Chapter 09

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Para sentir-me mais confortável com aquele vestido colado ao meu corpo, coloco uma camisa curta de tecido fino. Ao caminhar pelo campo até ao cabaré, Damian repara no meu desconforto e acompanha-me com uma mão no fundo das minhas costas.

Ao chegar na entrada, Damian caminha até às suas enfermeiras e médicas pessoais, absorvendo cada informação que as mesmas o transmitam; entro de seguida para o espaço, levando uma mão à boca.

Consigo perceber a luta que aqui ocorreu quando reparo no espaço completamente violentado; sangue escorre pelo chão, droga em pó em cima de mesas e balcão, mulheres de aventais tentam retirar cada pedaço de vidro de garrafas estilhaçadas.

Uma mulher chora num sofá, de roupa interior, mas desta vez com um cobertor em cima de seus ombros. Está rodeada de seguranças que trabalham para o Damian, claramente desconfortável.

– Por favor, eu não me lembro da cara do homem. – A mulher assustada repete constantemente, mas os homens continuam a abordá-la, irritados por não receber qualquer resposta.

– Ela acabou de dizer que não se recorda da cara do agressor. – Avanço até à multidão, atraindo os olhares de todos. Observo a mulher, que suspira de alívio com a minha presença. – Tenho a certeza que o senhor LeBlanc não irá gostar nada de saber que vocês estão perturbar uma mulher.

Os seguranças endireitam a postura e deixam a mulher sozinha.

– Obrigada, muito obrigada. – O meu coração despedaça assim como o vidro das garrafas quando a mulher se levanta ao meu alcance; sou colocada em seus braços assustados, e não posso recusar reconfortá-la.

– Vamos sentar, sim? – A mulher acena para mim e agarra na minha mão com total força, temendo que a abandone. Leva-me até ao sofá. – Eu preciso que você confie em mim! Qual é o seu nome?

Levo a minha mão ao seu cabelo e o acaricio; ao início, ela treme mas logo se permite sentir o meu toque.

– O meu nome é Claire e tenho vinte e um anos. – Estremeço ao ouvir a sua idade e não resisto à dor que sinto. – Sei que não deveria de estar aqui com esta idade, era suposto estar a estudar a seguir uma carreira! Mas fui expulsa de casa com dezasseis anos quando engravidei dos meus gémeos.

– Então e o que aconteceu depois? – Temo a resposta à minha pergunta, mas continuo a reconfortá-la.

– Era eu sozinha com os meus filhos, e tive que recorrer a estas danças para puder sustentar os meus filhos. Até que conheci o senhor LeBlanc; tive que mentir sobre a minha idade e a minha vida inteira. – Seco as lágrimas que me pairam pelas bochechas.

– Claire, eu preciso mesmo que você confie em mim para puder ajudar. – A mulher ajeita-se e respira fundo. Quando afasto o seu cabelo da cara, consigo reparar num corte fundo  na sua testa, agora fechada por pontos. O seu corpo coberto por nódoas.

– Eu estava a dançar, até que um homem começou a atirar-me dinheiro. A sua aparência era horrorosa, mas precisava daquele dinheiro para alimentar os meus filhos; por isso dancei apenas para ele em privado. – A sua voz treme, então peço que continue, mas desta vez mais calmamente. – Ele levou-me para a rua e virou-me de costas.

As suas lágrimas e soluços dominam o espaço. Tremo de ansiedade e pânico, sem conseguir imaginar a sua dor e sofrimento nas mãos daquele homem. Permito que Claire se deite no sofá e coloque a sua cabeça nas minhas pernas.

– Quando recusei o que ele queria, senti uma forte dor na cabeça e o barulho de vidro a estilhaçar... Fiquei inconsciente e só me recordo de mãos ao logo do meu corpo; não consigo mais, desculpa. – Permito-me chorar consigo, sem conseguir consolar a mim mesma.

– Não peça desculpa, nunca mais diga isso! – Levanto-a lentamente e percebo nos seus olhos cansados e inchados. Claire só consegue sentir-se bem ao meu lado, por isso não me atrevo em largá-la. – Preciso que você venha comigo, sim?

