1. DUVIDAS

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Nunca parei para pensar em quem eu sou ou se a menos eu existo. Só sei que não me sinto normal. Sinto-me diferentes de todos que estão em minha volta.

Esses seres se denominam humanos, perguntei a um quando tive chance, eles não parecem ser muito comunicativos. A mente deles não faz muito sentido. Toda vez que olham para mim eles tem uma mistura de medo e curiosidade. Eu tenho medo deles, eles me machucam. Parecem que eles querem algo comigo, mas eu não sei o que querem, se eu soubesse eu daria, só para me livrar deles.

– Pegue ela, vamos recomeçar os testes!

– Sim senhor!

Toda hora é mesma coisa, eles me levam para uma sala e ficam me investigando, como se eu fosse uma aberração, não sei o que eu fiz de errado. Eu já tentei me defender, mas eles me machucam toda vez que tento desobedecer às regras. Então, eu só deixo me levarem, é uma rotina cansativa e dolorosa.

– Aqui Mia! Olhe para mim!

Olhei para ele, não sei quem ele é, os humanos o chamam de senhor James. Ele parece ser importante.

– Ainda consegue ler meu cérebro?

Assenti.

– Ótimo!

O motivo de eu estar presa neste lugar parece ser esse, mas nunca entendi o porquê, será que eles não conseguem fazer isso? Nunca tive a oportunidade de perguntar.

– Vamos começar com os testes simples. O que estou pensando?

Foquei nele. E respondi.

– No que o senhor vai comer no almoço.

Ele assentiu e começou a falar comigo, mas nenhum dos outros humanos ouvia quando ele falava dessa forma, ele não usava a boca, mas sim, os olhos, pelo menos era o que aparentava. "Já que consegue me ouvir, quero que você colabore hoje mocinha, espero que você não desmaie igual ontem, se desmaiar terá um castigo severo, e você sabe qual é". Assenti a ele. "Agora, compartilhe o seu poder comigo, como treinamos ontem, vamos falar pela nossa mente".

Fiz o que ele pediu, era muito difícil, toda vez que eu fazia isso saia um liquido vermelho de meu nariz. "Ótimo, consigo ouvir o que está pensando", ele riu e prosseguiu, "esse liquido vermelho se chama sangue e...", não consegui escutar mais nada.

– Não! De novo não sua pirralha! Não consegue aguentar nem um minuto!

– Está tudo bem senhor?

– Levem-na daqui! E trate de ensinar uma lição a ela!

– Mas senhor, ela está sangrando...

–...Obedeça! Ou quer ser castigado também?

– Seu desejo é uma ordem senhor.

Eu estava sentindo algo estranho. Desespero. Medo. Tristeza. Não sei ao certo, mas não era um sentimento bom. O que ele chama de meu poder falha às vezes, e toda vez que isso acontece dois humanos fortes com algum objeto largo e cheio de pontas me batem, e aquele liquido, o sangue, sai de mim. E dói. E lágrimas caem de meus olhos. E eles me chamam de coisas que parecem ruins quando isso acontece.

– Porque vocês, humanos, fazem isso comigo? – perguntei para o humano quando ele me tirou da sala.

– Eu só sigo regras senhorita.

"Porque fazem isso com ela?" "Ela parece ser tão jovem".

– Eu também não sei o porquê fazem isso comigo. – respondi a pergunta dele.

– Co...como você...

– Como eu o que?

– Você sabe o que estou pensando?

– É o que aparenta ser... – aproveitei a oportunidade para tirar duvidas. – ...vocês, humanos, não fazem isso?

– Não! Co...como isso é possível? – ele parecia confuso.

– Eu também não sei.

Ele me levou para uma sala vazia.

– Ninguém vai nos ouvir aqui.

"Ela merece ter uma vida normal" "Se eles descobrirem que estou fazendo isso com certeza vão me matar"

– O que você está fazendo?

– Quer sair daqui?

Não estava entendendo o que ele estava querendo dizer, será que existia mais que esse lugar?

– Desculpe, não estou entendendo.

– Você quer ter uma vida? Quer ser uma humana normal?

– Eu sou humana? Então porque sou diferente? Existem mais lugares como este? – eu tinha muitas perguntas.

– Calma... – Ele olhou uma fita que tinha em minha camisa. – ...seu nome é Mia Bennett, nome bonito. – ele riu.

Eu não estava entendendo nada.

– Vou te ajudar a sair daqui Mia.

– Sair daqui? – perguntei, eu ainda estava confusa.

– Sim, mas lá fora você terá que se virar sozinha, acha que consegue?

– Acho que sim... – falei insegura.

– Ótimo vou arranjar uma identidade para você, consegue me esperar aqui? Volto em menos de 10 minutos.

Segurei a braço dele. Estava com medo, não queria fica sozinha.

"Porque ela esta segurando meu braço" "Uau, ela é tão bonita, droga ela consegue ler minha mente, tenho que me distrair..."

– Não, estou com medo.

– É rápido, você estará segura aqui.

Decidi confiar nele.

– Está bem, por favor, volte logo.

Ele assentiu. Saiu e trancou a porta.

Era uma sala sem janelas e pequena. Tinha uma mesa, com cadeira em volta. Tinha um relógio. As paredes eram de cimento. Eu ouvi algumas vozes de longe, mas se eu não me concentrasse na pessoa não conseguia entender o que ela estava falando, ou pensando como esse humano me disse. Não conseguia parar de pensar na ideia de eu ser humana.

Alguns minutos se passaram, e eu comecei a ficar impaciente. Será que alguém o pegou?

Ouvi um barulho. Barulho de passos. Começou a bater na porta, e tinha outros sons que eu não sabia o que era. Um sentimento ruim tomou conta de mim, acho que era o sentimento desespero.

Quem estava atrás daquela porta? 

AMOR INESPERADO (EM REVISÃO)Where stories live. Discover now