11. MEDO

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Sentei-me à janela, observando as pessoas lá fora, rindo, conversando e vivendo suas vidas despreocupadas. Eu me perguntava como podiam parecer tão felizes quando o meu mundo estava em frangalhos. As risadas e o burburinho na rua pareciam uma realidade distante, um eco longínquo de uma época em que eu também sabia como ser feliz.

Voltei meu olhar para o quarto e, inevitavelmente, para o relógio na parede. O ponteiro dos segundos se movia implacavelmente, como se zombasse do meu estado de paralisia emocional. Kaleb não voltara, e o tempo continuava a avançar, implacável.

Aquele dia da festa parecia ter criado uma fenda na minha vida, uma cicatriz que não podia ser apagada. A cada segundo que passava, eu sentia como se estivesse congelada naquele momento, presa em um limbo do qual não podia escapar.

As incertezas sobre o que acontecera e o medo do que ainda estava por vir me assombravam. Eu me perguntava se algum dia saberia a verdade, se Kaleb voltaria e o que o futuro reservava. O tempo continuava a se desdobrar, mas eu permanecia ali, imóvel, tentando compreender o que havia se quebrado naquele dia de festa que deveria ser de celebração.

Sarah apareceu inesperadamente no meu quarto, carregando uma bandeja de café da manhã. Ela me olhou com um sorriso gentil e perguntou:

– Como você está Mia?

Eu me recostei na cama e suspirei, sentindo um nó no peito.

– Eu não sei Sarah. Não sinto nada. Tudo parece tão sem sentido.

Sarah colocou a bandeja na mesinha ao meu lado e se sentou na beira da cama. Ela segurou minha mão com empatia.

– Eu entendo como você se sente, Mia. Isso foi um choque para todos nós. Mas você não está sozinha, estamos aqui para apoiá-la.

Conversamos por um tempo, e eu mencionei como Sarah vinha me visitando no apartamento quase todos os dias nos últimos meses. Nossa amizade havia se fortalecido, e ela se tornara uma presença constante em minha vida.

Sarah sempre tentava me convencer a sair de casa e enfrentar o mundo lá fora, mas eu continuava resistindo. A angústia que me atormentava era como uma prisão invisível, e a simples ideia de enfrentar o mundo real era assustadora. Eu agradecia a preocupação de Sarah, mas estava presa em um estado de inércia, incapaz de encontrar um caminho para fora do vazio que me cercava.

Sarah colocou uma bandeja com café da manhã na mesinha ao meu lado, e algo mais chamou minha atenção. Havia um envelope junto com a bandeja. Curiosa, peguei o envelope e o abri. Para minha surpresa, era um convite para a festa de aniversário de Sarah, que estava marcada para daqui a algumas semanas.

Eu olhei para o convite e depois para Sarah. Ela sorriu com um brilho de expectativa nos olhos.

– Sei que não adianta tentar convencê-la a sair, Mia, mas sua presença seria muito importante para mim na minha festa.

Eu hesitei por um momento, pensando na oferta de Sarah. Finalmente, respondi:

– Vou pensar a respeito, Sarah.

Ela assentiu com compreensão e me abraçou calorosamente.

Obrigada, Mia. Eu adoraria tê-la lá, mas entendo se não conseguir.

Antes de sair do quarto, Sarah mencionou que tinha um encontro marcado com Gabriel e que estaria de volta no dia seguinte. Eu assenti em silêncio, agradecida pela compreensão de minha amiga.

Depois que ela partiu, meus olhos retornaram ao convite da festa de aniversário de Sarah, e eu comecei a pensar sobre a possibilidade de sair de casa e enfrentar o mundo lá fora. O convite era um lembrete de que a vida continuava a acontecer, mesmo que eu me sentisse presa em meu próprio mundo de dor.

Deitada na cama, fui tomada por uma enxurrada de lembranças da última festa de aniversário que tivera, a festa que deveria ser uma celebração, mas que acabou sendo um redemoinho de emoções e confusão.

Lembrei-me claramente da cena em que Kaleb me pedira para dançar, a química inegável que existia entre nós enquanto nos movíamos lentamente ao som da música romântica. Nossos olhos se encontraram, e nossos lábios quase se tocaram antes de o celular dele tocar, interrompendo o momento mágico que estávamos prestes a compartilhar.

