Chapter 06

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Sinto o calor matinal romper pelo vidro e pairar sobre o ar fresco. O colchão tem espaço o suficiente para pelo menos quatro pessoas dormirem confortavelmente. O meu corpo tem a sensação leve de estar nas nuvens, engolida pela cama.

Tento-me recordar da noite anterior, porém sou atingida por uma forte dor de cabeça. Sento-me com dificuldade ao soltar um baixo gemido de dor. A melodia do piar dos pássaros encadeia-me, e sou consumida por um medo.

– Onde estou? – O homem sentado numa poltrona cinza ao lado da varanda não me responde, levando um copo de whisky aos lábios. Olho para o meu corpo por debaixo das cobertas igualmente cinzentas; estou apenas de calcinha uma camisa social branca como a neve. Olho igualmente para a cama ao meu lado; uma marca de um corpo de outra pessoa está lá. – Foi você que me trocou a roupa e dormiu comigo?

Aponto-lhe um dedo acusador, quando Damian limita-se apenas a dar o seu último gole, e pousar o copo vazio de cristal numa pequena mesa de vidro ao seu lado.

– A menina Nicole não esperava dormir com um vestido totalmente provocador, ou esperava? Aliás, não estava com vontade de dormir no sofá; uma cama sempre é a melhor opção. – Encosto-me ainda mais à cabeceira da cama quando Damian se aproxima de mim. – Ainda mais com uma bela companhia.

Faço uma careta ao seu comentário, mas por dentro estou a desejar ser tocada por si. Quando finalmente olho para além da janela e observo atentamente mais homens com caixas de papelão a serem carregados até à balada, lembranças pairam sobre a minha mente.

O homem caído no chão a espumar da boca.

O barulho das sirenes a todo o vapor.

A droga espalhada por todo o espaço.

Homens vestidos de terno e gravata. Sequestro. Um chefe tratado como poder superior. Drogas e morte.

Lágrimas de indignação escorrem pelo meu rosto suave e arrepiado. Assim que Damian repara na minha face chorosa e assustada, muda o seu semblante e tenta aproximar-se de mim, guiando uma mão tranquilizadora até à minha bochecha. Desvio a cabeça e levanto-me repentinamente.

Damian olha desconfiado para mim, mas não se atreve em tocar-me.

– Foram vocês... – Passo uma mão pelas lágrimas que escorreram violentamente pela minha face. – Foi por vossa causa que eu parei na merda! São vocês que andam a traficar a puta da droga toda; são vocês que andam a matar pessoas inocentes!

– Nicole, nós não matamos pessoas inocentes. São pessoas que merecem! – Abano a cabeça com a sua confissão monstruosa e corro até à porta, seguida por Damian. – Nicole, onde pensa que vai só de calcinha?

– Não fazia ideia que agora você me chamava de Nicole. – Largo a frase para o ar enquanto caminho perdidamente no corredor. Alguns seguranças olham para o meu corpo, contudo logo repreendidos pelo olhar desafiador do seu chefe. O chefe que seguem as suas ordens e matam pessoas, traficam droga e arruínam a vida de famílias. Sequestram mulheres e crianças.

Finalmente, procuro e reconheço o corredor até à suite. Assim que me aproximo, encontro a porta totalmente aberta. Deixei a minha filha sozinha com homens totalmente maníacos a noite inteira. A culpa nasce no meu ser.

– Flora, meu amor? – Procuro-a pela suite toda, até que a encontro na mesa da cozinha a comer morangos frescos com Paul e Mary. Bufo para ambos quando me aproximo de Aurora e a pego no colo. – Temos de ir embora, filha.

Assim que confesso aquelas palavras, Paul e Mary olham perdidamente para Damian, a pedir para que faça alguma coisa para me travar. Porém ele nada diz ou age, limitando-se a ficar no seu lugar. Caminho até ao quarto e pouso a minha filha no chão.

Será Verdade?Onde as histórias ganham vida. Descobre agora