como de costume, e voltou com duas canecas de cerveja pouco antes de sermos abordados por um garçom simpático, que sugeriu o prato do dia. Como eu não comia nada desde o dia anterior e tudo parecia apetitoso, aceitei a sugestão. Louis fez o mesmo, além de escolher mais algumas coisas do cardápio.

- Ainda não sei qual é o seu prato preferido - ele comentou tão logo o garçom retornou à cozinha.

- Não conta pra minha irmã, mas é estrogonofe. E brigadeiro.

Ele ergueu as sobrancelhas.

- Por que a sua irmã não pode saber que essa é a sua comida preferida?

- Ela acha estrogonofe o cúmulo da cafonice. - Revirei os olhos. - Mas eu adoro. Não consigo evitar. Qual é a sua comida preferida?

- Carne. Pão. Cerveja. - Ele levou a bebida aos lábios e tomou um bom gole. - Não necessariamente nessa ordem. A propósito, diga à sua mãe que eu adorei o presente. E estou sempre disponível pra mais, caso ela faça uma nova fornada de pão.

- Ah, se eu disser isso, a mamãe vai cair de amores por você no mesmo instante. E cerveja não conta como comida.

Ele deixou a caneca na mesa com certo estardalhaço e me olhou de viés.

- Palavras tão feias saindo da boca de um homem tão belo... - Estalou a língua com indignação fingida.

- Me desculpe. - Mordi o lábio para não rir. - Não quis ofender.

- Não ofendeu... muito - acrescentou, com um sorriso debochado. Bateu a caneca na minha. - Sláinte.

Agora que não havia mais segredos entre nós, a conversa fluiu. Eu poderia fazer aquilo por horas e horas e jamais me cansaria. Louis manteve a conversa leve, bem-humorado como nunca, e respondeu a todas as minhas perguntas, mesmo as relacionadas a seu passado.

Ele narrou, por exemplo, o que aconteceu após ter deixado a Irlanda.

Louis começara a escavar em outras terras, e fora em Portugal que encontrara sua primeira jazida - de cobre - e se tornara um homem rico. Usara todo o dinheiro, uma parte para financiar sua busca, e o que restara distribuíra entre os que julgara mais necessitados.

Na próxima vez que escavara, a história se repetira. Depois de tanto tempo andando por aí, começara a desanimar, então surgira a ideia de preencher o tempo para não acabar enlouquecendo. Optara pela engenharia depois de conhecer um tal de John Smeaton, na Inglaterra, que, pelo que eu entendi, foi o patrono da engenharia civil. Isso acontecera em 1778.

When The Night Falls. {H.S - L.T}Where stories live. Discover now