Revelações

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- Nosso amor é mais forte, Bridget. Eu não vivo sem você. - Eu estava quase vomitando ao assistir tanta baboseira em um só filme. Até ali eu já ouvira uns cinco "você é o amor de minha vida" e dois "eu não vivo sem você". Eu estava sendo obrigada a assistir aquilo ao esperar Vida Secreta começar. Em um momento em que eu não consegui mais aguentar tanta bobagem, soltei uma sonora exclamação.

- Argh! - Miguel, que também estava assistindo o filme com expressão de tédio, falou:

- O que houve?

- Isso é muito meloso. - Ele olhou curioso e eu expliquei - Você realmente acredita nisso?

- No amor? - Ele devolveu. Eu ri do modo como ele falou a palavra amor.

- Não no amor, nesse amor utópico.

- Explique - Miguel pediu. Pensei um pouco em como explicar sem parecer idiota.

- As pessoas passam parte de suas vidas à procura de algo que não existe, esse amor irreal. E quando acham que encontram, o que deveria ser "felizes para sempre" vira "infelizes até que acabe".

- Quanto transtorno. - Ele falou e eu fechei a cara.

- Não é transtorno, é a verdade.

- Mas você não acha que vale a pena? Que os momentos de felicidade compensam os de infelicidade? - ele estreitou os olhos.

- Não acho que compensa. Isso é absurdo.

- Assim como a fila do cinema compensa o filme - ele complementou.

- Péssima analogia. - ri.

- Eu sei, só queria ilustrar. Mas o fato é que não é porque não vi algo que esse algo não existe. - Fiquei vermelha rapidamente com a suposição que ele tinha feito.

- A questão não é essa.

- Então qual é a questão? - ele ergueu as sobrancelhas.

- A questão é: essas quimeras do amor irreal me deixam nauseada. - conclui.

- Bem, talvez um dia você mude de opinião. Talvez um dia você viva sua própria quimera do amor irreal.

Desviei os olhos para a televisão, irritada. Ele não havia entendido o que falei.

- Começou o programa. - informei a ele e depois disso nada mais falei. Ficamos a assistir o programa e, ao contrário dos outros dias, não trocamos uma única palavra. Eu estava muito ocupada pensando em uma resposta para dar a Miguel que confirmasse meu ponto de vista. Eu sabia que era ridículo ficar chateada por conta de uma bobagem, mas não pude evitar. Perder sempre me deixava enfurecida.

Já havia pouco mais de um mês que Vicky e Miguel haviam chegado. Eu ainda estava concluindo a pesquisa e indo todos os sábados ao banco. Era estranho pensar que já havia passado um mês. Eu ria ao pensar em minha paranóica euforia no dia em que Miguel e Victória chegaram, ao comparar com o momento atual. Parecia que nós três nos conhecíamos há anos.

Vicky chegou à sala no momento em que a TV anunciava o Jornal da noite. Ia sair da sala, mas a âncora do Jornal anunciou algo que me chamou a atenção.

- "Esta noite a empresária Márcia Agostini, dona do banco V. Agostini, deu noticias de que irá voltar ao Brasil para tratar de negócios com uma empresa de softwares. - ela deu uma parada e continuou em seguida. Eu estava curiosa para saber mais. - Márcia Agostini que viajou para a Alemanha em agosto, declarou que qualquer decisão que tomar não prejudicará o seu quadro de funcionários - nesse momento, a imagem da repórter desapareceu e a imagem de uma mulher surgiu na tela. Era familiar, talvez eu já tivesse a visto pela televisão. Porém, eu tinha certeza que havia muito mais naqueles olhos negros. E naqueles cabelos castanhos, e naquela pele amarronzada. Era linda. Exatamente como... Victória.

O irmão de minha irmãWhere stories live. Discover now