04. Delicate.

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Javier desviou o olhar quando viu um dos policiais sufocaram o homem com a sacola pela quinta vez em poucos minutos. Aquela altura ele já havia se acostumado com os métodos do Carrillo, mas não significava que gostava de fazer aquelas coisas. Torturar aqueles desgraçados era um mal necessário, era sua única esperança em conseguir amenizar sua consciência pesada.

Aquilo tudo era culpa dele. Não devia ter concordado em arriscar tão estupidamente a vida de sua informante, Helena, em troca de qualquer mísera pista. Mas estava tão desesperado por ter uma chance de colocar as mãos naqueles filhos da puta que não pensou direito quando a deixou ir até lá.

Bem, ela iria de qualquer forma, havia sido contratada. Ela e praticamente todas as outras prostitutas da cidade haviam sido levadas até Medelín para uma comemoração dos traficantes. Mas de algum jeito as coisas haviam saído do controle.

Helena deveria tê-lo encontrado quando a festa acabasse, mas as horas passaram e a garota não apareceu. Os outros policiais tentaram o convencer de que ela provavelmente já deveria estar morta, mas Peña simplesmente não podia acreditar naquilo. E foi assim que ele e Horacio Carrillo foram parar naquela rua escura.

Envolver-se emocionalmente com os informantes era um erro, ele sempre soube disso, mas também não o impediu de ir parar na cama da doce Helena mais vezes do que ele conseguia lembrar. O que começou como uma estratégia de trabalho agora era pessoal. Havia se tornado pessoal no exato momento em que ela havia parado de cobrar para transar com ele. E, por mais que ele nunca fosse admitir, ele havia começado a gostar dela em algum momento daquilo tudo. Ele lhe devia aquilo, não podia deixar que morresse em alguma rua imunda por culpa dele.

Sua mente estava completamente nublada enquanto subia as escadas silenciosamente, a arma em suas mãos parecia escorregadia devido a todo o suor acumulado na região. Carrillo ia a sua frente abrindo caminho até Deus sabe lá onde, Peña apenas esperava que a garota estivesse lá e que estivesse bem.

Em questão de segundos Carrillo estava atirando em um dos traficantes e, no instante seguinte, haviam entrado no pequeno apartamento que procuravam. Javier atirou no homem por puro insitinto protetor, o som dos tiros dos outros policiais ecoavam em sua cabeça enquanto tentava voltar a si mesmo.

A verdade é aque ele nunca ia conseguir esquecer a cena a sua frente: Helena estava encolhida sobre um colchão imundo no canto da sala, seu corpo completamente nu e machucado diziam a Javier exatamente o que havia acontecido. Ela mal se movia quando o agente jogou-se no chão ao seu lado cobrindo‐a depressa com seu colete.

-Helena? -A voz de Peña não passava de um sussurro, suas mãos tocavam o rosto da mulher com uma delicadeza absurda. -Vou te tirar daqui, ok? Prometo.

Quando a ambulância chegou e a garota foi levada para longe do agente, Javier não sabia ao certo qual sentimento o consumia. Sentia raiva, muita raiva, pelo que haviam feito com ela, mas também sentia culpa, porque ele havia deixado aquilo acontecer.

Andou até Carrillo que se encontrava em um pequeno bar na esquina do lugar, o homem estava sentado em uma cadeira dobrável enquanto tomava uma cerveja. O agente não tardou em comprar uma bebida para si e ascendeu um cigarro, queria se forçar a tirar aquelas imagens da cabeça, mas sabia que seria em vão.


Nina se quer olhava para trás enquanto corria pelas ruas desconhecidas sem rumo. Sentia-se humilhada e impotente. Quem ele pensava que era? Queria gritar em plenos pulmões até aquela vergonha passar, mas ao invés disso ela chorou.

Estava em Medelín para participar de um congresso com mais alguns colegas do mestrado, ela finalmente sentia que estava sendo levada a sério por mérito próprio, sem que as pessoas a idolatrassem por causa de seu pai.

The way I loved you - Javier PeñaOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz