Manhãs de Alabastro

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— Quando sua mãe chega? — indaguei a Eloise, após o chá da tarde. 

        Com cores de lavanda, era quase uma moça feita, e a contragosto admitia, uma dama geniosa. Embora, diferente de mim, parecesse inofensiva. 

— Escrevi o convite, aguardo a resposta dela. Mas é a baronesa viúva, por que a carta tinha o nome do Loras? — Eloise era diligente com a correspondência, e dividia com sua atenção entre elas e a revista.

— Ele é o Barão Cavendish de Applehall. Agora que resgatei meu dote, pretendo deixar essa mansão, e quero mesmo saber se deseja que faça sua apresentação à sociedade; já é motivo de especulação, e com a fortuna da família, terá propostas interessantes... Não precisa sair, Sr. Florentine — Até minha educação tinha um tom jocoso. — Não quando, na ausência da mãe, é padrinho e guardião das crianças.

        Eloise e Killian trocaram olhares alarmados. Trocara poucas palavras com o homem desde meu retorno de Londres. Se fosse de Will, ele teria aceitado, mas quaisquer gentilezas minhas eram rechaçadas com insegurança. Facilmente teria perdoado sua recusa em aceitar o dinheiro, e minha amizade, se seu orgulho não tivesse ferido o meu.

— Killian não... — Eloise se apressou em colocar. Mas minha sobrancelha arqueada denunciava seu deslize. — Lhe foi pedido segredo, Lady Irlina. — Dei de ombros. Mas o valete ainda trincava incerto a mandíbula. Quando deixou o espaço do jardim, a jovem me falou a boca miúda. — Quanto ao dinheiro, achava demais para um criado.

      Bufei. Pelo visto Killian não precisava falar nada para desejar espancá-lo.

— Deus me livre de privá-lo de um único centavo. Me irrita desde sempre, seu silêncio principalmente, e olha que já o conheço há muitos anos, mas é honesto e com uma maldita modéstia. — Conheci um jovem idealista e modesto, mas também sonhador. Me pergunto se foram os anos e um falso conforto que o deixaram estagnado. — Talvez um dia, querida, conheça os homens bem para saber que o orgulho deles sempre resguarda uma distinta insegurança.

— Parece conhecê-lo bem o bastante — colocou. Seu tom deixava algo implícito. "Como conhecia meu pai", talvez. Mas, sobre ela, só podia supor. A revista em meu colo farfalhou tal qual as folhas na brisa, antes de Eloise dar um pulo. E comparar com a carta em suas mãos. — Não posso acreditar, olhe isso ma... Lady Irlina!

— Ia dizer mãe ou madrinha? — A pobre herdeira estava vermelha. Seus ares primaveris estavam castigados pelo frio, mas a possibilidade da chegada da mãe a vinha deixando noites acordadas. Seu sorriso ali porém, embaixo da vergonha, estava radiante. Julgava então Lady Eloise perfeitamente tolerável, quando não agradável. Mordi o riso, perscrutando as páginas. — Lorde Byron cumpriu a promessa!

     Meu chamado trouxe Killian depressa, desviando da cerca viva. Apresentei-lhe o envelope e Eloise estava de pé com a revista.

— Ainda está em tempo de escolher como quer ser publicado. Tem o péssimo hábito de não assinar suas obras, Sr. Florentine — provoquei.

— Seus poemas são assunto nos salões de Londres — comemorou Eloise. — Fizeram uma matéria na Revista literária de Edimburgo.

       As sobrancelhas de Killian formavam um arco de incredulidade. Sua boca estava aberta, sem encontrar palavras para o convite de um editor.

— Por favor, não zombe de um pobre empregado. — Minha risada era cúmplice e Killian apenas encarava o papel, tonto de desconfiança. — Há algum engano, não sou escritor...

— Ao inferno com sua maldita modéstia — Ela sabia me enervar. — Alguém que preenche inventários e faz relatórios assim, tem no mínimo um livro aproveitável e esquecido na gaveta. Agora que o jarro de Pandora foi aberto, não se esconda de novo nele!

Noites de AlabastroWhere stories live. Discover now