Fora da rotina

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Eu adquirira o estranho hábito de ficar assistindo filmes com Miguel até tarde da noite, na sala. O que em geral significava que no dia seguinte ou eu acordava absolutamente sonolenta, ou não acordava a tempo. Isso era provovado também pelo resfriado que estava me deixando mais cansada do que o habitual. Apesar disso eu não reclamava, o cansaço se limitava até o início da manhã e logo eu já estava suficientemente acordada para agüentar dois períodos seguidos de matemática.

- Retira-se a raiz, obtendo o valor aproximado...

- Com licença, professor? - A voz conhecida vinha do fundo da sala. Surpresa, eu me virei para olhá-lo.

- Sim? - O professor estava visivelmente irritado. Miguel, nada abalado, olhava sério para o professor.

- O diretor está chamando Eliza em sua sala. - O professor me olhou com intenso desagrado e fez sinal para eu me levantar, embora eu não tenha mexido um único músculo. Vicky, que estava ao meu lado, me deu um nada discreto empurrão e eu me levantei. Segui para fora da sala, minhas mãos inquietas dentro do bolso, assustada, o que eu tinha feito?

Fora do corredor da sala e do alcance dos ouvidos supersensíveis do professor Ademar, Miguel finalmente falou.

- Espero que não se importe em cabular esta última aula.

- Quê?- disse sem entender - não vamos à sala do diretor?

- Não, por quê? Você quer ir lá? Não vai dar tempo se quisermos chegar ao destino em tempo.

- Miguel, você quase me fez ter um ataque! A última vez que estive lá foi na sétima série e não foi uma experiência nada agradável. - reclamei e ele riu. - Ei, minhas coisas...

- A Vicky vai guardar.

- Afinal, onde estamos indo? - Falei quando cruzamos o corredor passando direto pela diretoria.

- Você vai ver. - Chegamos em frente ao colégio, depois de passarmos sorrateiramente pela portaria, onde o carro prateado estava estacionado com Clóvis no banco do motorista. Miguel segurou a porta do carro aberta enquanto eu entrava e depois me seguiu.

- Clóvis, obrigado por vim.

- Foi um prazer. - respondeu ele, me dando um sorriso em seguida. - Só não quero ver quando a madame descobrir...

- Eu me entendo com ela. - Miguel respondeu.

- Miguel, eu não estou entendendo nada. - admiti.

- Alguém já lhe disse que você é muito impaciente?

- Bem, você me tirou no meio da aula de matemática, eu acho que mereço certa satisfação.

- Está reclamando? Não sabia que você gostava tanto assim de matemática. - ele brincou. Fiz uma careta.

- Não gosto.

- Independente disso, não se preocupe, vamos pegar todas as anotações com Vicky e estudar quando voltarmos. - Ele disse sério. Olhei para ele incrédulo.

- Você já pensou que alguém pode estar me procurando desesperadamente por aí?

- Já, mas ninguém está. Você realmente acha que o professor Ademar está procurando você por toda a escola? - A imagem era cômica, o professor Ademar só se preocupava com duas coisas: ele e seus números.

- Meu pai?

- Eu avisei a ele. Bem... Não exatamente, ele acha que nós vamos depois da escola, mas não faz diferença. - Miguel deu de ombros.

O irmão de minha irmãWhere stories live. Discover now