Além Da Eternidade

Capítulo 26

     Emma suportou o velório e enterro do filho como uma rocha que se recusava a ceder a erosão  do tempo. Os dias de Thomaz vem se tornando cada vez mais difíceis e se intercalam entrem sua cama e a cadeira de balanço que os empregados carregam pela casa conforme pedido de Emma. O homem não voltou a falar ou expressar qualquer tipo de sentimento ou reação desde então. Não se sabia se seu estado catatonico se devia ao choque emocional da perda ou ao mal subido que lhe acometeu, talvez, um pouco dos dois.

    Por ironia do destino, as vésperas de completar um ano da morte de Henri, Lorrence, enlouquecido, ateou fogo em si mesmo e para muitos, as palavras de Emma se cumpriram.

   Vinte anos se passaram desde aquela primeira primavera dolorosa para Emma. Junto a Thomaz, ela se encontrava no jardim de sua casa, onde as flores testemunharam sua tristeza e sua busca por paz. As árvores, agora mais altas e maduras, sussurravam histórias de um tempo implacável. Ela ainda sentei a ausência do filho, mas aprendeu a conviver com a dor, transformando-a em uma força silenciosa que a guia pelos anos. Todos os dias Emma sentava-se debaixo de uma das árvores e lia para o marido.

Apesar de todo o carinho e amor com o qual era cuidado, era visível a quem olhasse que o homem definhava a cada dia. Depois de algumas horas no jardim, Emma pediu que a ajudassem a leva-lo para dentro. Com toalhas embebidas em água morna, ela limpou o corpo do marido. Com lágrimas nos olhos, Emma acariciava o rosto pálido de Thomaz, murmurando palavras de amor que o vento leva. – Meu amor, não imagina o quanto és minha âncora, minha razão de sorrir. Queria tanto ouvir tua voz uma última vez, sentir-te aqui, mesmo que por um instante.

As toalhas deslizavam suavemente sobre a pele frágil de Thomaz, enquanto ela continuava seu monólogo emocionado. – Estou cansada, meu querido, cansada de ver-te definhar. Mas não de ti, nunca de ti. Gostaria apenas de mais um sorriso, uma palavra que fosse. Queria ter a certeza de que me ouves, de que sabes o quanto és o centro do meu mundo.

Emma vestiu Thomaz com carinho, depositando um beijo leve em seus lábios. – Dorme, meu amor, dorme em paz. Eu estarei aqui, guardando nosso amor nos recantos mais profundos do meu coração. Descansa, meu Thomaz.

Ao acordar no dia seguinte, o silêncio pesado no quarto revelava a partida de Thomaz. As lágrimas de Emma cairam em silêncio, guardando a dor como um segredo compartilhado apenas com as paredes. – Adeus, meu amado. O amor que vivemos transcenderá o tempo. Descansa em paz, pois eu carregarei nosso amor enquanto houver vida em mim.

   Assim Emma se viu sozinha e largada a própria sorte. Com o tempo tornou-se reclusa, abandonando a casa  na cidade. Passou a empresa para a irmã e partiu para  vinícola que fora palco de seu amor. Lá, amargurou  dez longos e solitários anos até finalmente fazer sua própria passagem.  Em mente no momento  de sua morte, Emma  tinha apenas Thomaz e o desejo de reencontra-lo em outra encarnação para enfim, viver o amor dos dois em paz.

Tempos atuais...

    Neste pequeno instante na qual o mundo parou para os dois, Jimin moveu os lábios e apesar de nenhum som sair de sua boca, Clara simplesmente sabia o que ele dizia:  – É você.

Sorrindo para ele, afirmou  com a cabeça enquanto tentava controlar as lágrimas que já queriam descer por sua face. Para ela era uma mistura de sentimentos. Havia o medo de não ser reconhecida. O amor que as lembranças traziam à tona e  enfim a felicidade de constatar que ele também à reconhecia.

    Com o fim daquele choque inicial Jimin voltou a se concentrar em seu trabalho, enquanto as amigas de Clara à olhavam  com um sorriso contagiante no rosto.

— Eu sempre soube – falou Duda.

—Eu também – Disse Mimi que estava ao lado de Duda.

A confusão das palavras entre o  pequeno grupo começou e ela não sabia em quem prestar a atenção, então optou em admirar Jimin durante os poucos minutos que ainda possuíam daquela passagem de som.