𝑺𝑷𝑨𝑹𝑲𝑺.
⸻ Aos 26 anos, a vida de Charlotte Zhang não estava indo conforme havia planejado aos dezesseis anos. Solteira, mãe solo, com um emprego instável, sem família e sem teto. Era um pesadelo acontecendo bem diante de deus olhos.
E...
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ERA UMA sexta-feira. Mais uma semana havia se passado e Charlotte Zhang ainda não tinha conseguido um emprego novo — mesmo Blake Stewart insistindo que a vaga ainda era dela e que ele quem decidia isso, não Joshua — e muito menos um apartamento próprio.
Portanto, Charlie ainda dividia a cama com Lindsay, ainda comia da comida dela, ainda fumava um cigarro atrás do outro, ainda estava sem esperança e desesperada. Recomeçar a sua vida pela segunda vez estava sendo ainda mais difícil do que imaginava.
Infelizmente, Lindsay tinha se livrado de todas as bebidas alcoólicas que tinha no apartamento, deixando Charlie sem nenhum álcool para se segurar em meio ao desespero, apenas os cigarros — que Lindy ainda, para a alegria de Charlie e sua saúde mental, não sabia da existência.
Era uma sexta-feira bonita e ensolarada. O dia preferido de Charlotte, porque não só era o dia de visitas no Abrigo Para Crianças e Adolescentes do Queens, mas, também, o dia de buscar Harper para elas passarem o fim de semana juntas.
O acordo era esse: todo o fim de semana, sexta à domingo, Charlie poderia ficar com Harper. Ela buscava a menina na sexta-feira de manhã e devolvia para o abrigo no domingo à noite. E, até aquele momento, estava sendo incrível, especial e mágico para as duas.
Naquele dia, Charlotte optou por usar uma calça legging preta e uma blusa cinza da sua antiga faculdade, Yale. Os cabelos estavam presos em um rabo de cavalo alto e o rosto livre de maquiagem.
Ela evitou usar o elevador — não queria ficar presa outra vez — e usou as escadas mesmo, descendo todos os cento e poucos degraus em passadas rápidas e animadas. O Uber que havia pedido já esperava em frente ao prédio de Lindy, e Charlie se apressou para entrar no carro.
A mulher limpou as mãos suadas na calça que usava, olhando para a paisagem que passava pela janela. Como sempre, estava ansiosa para reencontrar Harper — e apreensiva, já que seria a primeira vez que visitaria a menina sem a presença de Joshua.
A viagem de carro até o Queens demorou quarenta e oito minutos. A casa grande e bonita, com um jardim repleto de flores e arbustos, com um balanço e um trepa-trepa colorido na frente, entrou em seu campo de visão, fazendo o estômago de Charlie gelar.
Ela pagou o Uber e saiu do carro, encarando a casa que dava lar para crianças e adolescentes que estavam em processo de adoção ou que precisavam de um lar provisório. Era tudo muito bem cuidado e bonito. Era um ótimo lugar para as crianças.
Charlie engoliu em seco e ajeitou a bolsa nos ombros, caminhando pela calçada até chegar na porta de entrada. Ela tocou a campainha e aguardou, escutando passos e vozes animadas soando do lado de dentro.
