𝑺𝑷𝑨𝑹𝑲𝑺.
⸻ Aos 26 anos, a vida de Charlotte Zhang não estava indo conforme havia planejado aos dezesseis anos. Solteira, mãe solo, com um emprego instável, sem família e sem teto. Era um pesadelo acontecendo bem diante de deus olhos.
E...
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O SOM DE risadas ecoava pelo apartamento, sobrepondo o som do desenho animado que passava na televisão. O não-casal estava sentado cada um de um lado da garotinha de cinco anos, que estava deitada sobre o colo dos dois, comendo pipocas.
Era mais uma semana que Harper passava com Charlie e Bucky. O novo acordo que Dylan havia conseguido permitia que Harper pudesse passar semana sim e semana não com a mãe. Portanto, ali estava ela, curtindo uma terça-feira ao lado de Charlie, Bucky e os seis gatinhos — ou seus irmãozinhos, como ela dizia.
Assim como Harper, Bucky estava super entretido ao desenho. Ele mal piscava e sempre ria das piadas bobas e se surpreendia com as reviravoltas dos personagens. Charlotte, que já sabia todos os episódios e diálogos do desenho de cor e salteado, apenas observava o homem e sua filha, se divertindo com as reações deles.
Era o seu dia de folga, portanto, era um dia todo dedicado à sua garotinha — e, por coincidência, Bucky também tinha tirado folga. Nos outros dias, Harper ia normalmente para a escola, mas ao invés de voltar para o abrigo no fim do dia, ela ia pra casa com Charlie. Porém, naquela manhã, Harper pediu para ficar em casa e faltar a aula. Charlotte não queria deixar, mas foi convencida pela filha e o homem ao seu lado. Dois cúmplices.
O episódio chegava ao fim e outro já se iniciava quando o celular de Charlotte tocou sobre a mesinha de centro. De onde estava, conseguia ver o nome de sua chefe piscando na tela. Ela soltou um grunhido impaciente e afastou Harper de seu colo, pegando o celular e atendendo a ligação inesperada.
Harper engatinhou pelo sofá, miando e ronronando, até subir no colo de Bucky, fingindo amassar o peito dele com as mãozinhas. O homem riu, beijando a testa da garotinha e fazendo cócegas na barriga dela.
— Não sabia que eu tinha uma gatinha tão grande e pesada — disse, erguendo ela no colo até a altura de sua cabeça, arrancando gritinhos e risadinhas sapecas.
— Shh... Gente, silêncio, por favor — pediu Charlie, séria, apontando para o celular preso em sua orelha.
Bucky colocou Harper ao seu lado e a olhou, os dois riram baixo, trocando olhares e caretas cúmplices.
— Mas... Hoje é minha folga! — contestou a mulher, levemente irritada. — Não sei...
— São só quatro horas.
— Só?! — Riu.
— Por favor, Charlotte. Estamos desesperados aqui.
Charlie tirou o celular da orelha e bufou, esfregando as mãos no rosto. Ela olhou para Bucky e Harper que brincavam sobre o sofá, um miando para o outro, fingindo ser gatos. Ela quis rir e gravar aquela cena, mas estava irritada demais com sua chefe interrompendo sua folga. Respirando fundo, Charlie forçou um sorriso e levou o celular na orelha.
