Capítulo 9

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"Um pouquinho de amor no meio do caos"
De Nada rs

....

Uma semana havia se passado desde a crise vultosa de febre que atingiu Valentina .
Luiza insistiu em passar a noite velando o sono da garota naquele dia, e quando Augusto garantiu que a mesma já estava cem por cento bem, a filha sossegou.
Mas toda noite a morena ia até o quarto de Valentina levar um copo de leite como uma desculpa para saber como estava a menor aproximar-se mais dela.
Valentina se mostrava quase sempre calada lendo seus livros, mesmo Luiza tagarelando ao seu lado sempre que era possível - ou seja, todos os dias.

Quase todo o esforço de Luiza para Valentina abrir-se para ela regrediu consideravelmente.
E não comentaram nada sobre o beijo que trocaram.
A cidade estava agitada. A morte de James ainda era motivo nos jornais, e as pessoas viviam em constante alerta. Augusto e Sônia também tinham seus medos...Alguém estava cometendo esses assassinatos, e eles não sabiam quem poderia ser.
Sônia conseguiu a ficha de Valentina através de um amigo que possuía os dados em seu sistema, e todas as noites estudava tudo minuciosamente, porém não conseguia sucesso. Tudo era bem esquematizado, todavia ela não perdia as esperanças.
Já passava das onze da noite e o casal Campos se encontrava no quarto. A casa estava silenciosa, exceto por uma Luiza que caminhava a passos longos até o porão, segurando um copo com leite morno e um sorriso largo.
Seu pijama rosa estava dobrado até a canela, para não arrastar no chão, ela odiava qualquer sujeira em suas roupas.
Abriu a portinha e desceu os degraus sem emitir nenhuma palavra e se deparou com Valentina de costas, trajando apenas um top cinza e um curto short branco folgado, enquanto procurava algo na pequena cômoda ao lado da cama.
As costas alvas começavam a ganhar massa, e as costelas não estavam tão nítidas quanto antes. Luiza notou as diversas cicatrizes ao longo dos ombros e dorso e uma em especial chamou sua atenção. Era um pouco grande e grossa na lateral esquerda do quadril.
Ela se aproximou-se e tocou o local da cicatriz com a ponta dos dedos. A outra garota pulou de susto ao sentir o calor dos dedos da maior e se virou abruptamente, colocando a mão no peito.
— Oh Meu Deus, Luiza ! Quer me matar de susto? — Disparou retomando a respiração.
— Achei que já estivesse acostumada com minha presença aqui. — Disse ignorando o susto da outra . — Melhor beber tudo antes que esfrie. — Declarou, estendendo o copo de leite em direção à Valentina .
— Já me acostumei, mas não notei sua presença aqui. — Respondeu segurando o copo após vestir uma camiseta preta de mangas longas e sentou-se na cama, começando a beber o líquido branco.
— O que aconteceu para ganhar essa cicatriz? — Perguntou pulando -literalmente- na cama enquanto cruzava as pernas em posição de índio ao lado da garota menor.
— Acho que algumas meninas do reformatório conseguiram guardar um canivete sem ninguém saber, e eu fui a infeliz felizarda em testemunhar um surto de uma delas de perto. — Respondeu dando de ombros enquanto bebia o líquido morno.
— Sinto muito. — Luiza falou levando uma mão ao rosto pálido e alisando delicadamente. Valentina parou de degustar o conteúdo do copo e passou a apreciar o calor da mão da morena em seu rosto.
— Tudo bem, já passou. — Sussurrou de olhos fechados.
Luiza deu uma risadinha e aproximou-se mais de Valentina , passando o polegar na parte superior dos lábios finos.
— Estava sujo. — Declarou a maior , aproveitando e inclinando o rosto para ficar com a boca a centímetros dos lábios de Valentina. A olhos verdes ficou momentaneamente surpresa com a aproximação repentina, mas não afastou-se. Encarou as orbes brilhantes e lembrou-se do dia do beijo maravilhoso que compartilharam.
Lembrou-se do calor dos lábios carnudos.
Lembrou-se das borboletas no estômago.
Em um momento de instinto que Valentina jamais imaginara que possuía, selou seus lábios aos de Luiza e de repente tudo explodiu-se ao seu redor.

