17 • | armageddon

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Quando era criança tinha medo de ir a igreja.

Meu pai, quando voltou da guerra, decidiu que era hora de se aproximar de Deus. Fazer as coisas certas e andar conforme seus mandamentos, minha mãe como era uma católica fervorosa se jubilou com a decisão de papai e no primeiro domingo de seu retorno vestimos nossas melhores roupas e adentramos a casa do senhor. No começo eu gostava, eles cantavam músicas bonitas e o padre falava sobre como papai do céu criou a terra, fez os animais e todas as coisas. Era bom saber que havia alguém tão poderoso cuidando de mim.

Mas conforme eu crescia eles não falavam mais tanto sobre as coisas bonitas e boas, eles falavam sobre guerras, destruição, bolas de fogo caindo do céus e matando todo mundo que não obedecesse. E nesta época só havia um nome em meus pesadelos, Armagedom, eu não entendia direito o que significava, mas isso me assustava.

E até hoje assusta.

Armagedom se refere a batalha final de Deus contra a iniqüidade, ou o diabo, o que dá no mesmo. Pra mim sempre fora sinônimo de caos, destruição, o fim de algo. Hoje eu me perguntava se estava vivendo o Armagedom de Louis Tomlinson, se aquele desmaio repentino e dramático não era um sinal de que nosso tempo juntos estava se esgotando. Era doloroso pensar sobre isso quando ele estava com a cabeça no meu peito, acariciando minha barriga e contando a história dos três porquinhos para Melly que não parava de chutar desde que ouvira a sua voz de anjo.

- E então ele soprou e soprou...

- Lou. - Chamo, ainda brincando com seus cabelos e ele ergue os olhos pálidos que miram no meu queixo, mas não é como se eu não estivesse acostumado. Depois de tantos meses eu não esquecia mais que ele não pode me ver e de certa forma não importa, isso não o torna menos incapaz ou homem do que ninguém, como Mitch havia me dito as imperfeições de Louis eram o que o faziam perfeito para mim. Ainda me era surreal que eu tivesse um sentimento tão grande por aquele mesmo homem que me recepcionou com uma arma. O amor e seus jogos misteriosos - Será que meus pais não me odeiam mais?

Desde que os policiais vieram com a denúncia de sequestro, uma pequena esperança de que eles não me repudiassem cresceu em mim.

- Quem sabe. Eles são seus pais e perderam você e sua irmã.

- Eu poderia ligar para eles algum dia.

- Seria bom. - Murmura, esfregando o nariz em minha camisa e beijando minha clavícula com sua mão descendo para massagear meu quadril - Só não alimente esperanças.

- Não estou!

- Duvido! Você é a pessoa mais iludida que eu conheço.

- Não sou. - Rebato com um bico mimado e Tomlinson gargalha subindo para beijar meu bico até que eu esteja dando passagem para a sua língua quente e macia, afastando as pernas para que ele coloque a sua entre elas.

- Vejo que está bem melhor, Louis. - O tom autoritário do Dr. Rexha nos faz tomar uma distância segura um do outro e encostamos as costas contra a cabeceira. O homem corpulento com barba e cabelos grisalhos, olhos caídos e inexpressivos e duas cabeças mais alto do que eu tinha uma prancheta na mão e rabiscava algo, sua filha estava ao seu lado, o rosto bonito e delicado estava coberto por traços severos e ela ainda não tinha parado de bufar e me olhar atravessado como se eu fosse uma mosca em sua sopa. Eu não a culpo, de certa forma ela não esperava que depois de ter chegado em tempo recorde e ainda ter trazido o pai para tratar de Louis, quando ele acordasse foi querer a mim e ainda por cima me beijar na frente dela.

Bleta era filha de um dos melhores médicos da Inglaterra, ela tinha um talento nato e durante a guerra o ajudou a tratar dos feridos, mas por suas habilidades muito superiores a de uma simples enfermeira ela ganhou o título de doutora, embora não fosse formada e nunca tivesse sequer pensado na possibilidade de seguir o ofício, mas tudo mudou quando o seu melhor amigo e paixão eterna se encontrava a beira da morte e então ela abraçou o ofício com unhas e dentes. Desde que eu chegara a esta casa ela tinha sido a única médica a tratar de Louis. Liam me manteve trancado na biblioteca por um tempo a mais e não me deixou ver o que aconteceu depois que Louis desmaiou, provavelmente não seria uma boa ideia me aproximar com todos os soluços e o choro copioso, mas depois que ele estava acomodado em seu quarto ela ligou para o pai.

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