Capítulo 5

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Florence olhou confusa para o seu celular e franziu as sobrancelhas antes de sair do seu carro e entrar no prédio de S/n.

A loira tinha feito a ligação para avisar que estava na casa da outra, mas depois de ouvir o tom de cansaço e a irritação de S/n, decidiu ir ver o que ela tinha sem avisar, sabendo que a outra poderia estar vomitando até a sua alma no banheiro ou se matando em um aparelho de academia que ela tinha em seu apartamento.

Usou uma cópia da chave para abrir a porta e entrou na casa, fez o caminho por todo apartamento procurando S/n em silêncio antes de ir para o fim do corredor, onde o quarto da morena estava.

A porta estava entreaberta e Florence encarou em choque depois de ouvir os gemidos de S/n e ver a mão da garota em meio as suas pernas fechadas. Florence corou profundamente e deu meia volta, indo para a cozinha.



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S/n saiu do quarto poucos minutos depois de ser recuperar de seu clímax, estava vestida somente com uma calcinha e uma blusa, não se importando em se cobrir quando achava que não tinha mais ninguém na casa.

Foi para a cozinha para procurar alguma coisa para comer e arregalou os olhos ao ver Florence com o rosto todo vermelho mexendo em algo na panela.

- Flor? - Chamou hesitante, e como se fosse possível, a loira corou mais ainda.

- Oi amor. - Sussurrou, encarando a panela. - Eu tô fazendo macarrão com queijo para a gente.

- Você tá aqui a quanto tempo? - S/n se aproximou, disfarçando o constrangimento dando uma rápida espiada para dentro da panela.

- Desde uns dois minutos depois que você desligou o telefone na minha cara. - Florence murmurou, logo voltando a falar depois que S/n a olhou desconfiada. - Eu fiquei preocupada amor, você tava no hospital antes de ontem e hoje na ligação você atendeu muito ofegante. Eu não teria subido para cá se soubesse que você estava só- Se interrompeu e deu um sorrisinho tímido para a outra.

- Ah, desculpe por ter feito você subir até aqui. - S/n falou envergonhada. - Você não precisava ter vindo me checar, eu consigo me virar sozinha.

Florence fez uma leve careta para a outra e desligou o fogão, tirando a panela e colocando na bancada onde tinha dois pratos, ela colocou metade do conteúdo da panela em um prato e a outra metade no outro.




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S/n pov


O resto da quarta-feira se passou sem nenhuma ocorrência anormal, e logo era quinta de manhã. Me levantei da cama sem nenhuma animação, com vontade de simplesmente me afundar em minhas cobertas e morrer.

 Fui em direção a cozinha, e peguei minha garrafinha com meu remédio misturado no conteúdo da água. Tinha um gosto horrível, mas eu sabia que tinha que tomar tudo para não incomodar mais a Florence com as minhas crises de depressão.

Para todos os efeitos, esse "remédio" era uma droga, que meu médico tinha me falado alguns anos atrás que eu em hipótese nenhuma deveria consumi-la, pois abafava minhas emoções, me deixava mais propensa a adoecer e me deixava com muito apetite, resultando que eu comeria muito, engordaria e minha anorexia ficava voltando.

Eu tomava essa droga em poucas quantidades e somente uma vez ao dia, por isso que a noite, eu já ficava muito mais amuada já que o amortecimento das minhas emoções iam sumindo. E também, porque se eu tomasse muito, eu ficaria para todos os efeitos, paralisada, como aquela noite vários anos atrás que adulteraram minha bebida em uma festa de aniversário e eu fui estuprada. Mas não era hora de lembrar disso.

Fui para o banheiro, e rapidamente tirei minhas roupas, logo em seguida entrando debaixo da água morna que caía do chuveiro.

Eu amo tomar banho.

Só não gosto da parte em que vejo minhas cicatrizes em meus pulsos. Linhas e mais linhas finas, que quase me mataram um dia. Meus braços pareciam um código de barras.

Pelo menos, eu não conseguia ver as marcas da parte interna das minhas coxas, que estavam em uma situação muito mais lamentável que os meus braços.

Me dei o luxo de pegar meu banquinho branco de plástico, que Florence ou Hailee usavam para me dar banho quando eu mal conseguia levantar da cama de tanta dor mental, e o coloquei diretamente em baixo do chuveiro, me sentei no banquinho e fiquei lá por alguns poucos minutos, apreciando as sensações da água caindo em mim.

De banho tomado, me enrolei em minha toalha, hoje escolhendo uma roupa que não tinha nada a ver com meu estado de espírito. Uma calça jeans amarela, uma blusa de alcinhas rosa e um sobretudo lilás. Peguei minhas botas arco-íris e sequei meu cabelo, o deixando bonito e com volume.

Descobri alguns anos atrás, que os homens na maioria das vezes não me davam uma segunda olhada, ou me seguiam para me estuprarem em um beco, se eu estivesse com muitas camadas de roupas coloridas, assumindo que eu era muito excêntrica e não queriam pegar a minha "excentricidade", o que eu agradeço.

Não é como se eu não gostasse de me vestir assim, mas as vezes eu fico me perguntando: Será que um dia eu vou conseguir sair na rua, vestindo as roupas que eu gosto, agindo do jeito que eu sou e não ser morta, espancada ou estuprada por isso?

Com minha bolsa verde brilhante, com tudo que eu precisava, eu ignorei o meu estômago roncando e fui até o meu escritório.

Eu amava o meu escritório. Saber que fui eu que conquistei aquele espaço enorme, maior até que o meu apartamento, me deixava de coração quentinho, sabendo que foi somente eu, batalhando, não dormindo, estudando até esquecer como que se lê, que conquistou tudo, sem ajuda de ninguém.

As vezes eu me pego pensando, se eu tivesse seguido a mesma carreira de Hailee, eu me orgulharia tanto quanto me orgulho das minhas conquistas? Sabendo que só tenho dinheiro por fazer dieta, dar entrevistas e ficar bonita em cima de um palco, com pessoas me julgando, julgando a minha história e o meu corpo?

Eu já sei a resposta.

Mrs. Johansson, how can i help you?Where stories live. Discover now