fiche a haon

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Keep me safe
     Safe and sound

.°୭̥°

Louis e eu estávamos na estrada fazia algum tempo. Nosso destino ficava apenas cinquenta minutos ao sul de Cork. Ele não me dera mais detalhes, como o nome da cidade ou o motivo daquela viagem.

Ainda estava um pouco dolorido por ter passado tantas horas na mesma posição no dia anterior. Mas, depois do jantar, eu tinha caído na cama e apagado, abençoadamente, em um descanso sem sonhos, então me sentia renovado naquela manhã. E animado, conforme a paisagem se alternava entre pastos com vacas gorduchas e plantações, uma mata tão fechada que apenas o asfalto ficava visível, para voltar a planícies verdes de novo.

O carro — outro daqueles antigos — serpenteava pela estrada estreita, e eu reparei que, toda vez que cruzávamos com um veículo, Louis erguia dois dedos do volante, e o motorista sempre devolvia o cumprimento. Confesso que achei bastante desconfortável viajar na contramão, sentado no banco do Dodge Charger preto no lado que para mim era o do motorista, sem nenhum volante ou pedais diante de mim.

No horizonte, surgiu uma pequena vila com casinhas brancas e arbustos floridos, e, um pouco mais à frente, o mar da Irlanda.

— Estamos quase chegando. — Louis virou à direita, tomando o caminho que margeava a baía.

O sol se escondia atrás de nuvens cinzentas, o vento intenso carregava o aroma delicioso da maresia para dentro do carro, agitando os cabelos de Louis e os meus.

— Então... — Comecei correndo uma das mãos em meus fios antes que se eriçassem e eu parecesse um pincel. — Sua reunião vai acontecer por aqui?

— Não. Continua agendada para a quinta-feira, em Cork.

— Certo. — Então aonde estávamos indo?

Louis deve ter visto a pergunta em meu rosto, já que, depois de me estudar brevemente, disse:

— Eu comprei uma pequena fazenda nesta região.

— Ah, não. — Arregalei os olhos, indignado. — Que destino cruel teve dessa vez? Deixa eu adivinhar: acharam petróleo nela quando foram cavar um buraco pra colocar um poste de luz?

— Não. — Ele deu risada, afastando com um safanão algumas mechas que lhe caíam nos olhos. — Não vou escavar aqui. Mas houve um problema. O Liam só não quis me contar o que era por telefone. Só disse que era importante que eu viesse. Por isso nós antecipamos a viagem.

— E o Liam é... — incitei.

— O amigo para quem eu emprestei o chalé por uns tempos. — Pressionou os lábios e, relutante, completou: — E também arqueólogo.

Isso me lembrou de uma coisa.

— Sabe, eu andei pensando. Se você é tão ligado nessa parada de arqueologia, por que resolveu fazer engenharia?

— Eu não tenho a paciência necessária para esse tipo de trabalho. — Apoiou um dos braços na janela, seus cabelos chicoteando em todas as direções. — Nem a delicadeza que ele exige. Além disso, eu gosto de construir coisas.

— Já que esburacou tantas outras...

— Exatamente. — Seus lábios se abriram em um sorriso que cataloguei como “selvagem”.

Passamos por algumas casas, depois uma ruína, e então Louis tomou uma estradinha. Não demorou para que avistasse o chalé. Pequeno, cercado de flores, uma chaminé de pedra, era fácil identificá-lo em meio a todo aquele verde. E era bastante modesto, o que me surpreendeu. Depois de ver as residências de Louis, eu esperava algo mais parecido com a Casa Branca ou o Taj Mahal.

When The Night Falls. {H.S - L.T}Onde histórias criam vida. Descubra agora