03. Tipo de garota

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Nina havia acordado completamente apavorada, pois, ao olhar ao redor, percebeu que não fazia a menor ideia de onde estava e do que havia acontecido. Sua cabeça latejou quando sentou-se bruscamente na cama, os lençóis azuis escuros farfalharam com seu movimento e ela amaldiçoou a si mesma por ter se permitido encher a cara.

A luz do sol mal entrava pelo pequeno espaço entre as cortinas e ela tinha certeza que não deveria passar das 6 horas da manhã. Forçou o corpo para fora da cama e sentiu alívio ao perceber que estava completamente vestida, deu alguns passos exploratórios até a porta do quarto e a abriu com cautela.

O corredor estava em silêncio e a escuridão prevalecia, os sons de seus próprios passos ecoavam de uma forma quase alta demais. Ao chegar a sala de estar percebeu o homem jogado ao sofá de couro preto, cabelo desgrenhado caindo sobre a testa, um pequeno resquício de barba começava a surgir em sua mandíbula, mas o maldito bigode estava perfeitamente aparado sobre os lábios entreabertos.

Nina seria uma grande mentirosa se dissesse que não achava aquele homem atraente. Não era apenas a aparência física dele, era o jeito como ele falava, se movia, era toda a atmosfera ao seu redor. Javier tinha um magnetismo perigoso, ela soube no momento em que o viu. Sabia que deveria se manter o mais distante o possível, mas lá estava ela, no apartamento dele, menos de 24 depois.

Tratou de sair depressa do lugar antes que o mais velho notasse sua presença, sabia que tinha apenas algumas horas antes que seu pai acordasse e notasse que sua garotinha exemplar não estava em casa.

Cinco meses se passaram sem que Javier tivesse algum sinal de vida da filha do embaixador, o fato de ela ter ido embora de seu apartamento como se nunca estivesse estado lá o incomodava. Era quase como se aquela noite tivesse sido criada em sua mente, quase. Ele teria achado que estava ficando louco se não fosse pelo colar que encontou em sua cama naquela manhã.

—Terra pra Javier! —Steve estralava os dedos na frente dos olhos do amigo com uma expressão entediada. —Cara, fica difícil se você não vai nem fingir que está prestando atenção.

O moreno limitou-se a erguer uma das sobrancelhas para o amigo. Os dias de trabalho eram praticamente todos iguais, passavam muito tempo sentados atrás de mesas só esperando pelas notícias, nunca agradáveis, do Cartel de Medelin.

Mas aquela manhã estava sendo diferente, estavam sentados dentro do carro de Javier a pelo menos trinta minutos e Murphy não parava de falar. Os olhos do loiro não paravam um segundo se quer de correr pelas pessoas que passavam na calçada, estava se corroendo de ansiedade em ter que esperar pacientemente por qualquer sinal suspeito das pessoas  ao redor.

—Eu estou prestando atenção. —Peña retrucou enquanto ascendia um cigarro e olhava sem o menor interesse pela janela.

Caçar Pablo Escobar era definitivamente uma das coisas mais frustrantes que já haviam feito na vida. O maldito homem tinha a capacidade de estragar  tudo o tempo todo, sempre que achavam que as coisas estavam péssimas Escobar sempre poderia piorar. E muito. Em níveis inimagináveis e insanos.

—O que exatamente a  informante falou? —O loiro perguntou pela milésima vez.

—Steve, você vai saber quando ver! —O moreno já começava a perder a paciência.

—Acho  que nem você sabe o que nós estamos procurando. —Murphy soltou um murmúrio quase inaudível, mas Javier conseguiu ouvir e lhe fuzilou com o olhar.

Porém o moreno engoliu todos os palavrões que ameaçavam irromper de sua garganta e assistiu atentamente enquanto a filha do embaixador atravessava a rua  como um furacão. Os cabelos ruivos pareciam fogo líquido debaixo daquele sol escaldante, a expressão irritada em seu rosto quase a deixava mais atraente que o  normal.

The way I loved you - Javier PeñaWhere stories live. Discover now