Claire assente e permite que a levante. Abraço-a e a ajudo a caminhar até à porta do cabaré. Paul e Damian olham diretamente para nós e, quando a mulher ao meu lado repara em Paul a chegar até nós, ela começa a chorar compulsivamente.

– Talvez não seja boa ideia. – Paul trava ameio do caminho e Damian analisa assustado a Claire.

– Damian, precisamos muito que conversar. – O meu olhar perfura a sua alma, o que indica a minha fúria para si. Ele engole em seco e nada diz, sem saber o que saber perante a minha presença. – Esta mulher tem gémeos de apenas cinco anos e precisa de ajuda; ela ficará na suite.

Damian concorda sem nenhuma palavra e libera a nossa passagem; caminho Claire até uma mulher, que a observa assustada mas sem questionar nada.

Quando desço as escadas em direção ao campo, ouço a voz furiosa de Damian no corredor. Os seus seguranças estão indefesos.

– Vocês tinham apenas um único trabalho de vigiar cada canto do cabaré e ficar de olho nas mulheres! – Os homens não têm qualquer permissão de falar, enquanto que Damian grita furiosamente, com uma mão na testa, claramente cansado com a situação do mafioso italiano.

– Damian. – Assim que o chamo, ele corre para mim com as suas mãos no meu rosto, questionando se estará tudo bem comigo e sem deixar de me verificar o corpo. Não é comigo que ele deveria de se preocupar, é com  Claire. – Ela contou-me tudo, só precisamos de ver as câmaras de vigilância do exterior do cabaré.

Damian assente para mim e dirige um olhar para os seus seguranças, que correm diretamente para o seu escritório. Ele agarra na minha mão e leva-me consigo; assim que lá chegamos, já estão a meio do vídeo e abrem espaço para o Damian.

As imagens assombram a minha mente.

Mas é então que percebo. É o mesmo homem que na mesma noite me atirou dinheiro, a pedir que dançasse para si.

Ele age apenas quando Claire já está inconsciente.

– Damian, esta noite, quando estava embriagada, foi o mesmo homem que me tentou atrair. – A voz treme e o olhar assustado do Damian diz tudo.  Assim que os seguranças caminham novamente até ao cabaré. Travo Damian assim que nos cruzamos.

– Você tem noção que a Claire tem apenas vinte e um anos! – Exalto-me e não resisto em gritar consigo, perdendo completamente a calma. Ele agarra-me na cintura e perco as forças quando sinto o seu poder de me controlar. Fecho os olhos e deixo-me levar pela seua respiração também alterada, que atenta controlar.

– Nicole, eu não fazia ideia da sua idade porque ela mentiu na ficha; eu já me sinto o suficientemente culpado e irei cuidar dela e dos seus filhos. Paul já foi buscar informações sobre os gémeos. – Dou socos constantes em seu peito.

– Ela mentiu a idade porque foi rejeitada pelos seus pais e tem dois filhos para alimentar! – Grito contra a sua face e permito-me exaltar ainda mais. Arranho a sua cara e esmurro ainda mais o seu peito, descontando toda a minha raiva. Nada o machuca, por isso permite que expulse todo o meu ódio por si. – Faz alguma coisa.

– Eu irei matar o responsável por isto tudo. – Ele pega nas minhas mãos e coloca-as sobre o seu coração, tão alterando como o meu.

– Você é o responsável por isto, não basta acabares com famílias por causa da droga, agora também por causa do cabaré? – Sinto as suas lágrimas no meu cabelo. Os pássaro choram em forma de melodia connosco. Ouço o seu coração acelerado, ao mesmo tempo que um carro apita descontroladamente em frente à residência.

– As crianças. – Caminho apressadamente ao longo do corredor e desço as escadas que vai dar ao portão. Paul carrega os gémeos idênticos ao seu colo, ambos exaltados e comos seus olhos inchados.

– A mamã não apareceu a noite toda, ela está bem? – Engulo as lágrima que ameaçam escorrer e tento consolá-los, levando-os até Claire.

Será Verdade?Where stories live. Discover now