Suspeitas

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Não. Meu cérebro interpretara erroneamente a imagem. A minha frente havia aproximadamente cinco documentos, todos com a foto de Victória. Victória Vieira Silva. Victória Vieira Macieira. Victória Vieira Santos. E a que mais me chamou a atenção: Márcia Vieira Agostini. O nome da mãe dela. Havia mais documentos, não com a foto de Victória, mas com a foto de Miguel. Todas com o último nome alterado.

Guardei rapidamente as coisas e sai do quarto. Estava assustada. Mil coisas se passavam pela minha cabeça, a mais frequente delas dizia "eles têm documentos falsos". Sim, eram falsos. E perfeitos também. Não havia sequer um indício de que aquelas carteiras não eram autênticas. Comparei com as originas, a que estava em nome de Victória Vieira Agostini. Não havia sequer uma alteração, as cópias eram perfeitas.

Fiquei um segundo pensando naquilo, tentando entender o porquê até que um pensamento me passou pela cabeça. Podia ser que eles dois, Miguel e Victória, não fossem quem diziam que eram. Quem garantia que eles não eram outra pessoa com sobrenomes diferentes? Eu estava muito confusa... A última coisa que eu queria era que minha meia irmã e seu irmão fossem criminosos. Supondo, é claro, que falsidade ideológica ainda fosse considerada crime.

Não. Eu estava antecipando as coisas. Nada indicava que eles tinham falsificado o documento. Poderia ser uma brincadeira ou algo parecido. Não havia nada de mais naquilo. Novamente, eu podia estar me precipitando. Eu e minha mente paranóica. O melhor que eu tinha a fazer é conversar com Vicky ou com Miguel e esperar que eles não me criticassem por mexer em suas coisas, nem que rissem de mim por pensar uma coisa tão ridícula. Simples.

Miguel estava no quarto e Vicky na sala. Fui falar primeiro com Miguel, afinal, eu não tinha mexido no conteúdo da bolsa dele.

- Miguel? - chamei timidamente. Como se ele fosse tirar uma arma do bolso e me mandar ficar de boca calada.

- Entra. - Ele estava sentado à cama. Eu entrei no quarto tentado parecer mais relaxadamente possível.

- Senta. - Ele disse calmamente. Fiz o que ele disse.

- Eu...

- Você mexeu nas coisas da Vicky. - Ele disse. Não era uma pergunta. Não era uma censura. Era a indicação de um fato. Minhas mãos se remexiam inquietas.

- Sim.

- E você viu as identidades. - Falou novamente. - Eu disse a Vicky para não deixá-las à toa. - ele balançou a cabeça.

Não acreditava no que estava presenciando. Eu estava ouvindo a confissão de um crime?

Minha boca se abriu em um 'o'.

- Vocês...

- É, são nossas. Mas não são de verdade. Quero dizer, não são falsas de verdade. É como uma precaução, entende?

- Não. - disse com sinceridade.

- Pode ocorrer um imprevisto, você sabe. - ele fez um aceno de indiferença com a mão.

- Não.

Ele estreitou as sobrancelhas.

- Liza, você não achou que éramos falsificadores, ou algo do gênero, certo?

- Achei. - A melhor coisa no momento era ser verdadeira.

Miguel riu.

- Claro que não sua boba. Como pôde achar isso de nós? Tudo bem que não tem muito tempo que nos conhecemos, mas deu para nos conhecermos o suficiente...

O irmão de minha irmãWhere stories live. Discover now