Chapter 02

1.7K 219 165
                                    

Não perco tempo em carregar Aurora no colo e seguir caminho até ao bairro movimentado e frequentado por homens bêbados. Diariamente, ocorrem tráficos na zona inteira e nenhum policial se importa verdadeiramente.

A minha filha esconde o seu rosto angelical no meu peito e a sinto fungar contra o meu decote. Ela assusta-se constantemente quando grito com ela de preocupação. Ela espera sempre que um dia a castigue e a magoe sempre que me chateio, assim como o seu pai que a magoou.

A ideia assombra a minha mente da minha própria filha temer de mim.

– Vamos agora para casa e tomar um duche bem quentinho, sim? – Tento de todas as formas manter algum contacto com ela, porém ela só consegue soluçar contra o meu busto. As suas mãos pequenas e delicadas desenham corações na pele do meu pescoço.

Não paro de andar, temendo que aquele homem torne a seguir-nos e fazer algo ao meu bebé.

Com uma mão livre, levo-a até à pequena mão de Aurora e caminho-a até aos meus lábios, beijando profundamente a sua palma, respirando o seu cheiro a pó de talco e maçãs, a única fruta que tenho acesso a comprar.

Aurora sorri contra o meu peito e delicio-me com aquela sensação.

– Mamã Nico? – A sua voz doce e meiga atrai a minha atenção e preparo-me para captar qualquer pedido seu. – Podemos comer morangos? – O meu coração aperta com o seu desejo. Não tenho dinheiro para a sua fruta favorita, mas não desisto de a comprar.

– Claro, filha, tudo o que puder a mamã Nico te comprará. – Beijo o topo da sua cabeça quando finalmente entramos no bairro. Escondo a face da Aurora e a envolvo nos meus braços, certificando-me de que nenhum homem grave a imagem da minha filha e a persiga.

Ao chegar no nosso apartamento, coloco-a no chão e, quando vou a abrir a porta, Aurora abre o nosso cesto e retira de lá a água, despejando-a no vaso com as plantas já murchas que a chuva não molhou.

– Vamos tomar um duche para que eu te possa preparar o jantar. – Aurora continua com o seu olhar fixo na planta morta, tentando-a colocar de pé e sem qualquer resultado. – Quando você acabar de tomar banho, vai ter uma enorme surpresa.

Ela logo olha para mim com os seus olhos de avelã a cintilar, desejosa, mas sem me perguntar qual surpresa será. Coloca os seus braços no ar com o seu cesto. Levanto-a e a encaixo no meu colo, caminhando até à banheira.

Ligo a torneira e espero a água subir e aquecer. Aurora logo tira desesperadamente a sua roupa e entra com alguma dificuldade na água. Fecho a torneira e pego nas suas roupas.

– A mamã vai colocar as roupas aqui no lavatório para depois as lavar. Vou buscar o teu pijama lá no quarto, escolhe o shampoo que queres usar. – Ela olha perdidamente para mim e com desconfiança.

– Mas, mamã, só há aqui um shampoo. – Sorrio tristemente pela falta de opção que temos e observo o pouco de shampoo que nos resta.

– Tens de usar a tua imaginação. – Aurora acena divertidamente e logo finge escolher qual shampoo usar desta vez. Caminho até ao quarto que partilhamos e retiro de lá o seu pijama, quando volto, ela já está a tentar retirar o produto do seu cabelo sem sucesso. Sorrio para a sua dificuldade.

– A mãe Nico ajuda, filha. – Ao início, Aurora rejeita ao tentar ser independente, mas logo desiste e deixa-me esfregar o resto que sobrou, seguindo-se do gel de duche. Ao acabar, tiro-a da banheira e seco-a, enquanto preparo as suas roupas já usadas no lavatório. Devido à falta financeira, tenho de lavar à mão cada peça de roupa no lavatório.

Aurora seca-se e veste-se autonomamente, sentindo uma certa dificuldade. Preparo já os batimentos do meu coração com o que ela dirá em seguida.

– Mamã, o pijama está tão apertadinho, não consigo respirar direito! – Viro-me para si e agarro nas suas mãos pequenas.

Será Verdade?Where stories live. Discover now