16 - As Treze

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Madame Carmella fala dela o tempo inteiro. Diz que Olívia foi a pior criança que já pisou nesse lugar.

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ORFANATO OAK CREEK
(1976 - 1997)

Em primeiro instância, o Orfanato Oak Creek (para meninas, é importante frisar) abrigava apenas meninas crescidas. Bebês eram mais difíceis de se manter e necessitavam de mais cuidado do que o disponível, o que, porém, não impediu a chegada deles alguns anos após a fundação da instituição.

Uma garotinha loira de olhos azuis, a quem foi dada o nome Vívian, foi a primeira, chegando ao orfanato com pouco mais de um ano, o que simplesmente funcionou muito bem ao seu favor.

Talvez pela falta de afeto, as garotas mais velhas sentiam uma necessidade gigantesca de oferecer o que nunca tiveram em forma de carinho e atenção àquela linda garotinha que cativava quem quer que passasse cinco minutos em sua companhia.

Mas, bem, toda novidade deixa de ser especial com o passar do tempo. Com Vívian não foi diferente. Felizmente (ou infelizmente) meses depois da sua chegada, veio uma segunda menina. Era tão pálida que, por alguns dias, achavam que estava doente. Não tinha nada de extraordinário em sua aparência com exceção dos olhos verdes que lembravam duas brilhantes esmeraldas. Seu nome era Olívia, segundo a correntinha de ouro que carregava em seu pulso.

Olívia era uma criança agitada que não conseguia passar uma noite inteira sem acordar chorando e gritando no mínimo três vezes até alguém ajudá-la a dormir novamente. As cuidadoras do orfanato ficavam estressadas. De todas as crianças dali, aquela fora de longe a que deu mais trabalho para se acostumar ao local. Ninguém ali tinha ideia do que acontecera com sua família, mas talvez, se soubessem, entendessem, por isso escolheram ter paciência.

Vívian, pelo contrário, era calma e dócil, o que cativava todos ao seu redor rápido demais. As duas, de cara, não se deram bem. Olívia não gostava de dividir brinquedos. Vívian também não. Olívia não gostava que puxassem seu cabelo e, sempre que acontecia, tentava retribuir. Vívian também. Olívia gostava de sentar na cadeira da ponta da mesa. Vívian também. Tudo era motivo de briga. Tudo era motivo de competição. E, apesar de ambas odiarem a solidão, preferiram ficar sozinhas a terem de aturar uma à outra. Faltava a cada uma a habilidade de ceder e de admitir quando estavam erradas.

Até que houve um verdadeiro divisor de águas que iria decidir o resto de suas vidas no orfanato.

Olívia tinha quatro anos. Vívian também. Assim como a garota nova que chegou. Seu nome era Daisy. A mãe dela havia morrido, mas Olívia não sabia de quê. E também não importava. O que importava, talvez mais que tudo, era que Daisy precisava fazer uma escolha. Olívia ou Vívian. Porque de jeito nenhum que elas três iriam andar juntas. Absolutamente não. Nunca.

E se tinha uma coisa de que Olívia tinha certeza era de que ela odiava perder. Vívian também.

— Oi. — Olívia cumprimentou Daisy, que estava sentada no sofá sozinha, encarando a lareira. — Meu nome é Olívia.

Daisy não respondeu, os olhos se enchendo de lágrimas. Ela não havia parado de chorar desde o momento em que passara da porta da frente e Madame Carmella (a diretora do orfanato) a apresentou às outras.

Olívia se sentou do lado dela.

— Por que você está chorando?

Daisy fungou, abraçando os joelhos.

— Quero a minha mamãe.

Olívia piscou. Entendia o sentimento. Não como Daisy, é claro. Daisy lembrava da sua mãe, Olívia sequer sabia o nome da sua. Depois de pensar por algum tempo, decidiu dar um abraço nela.

OLÍVIA POTTER [6]Where stories live. Discover now