Capítulo 01

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     Em 1844 a França estava vivendo um período turbulento. A guerra franco-marroquina ajudou a abalar um pouco mais a economia do país. Contudo, a cidade costeira de Marselha prosperava e com ela a família Solpel.

Antonie Solpel era descendente de uma nobre e proeminente família da região. Casou-se aos 17 anos com Marie Lapel e herdou os negócios da família. Era conhecido por ser dono de um coração justo e bondoso e isso refletia em seus negócios. Enquanto alguns foram a falência durante os períodos de crise e guerra, Antonie dobrou os lucros de sua vinícola.  Manteve sua plantação segura na cidade de Avignon e investiu no ramo de exportação tendo um escritório no largo do Porto de Marseille. Era notoriamente conhecido pelos operários como Le coeur fidèle (O coracao fiel) ou  Le genre (O Bondoso) e Le fou des pauvres (O tolo dos pobres) pelos demais comerciantes e nobres com quem convivia.

Sendo Bondoso ou tolo, fato era que tratava dignamente os que lhe serviam e notoriamente era o que fornecia os melhores salários e ambiente de trabalho da região.

     Foi nesse cenário que no dia 07 de Fevereiro daquele ano, Marie trouxe ao mundo a pequena Emma. Antonie não era como os outros homens que desejavam um primogênito homem, por tanto sentiu-se imensamente feliz ao segurar a pequena em seus braços.

 Emma já contava com seus três anos quando a mãe deu a luz a Loisa. Um parto difícil  que quase lhe custou a vida. Mais uma vez o homem se viu agraciado e completamente apaixonado por suas duas filhas. Já Marie culpava-se por não ter gerado o tão sonhado herdeiro como havia sido instruída a vida toda a fazer. Caiu numa tristeza sem fim quando o médico da família lhe informou que não poderia gerar mais.

    Os dias passavam e Marie se recusava até a amamentar Luísa. A pequena era alimentada por uma das empregadas da casa que também acabara de se tornar mãe.

— Mama! - Emma esquivou-se para dentro do quarto da mãe e a chamou com a voz trêmula. Sem resposta. – Mama! - Aumentou o volume de sua pequena voz e desta vez seu chamado surtiu  efeito. Marie virou-se para a filha e a fitou com atenção.

— Onde está seu pai? Subiu até aqui sozinha? E Anna?

— Como ninguém quis me trazer, vim sozinha. - A pequena respondeu cruzando os braços.

— A senhorita é  jovem demais para subir as escadas sozinha e menor ainda para estar com essa cara amarrada.

— Já estou com quase quatro anos, posso fazer essas coisas  de gente grande. Eu sou muito inteligente.

 As palavras da pequena arrancaram uma fraca gargalhada de sua mãe que lhe esticou os braços, erguendo a pequena  do chão e a aconchegando ao seu lado. Passou as mãos nos cabelos cor de mel da filha e explorou seu rosto com a ponta dos dedos.

— Você herdou os olhos do seu pai. Verdes. - Comentou a mãe, ainda lhe acariciando.

— Eu sei Mama, Anna sempre diz isso. Ela também diz que meus cabelos vieram da senhora.

Estavam tão entretidas que não perceberam que Antonie havia entrado no quarto a procura da pequena.

— Então me diga o que era tão urgente para vir até mim.

— A senhora não gosta da Lola? - Marie assustou-se com a pergunta.

— Quem é  Lola minha filha? - Emma automaticamente afastou-se da mãe. Suas delicada feições estavam contraídas demais para alguém tão pequena.

— Luísa. Ela está falando da nossa pequena. - Antonie falou,  interrompendo mãe  e filha.

— Papa! O senhor me achou. - A pequena saltou da cana e correu para o colo do pai, lhe dando um grande abraço.

Além Da EternidadeWhere stories live. Discover now