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***
— Por que o senhor fez isso? — lamentei tentando me recuperar.
Com uma leve risada, o outro me responde:
— Foi só uma brincadeirinha.
— Me diz que a impressão que eu tenho de que a Mitsuki-san não vai deixar isso passar é coisa da minha. — pedi, quase choramingando.
— Bom... — desviou o olhar. Ah, droga.
Eu não mereço isso.
Parece que eu não era a única sofrendo, já que, perto de nós, pude ouvir a mais velha provocando o filho, que não tardou em explodir – não literalmente – e começar outra discussão. Quer dizer, ele parecia tentar uma discussão, mas a outra apenas ria as suas custas.
Procurando qualquer desculpa para mudar de assunto e fingindo que não acabei de ouvir o que ouvi, perguntei:
— Vocês tem algum portifólio que eu possa ver? — a pergunta parecia ter pego o outro de surpresa. Ainda sim, ele se dispôs a responder, e agradeci aos céus ao ver que a vermelhidão em minhas bochechas foi propositalmente ignorada.
— Eu sei que temos alguns pela casa… — disse pensativo, e então se virou para a esposa — Você sabe onde estão, querida?
— Eu mexi com um deles esses dias. Olha na gaveta de cima da estante na sala. — respondeu surpreendentemente calma, ganhando um aceno em agradecimento do marido, que logo seguiu para o cômodo ao lado. Ao não me ver com Mitsuki-san por perto, um só pensamento passava por mim.
Queelanãocomentequeelanãocomentequeelanãocomente.
Ao ouvir um "achei!" vindo do cômodo ao lado, uma onda de alívio se espalhou pelo meu corpo.
Mais um livramento. Que coisa boa. Se um dia fui triste, esse dia não foi hoje.
— Shizuka-chan. — o patriarca chama, me fazendo virar para sua direção. Ele, agora sentado na mesa de jantar, me chamava com a mão e um sorriso.
Prontamente me levanto e sigo para a cadeira ao seu lado. Assim que me sento, Masaru-san abre a pasta.
— Fizemos esses modelos para um desfile e uma exposição em 2029. — começou, passando a mão pelos desenhos — Era o final dos anos 20 e tínhamos três objetivos: mostrar a evolução da moda ao redor desses dez anos, juntar referências desses anos em um só modelo e prever como a moda iria seguir nos anos 30. — completou, trocando a visão do portifólio para mim.
— Posso? — perguntei, me referindo ao objeto. Como resposta, Masaru-san o empurra para mim. Sorri em agradecimento, para logo mudar o foco.
Não havia grande diferença de moda entre 2020 à 2034, mesmo assim, poder analisar um portifólio profissional em primeira mão era uma ótima oportunidade.
