19 | A pasta vermelha

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Foi uma tentativa falha, sem meu remédio nada funcionaria, passei a madrugada preocupada, pensando que ainda tinha alguém na casa.

Pareceu pouquíssimo tempo entre o momento que deitamos para dormir de novo, com a Bella entre nós, e o momento que senti ele beijar meu rosto, depois os passos leves pelo quarto, a porta abrindo e fechando.

Abri os olhos, pensei que ainda fosse noite, mas já estava amanhecendo, o que significou que não dormi nada, só tentei, e falhei. Encarei a Bella quando levantei, sempre gostei de deixá-la dormir mais nos fins de semana, o problema é minha falta de sono e medo.

Fiquei pensado por muito tempo se acordava ela ou a deixava ali sozinha, se a pessoa ainda estivesse na casa já teria tentado algo enquanto dormíamos, certo? E tem um monte de policiais ao redor da casa, vasculharam tudo, cada cantinho.

Não me aguentei e verifiquei todas as janelas para ver se estavam mesmo trancadas, e tranquei a porta do quarto, só ia beber água, talvez tomar um remédio se encontrasse algum, e voltar.

Desci as escadas bem devagar, dor de cabeça e insônia são coisas que não combinam, mas que infelizmente caminham juntas quando se trata da minha própria situação. Harry não estava na cozinha e nem na sala, ou em qualquer outro lugar que eu tenha passado na minha ida até a geladeira.

Evitar pensar em tantas coisas ao mesmo tempo, esse precisa ser meu objetivo, pelo menos até o começo da semana, mas é um pouco difícil fingir que não escutei a conversa dele com o Mitch.

Por outro lado, será que eu não estava alucinando? Eu escutei mesmo? Será que não estava tão apavorada a ponto de ver, imaginar e escutar coisas que nunca aconteceram?

Deixei o copo no escorredor e fui em direção ao tal escritório, não sei bem o que procuraria por lá, mas provavelmente era o lugar mais improvável para se encontrar algo, ou isso é o que ele quer que eu pense.

Bati antes de entrar, e ainda bem, porque ele estava lá, sentado na cadeira estofada, atrás da mesa, com o notebook ligado bem na frente dele. Achei estranho, na noite anterior a sala não estava assim, deu para ver que ele arrastou as caixas, mas se eu comentasse, ele saberia, então evitei meu semblante surpreso.

- Oi, linda. - Sorriu, fechando o notebook e o deixando de lado. - Está muito cedo, o que faz aqui?

- Não dormi. - Encolhi os ombros. - Não consigo sem meu remédio. - Abracei meu próprio corpo de maneira sutil.

- Kayra, isso não faz bem, você vai se viciar nessa porcaria. - Falou com calma, me encarando com preocupação. - Vem aqui. - Estendeu a mão, me chamando com um gesto.

Fui até ele, mesmo com tudo girando na minha mente ao mesmo tempo, por algum motivo preciso dele por perto, o Harry é tudo que ninguém nunca foi para mim, estou com medo de ter me tornado o que mais temo, dependente amocional.

Sentei no colo dele como uma criancinha, fiquei abraçada com ele naquela cadeira pequena, mas me senti segura, mesmo não querendo sentir isso.

Encarei ele depois de um tempo, analisei o rosto inteiro, até que vi uma marca no lado direito do rosto, no maxilar. Segurei o rosto dele e virei um pouco para eu poder enxergar melhor, e quando vi o arranhão lembrei do meu episódio ridículo de sonambulismo.

- Desculpa. - Sussurrei, tocando no machucado avermelhado.

- Não foi sua culpa. - Pegou minha mão e a beijou. - Acho que te assustei, meio que gritei para te acordar, foi pior. - Riu baixo. - Na próxima eu tento fazer algo menos brusco.

- Não vai ter próxima. - Protestei rápido. - Vou começar a ir em mais sessões de terapia, vou melhorar...

- Kayra, não precisa disso. - O sorriso dele foi tão doce que me acalmou um pouco. - É importante você ir, claro, mas não precisa ter vergonha, essa é você, e eu não ligo, quero te ajudar. - Fez um carinho no meu braço com o polegar. - A começar pelo seu sono, por que não dorme?

Por todo o meu amor • Harry StylesWhere stories live. Discover now