6 • | dont know what I'm feelin'

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A ópera Russa ecoando no toca-discos não servia para ofuscar o som dos gritos de Louis e sua irmã mais nova, Charlotte. A discussão deles durava horas e parecia que quanto mais discutiam mais estimulados se sentiam a prosseguir. Ambos eram teimosos e não estavam dispostos a dar o braço a torcer. Tudo começara naquela manhã nebulosa, quando Louis expôs seus planos de viajar para Paris ainda hoje. No entanto, Charlotte se via no direito de proibi-lo e se colocou contra a decisão do irmão, quando ele a ouviu dizer um alto e claro não como se ele tivesse lhe pedido permissão o embate teve início.

Charlotte só estava preocupada e Louis, bem, Louis não era lá de muita confiança. Em diversos momentos ao longo do dia, o Sr. Tomlinson convocou Liam e eu para que fizéssemos suas malas e providenciássemos os arranjos para sua viagem. Lottie vinha logo atrás ameaçando cortar nossas cabeças se déssemos ouvidos aquele insano, segundo suas palavras. A história se arrastou por tanto tempo que Payne achou melhor telefonar para a doutora Rexha, que em menos de uma hora junto aos dois colocou fim à discussão.

Lottie encontrou Liam e eu jogando xadrez na sala de estar. Assim que a vimos ficamos de pé.

— Senhor Payne, por favor, providencie as passagens e hospedagem para vocês. — Liam assentiu, saindo prontamente para cumprir com suas obrigações — Harry, por favor, faça uma mala para Louis. Deve ser pequena, ele me disse que volta ainda hoje de Paris. Pegue as roupas em seu segundo quarto no terceiro andar e o ajude a se vestir. — Assinto, caminhando em direção às escadas. Charlotte pigarreia e eu interrompo o passo — Eu peço que por favor, fique de olho nele.

— Sim, senhorita.

— Obrigada, querido.

Encaro seus olhos azuis, repletos de bondade e preocupação, pobre Charlotte, tão inocente, sem conhecer as pessoas que a cercam. Eu sou um criminoso que estou ajudando seu irmão tão amado a acabar com a própria vida.

Engolindo qualquer impulso desenfreado de dizer ou agir de modo impensado, subo as escadas em direção ao terceiro andar. Duas horas depois Liam me informa que tudo está certo e que o voo está marcado para daqui à meia hora. Ele diz que irá esperar no quarto e pede que eu chame o Sr. Tomlinson. Desta forma, aqui me encontro batendo pela quarta vez na porta de seu quarto sem receber uma resposta.

Estou quase, quase preocupado quando ela é aberta e para a minha surpresa uma senhorita Rexha abotoando os botões de sua camisa é quem me recepciona.

— Oh, é você, querido! Achei que fosse aquela mal amada da Sarah. Entre, por favor, já estou de saída. — Bebe vai para o lado, me dando passagem e meio hesitante eu me coloco para dentro do quarto, varrendo o lugar com os olhos e não encontrando o Sr. Tomlinson. Embora estivesse mais preocupado em analisar friamente cada centímetro cúbico do cômodo, eu só estive no quarto de Louis uma única vez, ainda em meu primeiro dia. Ele costumava acordar mais cedo do que eu, Lottie ou Sarah o auxiliavam nas primeiras tarefas do dia e costumávamos nos encontrar apenas no café da manhã, por isso fiquei tão absorto no quão belo aquele lugar era. Digno da realeza. O piso era mais escuro do que o do restante da casa, haviam cortinas pesadas nas janelas, poltronas, sofá e incontáveis almofadas, todas em carmesim com as bordas douradas, também presente em seus móveis com um brilho genuíno como se fossem feitos inteiramente de ouro. Sua cama era imensa, grande demais para um homem sozinho, com suas cortinas amarradas no dossel, a colcha vermelha-escura com suas franjas douradas estava puxada para o fim da cama, os travesseiros e fronhas amassados e a camisa que eu jurava ter visto Louis usando pela manhã jogada no chão. Voltei para Bebe, o rosto corado e os cabelos desgrenhados enquanto terminava de calçar seus sapatos e apanhar a maleta em cima da cômoda.

— O Sr. Tomlinson está aqui? — Pergunto, caminhando até a peça de roupa e a recolhendo.

— Sim, sim, está no banheiro. Bom, preciso ir, tenham uma boa viagem. — Ela se despede, mas eu não faço questão de retribuir. Ouço seus saltos ecoando no assoalho e volto os olhos para o tecido em minhas mãos, tão fino e macio e ultimamente devo estar sendo movido pelos irracionais hormônios da gravidez, pois somente isso poderia explicar que eu estivesse fechando os olhos e inalando o perfume de Louis. Tão forte e caro que me faz prender a respiração apenas para que eu possa apreciar por mais tempo. A porta do banheiro é arrastada e eu enfio a camisa no bolso interno do meu sobretudo.

PERFUMEWhere stories live. Discover now