As palavras da conversa que eu ouvira, os olhares tensos trocados entre Kaleb e os amigos, e sua saída da festa sem explicação, tudo isso veio à tona mais uma vez. A dor e a confusão que eu sentira naquele momento ainda estavam frescas em minha mente.

Uma lágrima solitária escorreu pelo meu olho e caiu no travesseiro enquanto eu relembrava aquele momento. A dor que senti naquele dia ainda estava viva em mim, uma ferida aberta que parecia não querer cicatrizar.

À medida que as lembranças inundavam minha mente, surgiu um medo profundo e angustiante. Eu não queria reviver a mesma dor novamente, não queria perder Sarah, minha amiga mais próxima, da mesma maneira que parecia ter perdido Kaleb. O medo de que o passado pudesse se repetir me dominou, e eu me perguntei se deveria aceitar o convite de Sarah e enfrentar meus medos, ou se deveria continuar me escondendo, tentando evitar mais desgosto.

Deitada na cama, a ideia de comparecer à festa de aniversário de Sarah era, de certa forma, assustadora para mim. A perspectiva de conhecer novas pessoas e encarar o mundo além das quatro paredes do meu apartamento parecia desafiadora demais. No entanto, a amizade de Sarah era importante para mim, e eu sabia que era hora de enfrentar meus medos e tentar seguir em frente.

Enquanto ponderava sobre essas possibilidades, Ayla entrou no quarto, segurando os livros de estudos que eu precisava concluir naquela semana. Ela me lembrou das lições que estavam esperando, e eu agradeci por sua persistência em me ajudar a manter alguma normalidade em minha vida.

Ayla deixou os livros na mesa próxima à bandeja de café da manhã e se sentou ao meu lado na cama. Ela acariciou suavemente a pele do meu braço, demonstrando carinho e preocupação. Nossos olhares se encontraram, e eu senti o calor da amizade que compartilhávamos. Mesmo quando tudo parecia incerto e doloroso, Ayla era uma âncora na minha vida, uma constante que eu podia contar.

Ayla notou o convite na minha mão e perguntou com curiosidade:

– Você vai à festa, Mia?

Eu olhei para o convite, indecisa, e respondi:

– Ainda não decidi.

Ayla então sorriu com sabedoria e disse com uma voz cheia de inspiração:

– Mia, às vezes, a vida nos desafia a tentar coisas novas e a ter esperança no futuro. Não podemos deixar o passado nos impedir de encontrar alegria no presente. Talvez seja a hora de dar um passo adiante e simplesmente curtir o momento, sem pensar no que ficou para trás.

Suas palavras penetraram no meu coração, e eu a abracei com gratidão, sentindo um aperto no peito.

– Eu te amo, Ayla.

Ela retribuiu o abraço calorosamente e disse:

– Eu também te amo, Mia. Estarei aqui para apoiá-la, não importa qual decisão você tome.

Ayla se levantou e, antes de sair do quarto, me lembrou das lições que precisava concluir e de que ela estaria de volta para ajudar. Enquanto ela saía, eu fiquei sozinha no quarto, refletindo sobre as palavras inspiradoras de Ayla e as possibilidades que o futuro poderia trazer. Talvez fosse hora de dar uma chance à esperança e à alegria, superando o peso do passado que tanto me assombrava.

Decidida a seguir as palavras de Ayla, peguei meu celular e enviei uma mensagem para Sarah:

Estarei na sua festa de aniversário, Sarah.

Depois de tomar a decisão, me levantei da cama e me aproximei do espelho. Olhei para o reflexo que me encarava, pensando nas palavras de Ayla e nas possibilidades que o futuro poderia trazer.

Decidi que era hora de tentar novamente, de dar uma chance à esperança e à alegria. Mas o medo ainda pairava sobre mim, uma sombra constante que lembrava as incertezas do que o futuro reservava.

No entanto, naquele momento, eu estava determinada a não deixar o passado me dominar. Respirei fundo, enxuguei uma lágrima teimosa que escorreu pelo meu rosto e me preparei para enfrentar o desafio que se aproximava.

AMOR INESPERADO (EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora