06. Você nem faz meu tipo

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Nina não fazia ideia de como havia se metido naquilo.

Seu dia havia começado estupidamente normal, estava visitando uma comuna local com a intenção de saber se conseguiria ajuda de um dos padres com o incentivo à leitura das pessoas que ali moravam. Só não esperava que acabaria ajudando em uma espécie de hospital improvisada pela igreja.

Tentou argumentar de todas as formas, tentou dizer que não fazia a menor ideia de como cuidar de pessoas doentes, que seu diploma era em literatura, mas nada disso foi o suficiente para convencer o padre. Para ele qualquer ajuda era bem vinda.

Havia sido designada para ajudar uma enfermeira loira que não falava espanhol, ficou muito grata em ter apenas que servir como tradutora para a outra mulher que, aparentemente, também era estadunidense.

Nina desviou o olhar enquanto a loira descartava os algodões ensanguentados no lixo, não era lá muito fã de sangue. A mulher pareceu notar o desconforto da outra e sorriu.

—Meu nome é Connie, a propósito. —Um sorriso simpático marcava suas feições enquanto ela perambulava pela pequena sala.

—Nina, é um prazer. —A ruiva tentou retribuir o sorriso na mesma intensidade.

—Você é daqui? Quer dizer, você fala muito bem a minha língua, mas seu espanhol também é bem impressionante.

—Ah, sou produto americano, não se deixe enganar. —Nina falou em tom de desgosto e percebeu o olhar curioso que a mulher lhe lançava. —Está aqui há muito tempo?

—Na verdade não, tive que me mudar para cá por causa do trabalho do meu marido. —Ela explicou, parecia um pouco aliviava em ter alguém para conversar naquele lugar. —E você?

—Vim por causa do trabalho do meu pai. —A ruiva deu de ombros e observou a rua pela janela. —Mas eu gosto daqui, sabe? Não seria um lugar ruim se não fosse todo esse tráfico.

Nina percebeu a pequena mudança na expressão da mais velha, seus ombros pareciam um pouco mais retos e um sorriso forçado surgia em seus lábios.

—Acha que tem alguma chance do padre me deixar ir embora? —A garota tentou mudar de assunto e a loira parecia aliviada por isso. —Eu sou formada em literatura, não sou nada útil com feridos.

—Bem, acho que você pode ir embora na hora do almoço, se quiser. —Connie terminou de tirar as luvas e as jogou em um saco próximo. —Mas eu agradeceria muito se não fosse, é bem útil ter alguém para traduzir. Além do que, acho que pode tentar, eu sei lá, distribuir alguns livros por aí?

—Então não tem nada a ver com você está solitária nesse lugar de merda? —Nina levantou uma das sobrancelhas enquanto falava e a loira riu. —Não me entenda errado, eu também estou solitária pra caralho.

—Ah é? —Connie se reencostou a janela, ficando de frente para a ruiva. —Nenhuma amiga? Namorados?

—Na verdade eu tenho uma boa amiga, mas ela está na fase da "lua de mel" com o namorado, então não temos saido muito. —Nina abriu a janela e começou a ascender um cigarro. —E não, não tenho um namorado, mas tenho um ex psicopata. Mas e você? Em que seu marido trabalha pra ter vindo parar aqui?

Connie riu e aceitou o cigarro quando a mais nova lhe ofereceu, alguma coisa sobre aquela garota não lhe era estranha, mesmo que ela tivesse certeza que nunca havia a visto antes.

—Serviço de limpeza pra embaixada. —A loira tragou, observava o movimento da rua pela pequena janela. —Eu costumava ser enfermeira nos Estados Unidos, então achei que podia ser útil por aqui.

—Você é útil, Connie. —Nina repousou a mão sobre o braço da mulher e apertou um pouco. —Você cuida de pessoas que não tem condição de pagar por isso. Isso é extraordinário.

The way I loved you - Javier PeñaWhere stories live. Discover now