4 • | everything I do, I tell you all the time

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— Styles! — Louis chama minha atenção pela terceira vez e eu me afasto, de novo — Enfia a porra da mão no meu prato mais uma vez e eu mordo ela.

Ignoro suas palavras e quando Louis sofre para tentar cortar seu filé eu me intrometo novamente, e descubro que ele não estava blefando e realmente finca os dentes na minha mão quando me aproximo de seu prato.

— Meu deus, Tomlinson, você é maluco ou o que? — Grito furioso, puxando minha mão que agora ostenta as marcas profundas de seus dentinhos afiados — Seu cachorro. — Digo só pra mim e é claro que ele escuta.

— O cachorro e a girafa, é divertido. Gostei disso, Styles. — Ele ri, quase cortando a manga solta de sua camisa ao invés do seu almoço, mas estou aborrecido e não quero mais ajudar — Ora, vamos fale comigo. — Continuo calado, esfregando minha mão tentando aliviar a dor — Harry, onde está a sua compaixão, eu sou cego!

— Usa a cegueira só quando conveniente?

— Naturalmente.

— Argh, vai se ferrar.

— Vai se ferrar! — Ele repete, imitando até mesmo a minha voz.

— Vai me imitar agora?

— Vai me imitar agora?

— Sr. Tomlinson, por favor.

— Sr. Tomlinson por favor.

— Porque você é tão irritante?

— Porque você é tão irritante?

— Infantil!

— Infantil!

Respiro profundamente, massageando as têmporas e olhando de canto de olho que ele está atento, esperando a próxima palavra.

— Certo.

— Certo.

— Harry é lindo.

— Harry é lindo.

— Louis é idiota.

— Opa, nada de dizer mentiras aqui, rapaz. — Balança o indicador de um lado para o outro, reforçando sua ideia.

— Então, concorda que eu sou lindo?

— Pode ser. De qualquer forma eu sou cego, meu julgamento não é confiável e nos poucos dias em que esteve aqui ninguém fez comentário algum sobre sua aparência, então acredito que você não é grandes coisas.

— Eu era o mais bonito de Holmes Chapel. — Me defendo, ofendido. Realmente ninguém pareceu muito impressionado pela minha beleza o quê é bem raro.

— Em Holmes Chapel só tem poeira e rato, a concorrência é bem leve. — Louis continua a me provocar, dando um longo gole em seu vinho.

Estamos caindo na rotina. Oito dias se passaram desde minha chegada a Londres, eu e Louis ainda estamos no período de adaptação. Lottie me instrui quanto as minhas obrigações que basicamente são:

Não deixar que o Louis se machuque.

Não deixar que o Louis se sinta sozinho.

Não deixar que o Louis chegue no armário de remédios.

Nem que fique sozinho durante o dia.

Não deixar que o Louis receba visitas de estranhos, nem fique em pé por muito tempo.

Semana passada ele zombou de mim dizendo que eu era sua nova babá e não é que ele tinha razão. Liam o levava de carro para a cidade, o ajudava a cavalgar, jogava xadrez com ele — ainda não entendo como fazem isso — batem papo e afins, às vezes ele consegue convencer Louis a deixá-lo carregar até o andar de cima. No dia seguinte ao episódio no quarto de Louis, Charlotte me contou que durante a guerra ele foi um dos soldados a ficar preso na ilha de Dunquerque e que durante o tempo em que esteve lá sofreu um ferimento na perna, na época não parecia nada, mas pela falta de cuidado ele contraiu alguma bactéria maligna que estava devorando os nervos e tecidos de sua perna. Nenhum médico havia conseguido localizá-la para realizar a remoção e a dor era insuportável, a cada semana mais e mais tecidos eram rompidos e sua locomoção ficava cada vez mais comprometida. Quando perguntei se havia alguma forma de pôr fim a dor ela disse que eles poderiam amputar a perna de Louis ou simplesmente esperar até que ela se tornasse um membro inútil e sem funcionalidade, embora Bebe tenha certeza de que ela irá para a outra perna.

PERFUMEWhere stories live. Discover now