Luiza agarrou-se ao seu pescoço enlaçando seus braços com força, como se a qualquer momento Valentina pudesse cair em si e a repelir, fechando-se em seu mundo novamente.
Mas isso não aconteceu.
Valentina não se reprimiu e não repeliu o contato depois de minutos naquele beijo lento.
Os lábios se preenchiam e agora já se descobriam com mais liberdade.
Em dado momento, Valentina sentiu as mãos da maior lhe puxando até que estivesse deitada sobre o corpo moreno. Suas mãos seguravam a cintura de Luiza , e a mesma se encontrava com os braços em torno do seu pescoço.
Quando o ar teve que ser buscado, as duas se olharam por um momento, até que Luiza esboçou o sorriso mais lindo que Valentina já vira, um sorriso exuberante e iluminado. O sorriso que só era dirigido para a garota menor .
Luiza colou sua testa na de Valentina e fitou aqueles olhos verdes por um tempo que nenhuma das duas soube dizer.
— O que estamos fazendo? — Sussurrou a menor , sem se soltar da maior .
— Não consigo parar de pensar em você um momento sequer. — Declarou a morena roçando o nariz no de Valentina .
— Isso não pode acontecer, Luiza.— Disparou se soltando da morena e voltando a sentar na cama.
— E por que não? Não sente o mesmo por mim? — Perguntou confusa e frustrada.
— Sinto. Seria mentira dizer que não penso em você e que mesmo passando o dia com você, ainda desejo passar mais. Deus, Luiza ! — Valentina levou as mãos até o próprio rosto e os cobriu. — Eu gosto até de seus monólogos sobre danças. — Completou corando.
Luiza sentiu-se derreter mais do que achava que conseguiria. Era essa a sensação de apaixonar-se, então?! Ela sentia o coração batendo tão acelerado que poderia ter um infarto a qualquer segundo.
Antes que pudesse falar algo ou tampouco fazer, Valentina prosseguiu:
— Mas não tenho uma vida normal, Luiza . Não tenho família, nem sequer um documento. — Declarou para a maior, ainda com o rosto entre as mãos.
A morena segurou-lhe os dedos longos e puxou- lhe as mãos até que o rosto da menor estivesse descoberto.
Fitou o rosto levemente vermelho que fitava o chão.
— Você acha que realmente me importo com isso? Eu sei o que eu quero! Meu pai e mamãe vão te ajudar e você vai ter uma vida normal. Eu prometo. — Ela pegou a mão da menor entre as suas e apertou, dando ênfase naquilo que dizia.
— E se nada der certo, Luiza ? E se...— Valentina não teve tempo de continuar o que estava dizendo, porque novamente sentiu os lábios da menina contra os seus.
— Já disse para não pensar no futuro. Pense no agora. Em nós. — Sussurrou roçando os lábios nos da olhos verdes .
— É impossível não pensar no futuro. — Declarou dando um selinho na garota .
— Nada é impossível. Vem comigo. — Luiza puxou Valentina pela mão, enquanto subiam os pequenos degraus em direção ao porão. — Vamos esquecer os problemas. — Falou animada .
— Como? — Perguntou Valentina confusa.
— Dançando. — Respondeu de costas, enquanto colocava um CD no aparelho de som e o ajustava .
Uma música que Valentina não reconheceu começou a tocar através dos caixas de som espalhados pela sala e a acústica perfeita inebriava toda a sala do porão.
Luiza começou a cantar e dançar a música animada, e Valentina se viu perdida na maior. Era simplesmente divina. Era indescritível ver como ela dançava, a garota tinha um grande talento.
Saiu de seu transe quando sentiu a mão direita de Luiza em seu ombro esquerdo e a outra segurando sua mão. Automaticamente passou o braço esquerdo na cintura da maior e segurou em sua mão .
Começaram a rodar pelo local. Luiza agradecia pelas paredes à prova de som daquele porão. A música era alta, e as duas sorriam uma para a outra enquanto dançavam.
Valentina esqueceu de tudo. Dos problemas, da família, e até dela mesma. O sorriso largo de Luiza aquecia seu coração. Se aquela sensação era estar apaixonada, então ela estava em apuros.
Já a maior estava perdida olhando o mar verde das orbes de Valentina . Ela viu a felicidade neles pela primeira vez, e em como algumas gotinhas douradas se misturavam às verdes.
Seu coração batia rápido em sua caixa torácica. Não tinha dúvidas...Estava apaixonada pela garota à sua frente.
A música trocava e a melodia continuava animada. Em dado momento de uma música, Valentina tropeçou nos próprios pés e caiu no chão, puxando Luiza que caiu sobre si. As duas começaram a gargalhar juntas da situação.
— Me desculpe, você está bem? — Perguntou ainda rindo.
— Sim, não se preocupe. Você é um ótimo local para se cair. — Respondeu a maior cessando o riso e dando um selinho em Valentina . — Seria clichê e descomunal falar nesse momento que eu adoro beijar você? — Perguntou passando o polegar na maçã do rosto da menor.
— Seria. Mas seria muitíssimo mais clichê e descomunal falar nesse momento que quero te beijar muito mais. — Declarou corando e arrancando o sorriso iluminado de Luiza .
— Sim, seria. Mas eu também quero. — Respondeu dando um selinho em Valentina , seguido de um beijo.
Se beijaram por alguns minutos, lentamente e ainda tímidas para aprofundarem o beijo, até o ar fazer falta.
— Acho que precisamos ir dormir. — Falou Valentina , se levantando e ajudando a morena a fazer o mesmo.
— Quer dormir comigo? Digo...só dormir...uma do lado da outra, não vou me aproveitar do seu sono, eu prometo. — Disparou corando violentamente.
— Eu já disse que não te acho uma aproveitadora e nem ninfomaníaca,Lu . E eu adoraria. — Respondeu coçando a nuca.
A maior sorriu largo pelo apelido usado e viu o coração acelerar novamente.
Juntas, subiram para o quarto da Luiza . Se acomodaram na cama sob as cobertas, e a morena automaticamente apoiou a cabeça no peito da menor enquanto se aconchegava ao seu corpo .
Valentina sorriu bobamente e passou a fazer carinho nos fios longos do cabelo chocolate da garota .
— Obrigado. — Sussurrou.
— Humm...Pelo quê? — Perguntou a morena já sonolenta com os afagos em seu couro cabeludo.
— Por me fazer lembrar o que era felicidade. — Declarou olhando para o teto.
— Eu que agradeço. — Respondeu a maior .
— Por que? — Valentina perguntou confusa.
— Por me deixar ser a sua felicidade. — Declarou beijando a bochecha da menor e voltando a cabeça para o peito dela , enquanto dormia com um sorriso nos lábios.
Valentina beijou a cabeça de Luiza , estava feliz como não se sentia em anos.
"Luiza era uma luz no fim do túnel escuro que se tornou a minha vida" Valentina pensou antes de dormir...

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